Estudo revela alterações no sangue associadas à gravidade do transtorno bipolar
Pesquisa indica que alterações em proteínas do sistema imune e inflamatório podem explicar maior mortalidade em pacientes com o transtorno bipolar
14:35 | Ago. 02, 2025
Uma pesquisa conduzida por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Hospital de Clínicas de Porto Alegre traz novas luzes sobre a complexidade biológica do transtorno bipolar. Utilizando tecnologia de ponta em análise proteômica, o estudo identificou alterações significativas no perfil de proteínas do sangue de pacientes com a doença, especialmente entre aqueles em estágios mais avançados.
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A pesquisa, liderada pela professora Adriane Ribeiro, do Departamento de Farmacologia da UFRGS, comparou amostras sanguíneas de 15 indivíduos divididos em três grupos: pacientes com transtorno bipolar em estágio inicial, em estágio avançado e um grupo controle composto por pessoas saudáveis.
“Nosso objetivo era entender se havia diferença na expressão proteica entre pacientes com quadros leves e avançados da doença. E o que encontramos foi impressionante: enquanto o grupo com quadro inicial apresentava alterações em oito proteínas, o grupo avançado teve cerca de 30 proteínas alteradas, principalmente associadas ao sistema imunológico e inflamatório”, explica Adriane.
O corpo também adoece com o cérebro
Os resultados reforçam a ideia de que os transtornos psiquiátricos não afetam apenas o cérebro. A análise revelou alterações em proteínas relacionadas ao sistema do complemento (imunidade), inflamação, e até à coagulação sanguínea, indicando que o corpo de pacientes com transtorno bipolar grave também sofre alterações fisiológicas importantes.
“Isso pode ajudar a explicar por que esses pacientes desenvolvem comorbidades como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares. Essas condições estão diretamente ligadas à mortalidade precoce observada em pessoas com transtorno bipolar”, destaca a pesquisadora.
Tecnologia avançada foi essencial para o estudo
O estudo utilizou técnicas de espectrometria de massas, capazes de identificar centenas de proteínas no sangue a partir de uma única amostra. Trata-se de uma tecnologia semelhante à usada no sequenciamento genético, mas voltada para o mapeamento de proteínas, moléculas essenciais para o funcionamento celular.
“As proteínas são como engrenagens da nossa máquina biológica. Ao entendê-las, conseguimos pistas sobre o que está acontecendo no organismo desses pacientes”, destacou Adriane.
Além de fornecer novos entendimentos sobre a progressão da doença, os resultados abrem caminho para o desenvolvimento de biomarcadores específicos, que futuramente podem auxiliar no diagnóstico de transtornos psiquiátricos por meio de exames laboratoriais algo ainda inexistente na medicina atual.
“Hoje, o diagnóstico de transtornos como o bipolar é clínico, baseado em entrevistas e observações. Se conseguirmos identificar marcadores biológicos confiáveis, poderemos oferecer diagnósticos mais rápidos, precisos e personalizados”, explica.
Novas doenças estão sendo estudadas
Apesar do número reduzido de participantes, apenas cinco em cada grupo, o estudo é considerado um marco exploratório, um ponto de partida para pesquisas mais robustas com amostras maiores.
Segundo Adriane Ribeiro, a equipe já está trabalhando em novos estudos, ampliando a análise para outras condições psiquiátricas, como depressão e tentativas de suicídio, e investindo em outras tecnologias moleculares, como a metabolômica, que analisa os subprodutos químicos do metabolismo humano.
“A metabolômica nos permite entender como o ambiente, o estresse e a alimentação interagem com a biologia do paciente. Isso é fundamental para uma abordagem mais completa e personalizada da saúde mental”, afirma.
O estudo, que levou cerca de quatro anos para ser concluído, envolveu diversos pesquisadores, com o objetivo de revolucionar o entendimento biológico dos transtornos mentais e suas consequências sistêmicas.