BC criou uma armadilha para si mesmo ao fixar meta de 4,5%, diz Póvoa
No primeiro caso, se o BC continuar perseguindo a meta de 4,5%, terá de subir ainda mais os juros. Assim, estaria "colocando lenha na fogueira", prejudicando a atividade econômica e acelerando a expansão da dívida pública, tornando mais difícil para o governo atingir as metas de superávit primário. "Todos esses fatores juntos concluem o quadro cada vez mais provável de rebaixamento da nota de rating do Brasil no segundo semestre de 2016", diz Póvoa em relatório enviado a clientes.
Para o economista, a segunda hipótese, de abandonar o compromisso com o centro da meta, mesmo após todo o discurso mais duro, conservador, recente, é a mais indicada. "Vão os anéis e ficam os dedos", resume. Segundo Póvoa, medidas recentes do BC, como a retórica contra o "exagero" na desvalorização do real e retrocesso no processo de redução da rolagem dos swaps cambiais, mostram o evidente desconforto da autoridade monetária com a armadilha em que se encontra.
O analista da Canepa diz que, nesse contexto, o BC provavelmente suavizará aos poucos seu discurso duro e manterá a Selic em 14,25% na próxima reunião. Na sequência, à medida que as projeções de crescimento para 2016 caiam ainda mais, haverá certo alívio nas projeções de inflação para o próximo ano. Já no fim de 2015, a autoridade começará a ser pressionada a baixar os juros. "A correção de parte da elevação exagerada da Selic para 14,25% ao ano virá antes que o mercado projeta, frustrando as expectativas do BC de deixar a taxa estável por um longo período", opina.
Ele conclui lembrando que, em determinadas situações, com uma enorme crise política, a economia se deteriorando e chances crescentes de rebaixamento de rating, não há muito o que a política monetária possa fazer. "Não ser pró-cíclica nesse momento delicado já representa uma enorme ajuda".