Cotista tem matrícula rejeitada por suposta falta de áudio em vídeo para comprovar raça

Allan Pinto Ignácio, 22, processa a Universidade Federal Fluminense (UFF) por rejeitar matrícula em cotas. Liminar favorável foi concedida devido a falha na plataforma da faculdade

11:04 | Abr. 29, 2024

Por: Caynã Marques
Allan Pinto Ignácio teve sua matrícula rejeitada após UFF alegar falta de áudio em vídeo para comprovar raça (foto: Reprodução/ Pré-Vestibular Social Oficina do Saber )

Allan Pinto Ignácio, de 22 anos, está processando a Universidade Federal Fluminense (UFF) após a instituição rejeitar a matrícula do estudante. Segundo a universidade, ele não se encaixava no sistema de cotas para candidatos pretos, pardos e indígenas de baixa renda que estudaram em escolas públicas.

O jovem foi recusado porque durante seu processo, que comprovaria que ele se encaixava na cota, o vídeo solicitado pela faculdade estava sem áudio. No processo de verificação, que é online, o candidato deve gravar e enviar um vídeo se declarando preto, pardo ou indígena.

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Segundo Allan, que buscava uma vaga no curso de Jornalismo, o vídeo original estava com áudio; porém, a plataforma usada pela UFF acabou subindo a mídia sem som algum.

Cotista tem matrícula rejeitada no RJ: juiz concede liminar

Segundo a advogada Géssica Castro, ao g1 Rio de Janeiro, o estudante já tinha declarado sua situação no momento da pré-matrícula online. Para ela, o vídeo foi apenas uma forma de confirmar essa declaração por escrito.

Allan pediu para reativar sua matrícula com o apoio da Comissão de Combate às Discriminações da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), por meio de um recurso na 5ª Vara Federal de São Gonçalo. O argumento foi considerado "excessivamente rigoroso e desprovido de razoabilidade" pelo juiz Leo Francisco Giffoni, que concedeu liminar favorável à matrícula de Allan.

Cotista tem matrícula rejeitada: esforço e palestra para outros candidatos

Allan ficou na 3ª posição na lista do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e, desta forma, poderia oficialmente cursar Jornalismo. Entretanto, teve que passar por essa frustração.

"Eu senti muito orgulho. Eu senti que tudo se alinhou com o meu propósito. Por muitas coisas que eu passei, mas pela sensação de poder mostrar que se eu consigo outros amigos também podem conseguir", contou ao g1 Rio de Janeiro.

No último sábado, 27, Allan foi convidado pela coordenadoria do cursinho pré-vestibular social onde estudou para palestrar sobre humanidade para ex-colegas e novos alunos do curso.

Ao O Dia, o jovem contou não ter o costume de falar em público na escola. "Primeira vez que eu consegui falar, sou tímido. Tudo o que aconteceu recentemente fez eu ter que falar mais", disse.

O cursinho onde Allan estudou é um projeto de extensão da UFF, localizada em Niterói. São os próprios alunos da graduação de Jornalismo que dão aulas, monitoria e orientação pedagógica.

Cotista tem matrícula rejeitada: Universidade aponta regras do edital

Em nota ao O Dia, a Universidade Federal Fluminense informou que o Allan Pinto Ignácio está regularmente matriculado no curso de jornalismo. "Inicialmente, ele não foi aprovado na primeira etapa de avaliação devido ao fato de não cumprir um item do edital, que se trata da autodeclaração em vídeo", explica.

"É importante ressaltar que o processo seletivo é um concurso público, e portanto, possui um edital que define todas as normas, e a exigência de autodeclaração é prevista como obrigatória, como disposto no subitem 8.3.8 previsto no Edital do Processo Seletivo Sisu", argumenta a instituição.  

Conforme consta no edital, todos os estudantes têm o direito de apresentar recurso no prazo definido no edital. "Contudo, o estudante não apresentou o recurso dentro do prazo estipulado para o pedido de reconsideração. Frente ao mandado judicial recebido em 18 de abril de 2024, a Universidade imediatamente matriculou o estudante", continua a UFF.