Servidores do IFCE decidem recusar a retomada do calendário acadêmico de forma remota

A decisão tomada via assembleia representa professores e técnicos de 30 dos 33 campi do IFCE. Avaliação é de que as aulas online prejudicariam alunos sem acesso a internet

23:58 | Jun. 09, 2020

Campus do IFCE em Fortaleza (foto: Divulgação)

Atualizada às 12h34min de 10/06/2020

Durante Assembleia Geral na noite desta terça-feira, 9, servidores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) decidiram recusar a retomada do calendário acadêmico da instituição de forma remota. A decisão veio porque os funcionários avaliaram que o retorno com aulas online prejudicaria alunos que não possuem acesso à internet. A gestão do IFCE definiu o início da construção dos novos calendários no começo deste mês e deu aos campi prazo até a próxima sexta-feira, 12, para a apresentação dos novos planejamentos acadêmicos.

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Além da recusa, os servidores aprovaram a possibilidade de construção de greve e resolveram ingressar com ação judicial contra o Instituto para barrar o trabalho e o ensino remoto, que, segundo o Sindicato dos Servidores do IFCE (SindIFCE), está sendo imposto sem diálogo. A decisão tomada em assembleia representa professores e técnicos de 30 dos 33 campi do IFCE. As unidades de Iguatu, Juazeiro do Norte e Crato ainda realizarão as próprias reuniões.

Algumas unidades já retornaram parcialmente atividades, de forma virtual, como Fortaleza, que retornou nessa segunda-feira, 8. De acordo com o SindIFCE, a pesquisa realizada pela reitoria sobre a possibilidade do ensino remoto não reflete as reais condições de acesso à internet dos estudantes e nem a dos professores.

Na assembleia, os servidores aprovaram a solicitação dos resultados detalhados da pesquisa ao Instituto com o objetivo de construir, junto a informações colhidas pelo SindIFCE, um "painel da real situação dos estudantes e dos empecilhos para o ensino remoto".

"Vários servidores destacaram na assembleia a realidade de total falta de condições para ensino remoto e retomada do calendário. Com estudantes sem acesso à internet, em vários municípios e distritos cearenses, sem computador ou celular adequado, sem local em condições para assistir a aulas em casa e até em situação de insegurança alimentar, dados os efeitos econômicos e sociais da pandemia", diz nota do sindicato.

De acordo com David Montenegro, professor do IFCE e integrante da diretoria do sindicato dos servidores, o contexto da crise sanitária, econômica e social gerada pela pandemia do novo coronavírus afeta diretamente a comunidade acadêmica. Aliada à dificuldade do acesso à internet, o processo de retomada se torna complicado, avalia.

"A maior parte dos nossos estudantes de Fortaleza e Região Metropolitana vêm das áreas mais vulneráveis da cidade, portanto são filhos de famílias que perderam seus empregos, tiveram redução de renda e portanto já estão sofrendo muito com esse processo desencadeado pela pandemia. Um outro ponto crucial é a exclusão digital que atinge entre 30% a 35% da nossa comunidade acadêmica. E o IFCE tem diversos campi no interior do estado, com a maior parte desses alunos vindos de pequenos distritos, o que dificulta muito o acesso à internet", pondera o docente.