Concessionárias podem se beneficiar com o pacote de concessões
Parte dos investidores esperava um anúncio mais firme de assinatura de aditivos ontem, mas o governo apenas indicou as negociações em andamento, o que executivos das empresas e alguns especialistas consideraram positivo, como uma sinalização mais clara de que o governo efetivamente quer chegar a um acordo e conta com esses investimentos para impulsionar o setor.
Para os profissionais do Bank of America Merrill Lynch, alguns aditivos podem ser assinados ainda no segundo semestre deste ano, enquanto outros devem ficar para 2016. O banco não indicou quais negociações espera que sejam concluídas em 2015, mas destacou a inclusão de obras da concessionária Nova Dutra, da CCR, que exigiriam investimentos de R$ 2,3 bilhões. "Detalhes sobre as compensações ainda faltam neste estágio, mas são esperadas. A compensação seria em extensão de prazo ou aumento da tarifa", comentou a equipe de análise do Bofa.
O próprio presidente da CCR, Renato Vale, disse ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, que as discussões estão avançadas, com negociações sobre minuta de aditivo e fluxo de caixa marginal "praticamente concluídas". "A questão agora é partir para decidir isso", afirmou, defendendo que se o aditivo for assinado no próximo trimestre, a CCR Nova Dutra poderia iniciar as obras ainda este ano.
O Credit Suisse estimou que esse aditivo na Nova Dutra poderia adicionar entre R$ 0,25 e R$ 0,30 por ação ao valor presente líquido (NPV, na sigla em inglês) da CCR. E lembrou que atualmente essa concessionária é avaliada em R$ 1,0/ação, o que corresponde a aproximadamente 8% do valor líquido do ativo (NAV, na sigla em inglês) CCR.
A casa também destacou o potencial de aditivos para Arteris e para a Rumo. No caso da Arteris, o governo listou potenciais obras adicionais em quatro de suas concessões federais existentes, somando R$ 5,2 bilhões em investimentos. Considerando uma taxa de retorno marginal entre 7% e 10%, o Credit calculou um NPV potencial adicional de R$ 2,5/ação a R$ 4,5/ação para a companhia, o que corresponde a uma criação de valor de entre 25% e 45%.
Já o Brasil Plural calcula um potencial de criação de valor de R$ 7,3/ação da Arteris, considerando a TIR real desalavancada de 8%. "No entanto, lembramos que a companhia dificilmente poderia investir tal montante de capital sem ver suas taxas de alavancagem subir substancialmente, o que pode requerer injeção de capital", lembraram os analistas Italo Ferrara e Lucas Barbosa.
No caso da Rumo, o Credit lembrou que apesar da queda de quase 7% das ações da concessionária de ferrovias ontem, em meio à decepção com um anúncio mais firme sobre a renovação dos contratos, as negociações com a agência regulatória (ANTT) e com o Tribunal de Contas da União (TCU) estão "muito avançadas", segundo apuraram. A equipe do Brasil Plural calculou que o investimento adicional da Rumo em troca da renovação da concessão, da ordem de R$ 4,6 bilhões, deve adicionar R$ 0,5 por ação, considerando uma taxa interna de retorno real, desalavancada, de 7,9%.
O Brasil Plural também citou Santos Brasil e Log-In como potenciais beneficiárias de aditivos de contrato. A primeira busca a renovação do arrendamento do Tecon Santos, que foi mencionado como um dos projetos previstos, com investimento de R$ 3,16 bilhões. O montante está em linha com o que foi anunciado pela companhia no ano passado e já foi aprovado pela agência reguladora, a Antaq.
"Nenhum detalhe foi dado se a renovação já foi concedida ou não - esperamos um anúncio no curto prazo", comentaram os analistas, que calcularam uma TIR de 6% neste caso, o que não adicionaria valor para as units da Santos Brasil neste momento, tendo em vista o atual cenário operacional do terminal. "No entanto, se o terminal ganhar novos serviços de navegação, e aumentar a eficiência, a importância da renovação cresce exponencialmente", acrescentaram.
No caso da Log-In, os profissionais notaram que a renovação da concessão do Terminal de Vila Velha (TVV) também foi incluída no pacote de investimentos portuários, com investimentos de R$ 148,4 milhões, o mesmo número que a companhia anunciou em dezembro passado. "Se o governo conceder a renovação em troca desses investimentos, calculamos um adicional de R$ 0,5/ação para Log-In ON", disseram, considerando uma TIR de 9,2%.