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Íntegra da entrevista com Sérgio Leite, presidente da CSP

01:30 | 18/06/2015
O POVO – Em que situação está a obra da CSP?

Sérgio Leite - Nós estamos hoje com cerca de 75% dos ativos físicos construídos. Mas é sempre bom lembrar que a CSP é um projeto integrado. Ele tem uma construção física e, ao mesmo tempo, você tem a formação de uma empresa com todas as suas unidades de negócios. A companhia está muito conectada com o exterior. A gente vai receber cerca de 7,5 milhões de toneladas/ano de matéria prima. No total são 10 milhões de toneladas, porque 2,5 milhões de toneladas são para a usina térmica. Já as exportações serão 3 milhões de toneladas por via marítima.

OP - Isso soma quanto em dólares?

Sérgio - O preço é muito flutuante. Mas estamos falando de uma movimentação na ordem de US$ 2 bilhões de entrada e saída produtos e matéria-prima.

OP – E como estão as obras tocadas pelo Governo do Estado para uso da CSP?

Sérgio - São obras para a entrada e saída de materiais – minério de ferro, carvão e aço. Elas estão com alguma coisa perto de três a quatro meses de atraso. Nós estamos discutindo com o Governo um plano de recuperação de atraso. Temos reuniões periódicas, com uma agenda bastante positiva e estamos trabalhando para recuperar esses prazos.

OP – Ainda assim, vocês mantém a previsão inicial de operação?

Nossa previsão é para 2016. Ao longo do ano, a gente terá atingimento da produção plena.

OP – Desde o início, a CSP frisa que toda a produção será das sócias. Mas o cenário econômico - nacional e internacional - está instável. Isso fez algo mudar?


Sérgio - O nosso mercado, hoje, chama-se sócios. O que a gente observa é que vamos ter que fazer alguma adequação nos nossos produtos. A gente está pensando numa especificação para um determinado mercado, mas aquele mercado muda e você tem que readequar suas operações para atender a outra especificação. Por exemplo, ao invés de destinar aço para uma indústria automobilística, eu vou destinar para uma indústria naval. Então muda a aplicação do produto.

OP – Vocês foram procurados por alguma empresa nacional com demanda por parte da produção da CSP?

Sérgio – Para deixar parte da produção aqui, precisaríamos de um absorvedor, que se instale aqui e que tenha necessidade do nosso produto. Havendo oportunidade ou necessidade, fatalmente você vai fazer. Ainda não fomos procurados. Conversamos, um tempo atrás, sobre a possibilidade de uma laminadora aqui. Mas isso, por enquanto, é só conversa.

OP – Algo como o projeto da Aço Cearense, que planeja uma laminadora no Pecém?

Sérgio - É, o projeto seria nesse nível.

OP – No início da implantação da CSP existia muita expectativa nos fornecedores locais. Depois, isso virou certa frustração. Quanto vocês estão comprando das empresas cearenses?

Sérgio - Estamos trabalhando os dois vetores que o Ceará possui, de oportunidade concreta e potencial. O Ceará nos oferece, hoje, calcário, de primeira qualidade. Também estamos atraindo parceiros para cá, como a White Martins. Estamos com 400 contratos em negociação. Muitos podem deixar de ser apenas nossos fornecedores para se tornarem investidores no Estado. Temos também um programa de desenvolvimento de fornecedores de muito impacto. Para nós, ter um fornecedor aqui é muito melhor que trazer de longe. Agora, nós podemos incentivar, mas a iniciativa também é do fornecedor.

OP – E eles estão tendo a iniciativa?

Sérgio - Tem muita coisa que a gente já está colocando aqui. Mas é um empreendimento muito singular. Então ainda há muito aprendizado.

OP – Existia a expectativa de quase R$ 500 milhões em compra de fornecedores locais. Esse número se mantém?

Sérgio – Isso depende da resposta dos contratos. Por exemplo, cal e calcário já comprados da região.

OP – Isso quer dizer que depende de preço e qualidade?

Sérgio – Exatamente. Existe uma necessidade de competitividade.

OP - Vocês receberam, recentemente, a injeção de US$ 3 bilhões. Isso foi para manter o projeto?

Sérgio – Esse recurso já estava previsto. A CSP foi um projeto concebido para ter cerca de 50% de capital próprio e 50% de capital financiado. Isso foi a consolidação de uma previsão. Nós já temos celebrado o acordo e já chegou a primeira parcela.

OP - Em algum momento, o projeto foi reavaliado, ameaçado ou houve a possibilidade dele não ser passado adiante?

Sérgio - Nesse tempo em que estou aqui, um ano e três meses, não. Não tive conhecimento dessa reavaliação.

OP – Vocês tem 12 mil empregados no site da CSP. São estrangeiros e brasileiros. Com frequência, surgem conflitos, com denúncia de agressão inclusive. Como vocês administram isso?

Sérgio - A parte social no canteiro de obra é fundamental. Esse é o desafio de todo dia a manutenção na parte social. É um desafio para os autores, sejam empresas, as contratadas, empregados, sindicatos... Esse é o grande desafio de se implantar qualquer coisa, principalmente quando você tem culturas diferentes. A nossa atitude é de suporte às nossas contratadas, porque os empregados são das contratadas, não são da CSP.

OP – Mas existe uma responsabilidade solidária.

Sérgio - O que a CSP tem que fazer é buscar auxiliar na criação dessa harmonia, dessa paz social. No passado, já houve muito problema, mas hoje não mais.


OP - Vocês estão formando esses operários para trabalhar na siderúrgica?

Sérgio - Vamos abrir uma oportunidade sim, para algumas especializações, seja para empregados próprios, e também para muitas contratadas que nós vamos ter trabalhando permanentemente conosco.


OP - Como é que está a relação de vocês com o setor metal mecânico local, com o Simec?

Sérgio - É uma relação muito harmônica e positiva. A gente está em permanente diálogo, participa, somos membros efetivos não só dentro do setor metal mecânico, mas inserido no conjunto do Estado, no CIPP, nos órgãos governamentais, nas entidades de classe.
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