Carta das Infâncias é redigida por crianças e adolescentes na COP30

A produção, desenvolvida coletivamente, expressa as reivindicações dos jovens participantes globais acerca do debate climático

20:29 | Nov. 18, 2025

Por: Penélope Menezes
Carta das Infâncias: documento foi produzido por crianças e adolescentes na conferência. Na foto, os mascotes Curupira e Zé Gotinha em evento que reuniu crianças na COP30 (foto: Fabíola Sinimbú/Agência Brasil)

O protagonismo de crianças e adolescentes na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA), impulsionou a elaboração da Carta das Infâncias no último sábado, 15. A documentação reivindica a atuação juvenil no debate relativo à justiça climática.

Cerca de 600 participantes, de até 17 anos, atuaram na produção da carta, desenvolvida de forma coletiva como parte de movimento na Cúpula dos Povos. Durante cinco dias, crianças e adolescentes de diferentes regiões apontaram relatos sobre como as mudanças climáticas alteraram a sua rotina.

“As crianças da COP não falam de um futuro distante. Falam do presente, onde seus direitos básicos são ameaçados. Por isso, é essencial que sua participação seja garantida nas decisões que moldam o amanhã – assim como preconiza o Marco Legal da Primeira Infância”, afirma Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

A organização, que trabalha pela causa da primeira infância, faz referência à Lei nº 13.257/2016 (atualizada pela Lei nº 14.880/2024). A legislação prevê o estabelecimento de políticas públicas com atenção aos primeiros anos de vida, abrangendo crianças de até seis anos.

“Escutar e cuidar das crianças não é um gesto simbólico — é um princípio democrático e ético. E isso vai desde ‘plantar mais árvores, proteger os rios e cuidar das florestas’, como elas pedem na carta, até colocar suas necessidades no centro das políticas públicas de mitigação e proteção”, completa Mariana.

Presidência brasileira da COP30 publica primeiro rascunho de compromisso | LEIA MAIS

Carta das Infâncias: saiba mais sobre o conteúdo do documento

A Carta das Infâncias, aprovada em plenária final no sábado, 15, reúne a juventude de “muitos lugares do Pará, da Amazônia e de outras partes do Brasil e do mundo” em apelo coletivo diante do debate climático.

“Viemos de lugares quentes, bairros apertados, ilhas, comunidades ribeirinhas, territórios indígenas e quilombolas, cidades grandes, casas simples e escolas que nem sempre têm sombra e ventilação”, informa o parágrafo inicial.

Para garantir a manifestação de todos os presentes, inclusive crianças da primeira infância (de até seis anos), especialistas adaptaram a metodologia. Segundo informe da Cúpula dos Povos, jogos e brincadeiras foram empregados, levando os bebês a interagirem em espaços com a natureza.

“Durante a Cúpula dos Povos, a gente se organizou em dois tempos. Um tempo de acolhimento, onde recebemos todas as crianças que vieram com as suas delegações, com seus pais e também aquelas que vieram com as nossas organizações da sociedade civil. Então, em tempo integral, realizamos atividades formativas”, diz o professor Salomão Hage, da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Parte da coordenação da Cúpula da Infância, Hage explica que os jovens tinham uma programação específica e, nesse mesmo período, as lideranças juvenis e infantis se reuniram para sistematizar a Carta das Infâncias.

“A carta é a expressão do que as crianças querem dizer ao mundo. E elas têm muita coisa a dizer”, reflete o professor. “Infelizmente, vivemos em uma sociedade adultocêntrica, e os adultos acham que as crianças não entendem, não estão preparadas”.

O conteúdo produzido pelos jovens e crianças será encaminhado a representantes da sociedade civil, governos, delegações internacionais e organismos que atuam na COP30.

Em seus parágrafos finais, as 600 vozes que compõem a carta não escondem as prioridades da juventude: “Exigimos ajuda para proteger a Amazônia, para cuidar da Terra, para que as próximas crianças e adolescentes não tenham medo do calor, da fumaça, da falta d’água, da extinção dos animais. Para que elas possam desenhar florestas vivas — não florestas morrendo”.

(Com informações da repórter Alexia Vieira/O POVO)

Da periferia à COP30: Marcele Oliveira leva justiça climática ao centro das negociações globais | LEIA MAIS