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G-20 fecha prazo para Mecanismo de Estabilização da UE

22:40 | 26/02/2012
Em clara pressão à Alemanha, o G-20, grupo das maiores economias do mundo e algumas emergentes, definiu ontem ser 31 de março o prazo máximo para os países europeus fecharem um acordo sobre o volume de recursos do Mecanismo de Estabilização Europeu, a nova "muralha" regional de proteção contra os efeitos da crise da dívida soberana.

Previsto para o encontro do México, o aporte adicional de US$ 500 bilhões para o Fundo Monetário Internacional (FMI) foi adiado para abril, durante o encontro de primavera do organismo.

Ambas as decisões constam do documento final do encontro de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais dos sócios do G-20. O FMI considera apropriada a injeção de US$ 1 trilhão no novo Mecanismo de Estabilização Europeu (ESM, na sigla em inglês), a entrar em operação em 1º de julho. No texto, porém, o G20 preferiu omitir qualquer valor.

"Os países da zona do euro vão reavaliar o poder de seus mecanismos de apoio em março. Isso vai dar um reforço essencial à nossa intenção de mobilizar recursos para o FMI", informou o comunicado.

Combinados, o ESM e o FMI teriam total de US$ 2 trilhões para acudir os países mais endividados e pressionados pelos mercados em uma época de crescimento moderado, de riscos altos e de incerteza sobre a expansão econômica em médio prazo.

Embora seja equivalente ao somatório das dívidas da Itália, o valor é considerado suficiente para evitar o colapso de nações europeias e, consequentemente, do setor financeiro mundial.

Nas reuniões do G-20, o Brasil, a Rússia, a Índia e a China (que formam o Bric) condicionaram seus novos aportes ao FMI à criação de um ESM mais poderoso. Também exigiram e conseguiram obter a preservação do plano de 2010 de reforma das cotas do FMI, no qual os países emergentes teriam garantido espaço maior de influência nas decisões do organismo.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu ser necessário o aumento do poder de fogo do FMI também para amparar as economias emergentes mais vulneráveis ao atual compasso lento da economia mundial e à possibilidade de sua desaceleração. "Temos de nos precaver", afirmou ele, pouco antes de embarcar de volta para o Brasil.

A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, seguiu a linha do G-20, mas afirmou não ser "obsessiva" sobre o aporte a ser realizado. Para ela, uma vez tomadas "decisões concretas" pelos europeus, haverá rápida definição sobre os recursos adicionais para o FMI.

A injeção de dinheiro no Fundo deve se dar por meio de empréstimos dos seus membros, como em 2009, e de compra de bônus da instituição. "US$ 500 bilhões é um bom número", afirmou. "Não ouvi nenhum membro do G-20 se opor (a essas iniciativas)", completou Lagarde.

A proposta a ser negociada a partir do dia 1º, em Bruxelas, prevê a combinação do ESM ao Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF), a ser extinto até o fim de junho. Embora não tenha recursos disponíveis, o EFSF dispõe de 250 bilhões (US$ 331 bilhões) em garantias de governos europeus, a serem convertidas em recursos efetivos em situações de necessidade.

O ESM, em princípio, teria de receber diretamente ao menos 500 bilhões (US$ 663 bilhões) para que, no total, tenha uma envergadura apropriada para proteger a região. No encontro do G-20, a Alemanha propôs dar sua contribuição em duas parcelas. O avanço foi o seu aval, ainda suscetível a mudanças, à combinação do ESM ao EFSF.

As decisões sobre o aporte de mais recursos enfrentam a resistência da opinião pública. Hoje, o Parlamento alemão deverá votar o segundo pacote de ajuda à Grécia, de US$ 170 bilhões, acordado na semana passada. A perspectiva é de aprovação desse novo socorro. Mas deve se tornar mais difícil para o governo de Angela Merkel obter o aval da população e do Congresso a um novo fundo europeu com maior poder de fogo.

"Eu espero um resultado no decorrer de março", afirmou ontem o comissário europeu para Economia e Política Monetária, Olli Rehn. "Todos na zona do euro e mesmo na União Europeia estão razoavelmente felizes com a combinação do ESM ao EFSF, até mesmo a Alemanha", disse Margrethe Vestager, ministra de Economia da Dinamarca, país atualmente na presidência temporária do bloco europeu.

Petróleo. Os ministros do G20 mostraram-se relativamente otimistas com o desempenho da economia mundial neste momento e, em boa medida, deram o crédito às decisões mais rápidas e agressivas tomadas pelos europeus desde o final de 2011.

Em especial, no socorro financeiro à Grécia e na renegociação de sua dívida soberana. Porém, alertas foram disparados pelo G20 com relação ao impacto do aumento das cotações de petróleo, provocado pela crise do Irã.

"Os riscos continuam. A economia mundial não está fora da zona de perigo", afirmou Lagarde. "O preço do petróleo subiu 20% em um curto espaço de tempo e traz impacto e preocupações tanto para economias avançadas como para os países de menor renda. Pode trazer maiores consequências", completou.

A preocupação com a alta do petróleo, cuja cotação foi fechada a US$ 110 por barril na última sexta-feira, foi explicitada no documento do G20, assim como o compromisso de países produtores "continuar a assegurar um suprimento adequado". Segundo Lagarde, a Arábia Saudita sinalizou com o possível aumento de suas exportações para "reequilibrar" os preços.

Ainda assim, o G20 deixou claro haver outros componentes de risco presentes no cenário. Apesar de ter reduzido, a volatilidade dos mercados financeiros continua elevada demais, segundo a avaliação expressa no documento, e os riscos laterais continuam altos, como é o caso do preço do petróleo.

A economia mundial ainda está imersa em problemas estruturais, no reequilíbrio insuficiente entre países com déficit e os com superávit em conta corrente, o endividamento público e privado mostra-se elevado. Além disso, há incertezas sobre o fortalecimento do crescimento mundial em médio prazo.

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