Desvalorização do yuan pela China pode impulsionar desvalorizações competitivas
A decisão de Pequim neste ano de manter o yuan estável ante o dólar estava em contraste com o quadro em Europa, Brasil, Japão, Turquia, África do Sul e outras nações emergentes, que usaram em geral uma combinação de medidas extraordinárias de estímulo e cortes nos juros para enfraquecer suas moedas. As expectativas de que os Estados Unidos irão em breve elevar seus juros elevam a pressão para baixo sobre uma série de moedas, enquanto o dólar se valoriza.
O Banco do Povo da China (PBOC, na sigla em inglês), que controla fortemente a moeda com uma banda cambial, decidiu não seguir seu padrão recente, em parte porque tenta promover o yuan como uma moeda internacional estável e porque teme que a instabilidade interrompa os investimentos.
Nesta terça-feira (hora local), o PBOC agiu para desvalorizar em 2% a taxa fixada do yuan ante o dólar. Também disse que permitirá que o mercado tenha um maior papel para estabelecer o valor da moeda, o que pode resultar em mais desvalorizações.
A medida deve elevar a pressão sobre muitos países por cortes em suas taxas de juros e desvalorizações cambiais. Os EUA, que já consideram o yuan abaixo de seu valor de mercado correto, devem elevar suas críticas à política cambial chinesa, que muitos no Congresso norte-americano acusam de prejudicar os exportadores dos EUA. O resultado também pode ser um desconforto maior sobre o impacto do dólar mais forte para as indústrias dos EUA.
"Em termos de forças competitivas, isso eleva as apostas. Não é uma guerra per se, mas sobre manter a competitividade. Muitos mercados emergentes têm usado esta válvula", avaliou André da Silva, diretor de estratégia global de taxas de juros do HSBC Holdings, comentando as desvalorizações cambiais.
A pressão para desvalorizar moedas deve ser particularmente intensa em outras nações asiáticas, que exportam muito para a China ou competem com os chineses em outros mercados. As moedas da região da Ásia e do Pacífico caíram na terça-feira, notavelmente o won sul-coreano, o baht tailandês e o dólar australiano. Muitos países asiáticos já cortaram os juros neste ano e podem ser forçados a adotar mais ações nos próximos meses.
"O Banco do Povo da China encorajará os bancos centrais asiáticos que são também parceiros de comércio próximos da China a segui-lo", disse Wai Ho Leong, economista do Barclays na Ásia.
A pressão por um afrouxamento monetário deve ser particularmente intensa na Coreia do Norte, que compete com a China em mercados globais. O crescimento do país tem sido desapontador neste ano e o governo tem confiado num won mais fraco e em cortes nos juros para uma reação, que ainda não se materializou. Uma autoridade do Banco da Coreia disse que a desvalorização do yuan deve pressionar mais para baixo o won, mas não disse se a instituição considera cortar mais os juros, advertindo ainda para o fato de que um won muito fraco pode provocar fuga de capital.
A desvalorização também prejudica países que exportam grandes quantidades de commodities e produtos manufaturados para a China. Grandes exportadores de soja, carvão, níquel e minério de ferro, como Brasil, Austrália e Indonésia, já sofrem com os preços em mínimas das commodities em vários anos e agora podem ser impactados pelo yuan mais fraco, já que isso reduz a demanda chinesa. O dólar australiano recuou mais de 1% nesta terça-feira. Fonte: Dow Jones Newswires.