Biólogo brasileiro participará de missão da Nasa para estudar o cérebro humano
O estudo visa estudar doenças neurológicas como autismo e Alzheimer
21:31 | Jul. 24, 2025
O biólogo e professor Alysson Muotri, natural de São Paulo, participará de uma missão espacial da Nasa prevista para o fim de 2025 ou 2026. A bordo do foguete Falcon 9 da SpaceX, Alysson viajará rumo à Estação Espacial Internacional (ISS) acompanhado por quatro astronautas para estudar o impacto da microgravidade no cérebro humano.
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A pesquisa de Alysson na ISS terá como base experimentos com “mini cérebros”, organoides cerebrais criados em laboratório que simulam o desenvolvimento e as funções do cérebro humano.
Estes organoides, produzidos a partir de células-tronco pluripotentes induzidas (IPS), já foram enviados ao espaço em 2019. No entanto, pela primeira vez, um cientista estará presente para realizar estudos diretamente na estação, o que permitirá uma investigação detalhada dos efeitos da microgravidade sobre o cérebro.
Estação vai servir como uma incubadora para o aceleramento da senescência celular
“O Alzheimer, por exemplo, leva 70, 80 anos para mostrar alterações clinicamente, como a perda das sinapses. Eu não tenho esse tempo em laboratório. Os organoides voltarão com idade avançadas, mostrando sinais de um envelhecimento acelerado”, informou Alysson ao portal Estadão.
O projeto tem como foco investigar o envelhecimento celular e o desenvolvimento de doenças neurológicas, como Alzheimer e autismo. Parte dos organoides foi desenvolvida com células de crianças autistas, o que permitirá observações inéditas sobre alterações neurológicas relacionadas ao transtorno.
Além de cientista, Muotri é pai de uma criança autista. Sua trajetória acadêmica inclui graduação em Ciências Biológicas pela Unicamp, doutorado pela USP e uma carreira de destaque nos Estados Unidos, onde fundou o Muotri Lab, referência internacional em neurociência.
Seu trabalho tem o apoio de instituições como o National Institutes of Health (NIH), além de empresas privadas, como a Microsoft, que colabora com o desenvolvimento de tecnologias de inteligência artificial inspiradas no cérebro humano.
Data para viagem ainda deve ser marcada
De acordo com Alysson existem uma série de fatores que influenciam na escolha da data da viagem. “A palavra final é da Nasa. E o treinamento só começa quando essa data estiver marcada. Nesse meio tempo, começamos os pré-treinamentos aqui no nosso laboratório com esses experimentos que serão feitos na estação”, destacou.
Outro aspecto inovador da missão é a inclusão de compostos naturais da floresta amazônica nos testes com organoides. Em parceria com a Universidade Federal do Amazonas e com o conhecimento ancestral de comunidades indígenas, como os huni kuin, o cientista pretende analisar, no espaço, o potencial de moléculas neuroativas para tratar o envelhecimento precoce das células cerebrais. Ao retornarem à Terra, os minicérebros serão estudados para avaliar possíveis avanços terapêuticos.
Segundo o pesquisador, há instituições da Coreia do Sul, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Estados Unidos, Brasil e Europa envolvidas no projeto. “A verdade é que todo mundo precisa de um novo modelo para estudar o envelhecimento humano”, afirmou.
Se tudo ocorrer conforme o cronograma da Nasa, Alysson poderá se tornar o segundo brasileiro a ir ao espaço, quase duas décadas após o voo de Marcos Pontes, em 2006. Desta vez, no entanto, o objetivo é exclusivamente científico: buscar respostas sobre o funcionamento do cérebro humano em um ambiente extremo.