Miranda expõe gravação com Bolsonaro a um grupo de deputados, dizem parlamentares

Material seria a prova de que Bolsonaro foi alertado sobre possíveis indícios na compra da vacina indiana Covaxin

18:43 | Jul. 10, 2021

Deputado federal Luiz Miranda durante depoimento na CPI da pandemia (foto: Jefferson Rudy/Agência Senado)

A gravação da conversa entre o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), o servidor público Luis Ricardo Fernandes Miranda e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), ocorrida em 20 de março, foi reproduzida a um grupo de parlamentares governistas durante reunião em Brasília neste sábado, 10, segundo informações do canal BandNews TV. Ontem (9), o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) já havia confirmado a existência do áudio em publicação feita no Twitter: "são 50 minutos de muita informação e baixaria", escreveu o petista.

No encontro de hoje, Miranda teria mostrado apenas alguns trechos da gravação. A intenção do deputado é provar aos aliados do Planalto que ele e seu irmão Luis Ricardo teriam alertado Bolsonaro sobre supostas irregularidades na compra da vacina indiana Covaxin.

Ao revelar parte do áudio aos parlamentares mais próximos do presidente, Miranda também teria afirmado que, caso seja desmentido por Bolsonaro sobre a existência do material, divulgará o conteúdo da gravação na íntegra para conhecimento de toda a população.

Temendo um aprofundamento da crise política, a base de apoio do governo pediu a Bolsonaro, logo após o encontro com Miranda, que evite contradizer a versão do deputado publicamente.

Provocado a comentar o assunto durante entrevista à rádio Gaúcha, na manhã de hoje (10), o presidente negou mais uma vez, sem citar o deputado, que tenha sido avisado sobre possíveis indícios de corrupção na compra da vacina.

Mais envolvidos

De acordo com informações do site O Antagonista, durante a suposta reunião com Miranda e seu irmão Luis Ricardo (servidor do Ministério da Saúde) Bolsonaro não teria mencionado apenas o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR), como responsável pelo esquema de corrupção que envolveu o contrato de compra da vacina indiana Covaxin. O presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), e o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do Progressistas, também teriam sido citados. Os três formam o núcleo do Centrão, bloco que sustenta Bolsonaro no Congresso.

Os irmãos Miranda disseram à CPI da Covid que relataram a Bolsonaro, na reunião ocorrida no Palácio da Alvorada, em 20 de março, cobrança de propina e outras irregularidades na compra da Covaxin, vacina produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech. No depoimento, o deputado afirmou que Bolsonaro atribuiu os problemas a "mais um rolo" de Ricardo Barros. No Congresso, a avaliação é a de que, se esta declaração for confirmada, a governabilidade estará comprometida e o grupo de Barros poderá se voltar contra o Palácio do Planalto.

Suspeitas de corrupção nas negociações para a aquisição de vacinas estão atualmente no foco da CPI. Duas semanas depois de Miranda ter afirmado que Bolsonaro fez o comentário desabonador sobre Barros, o silêncio impera no Planalto. Provocado por meio de uma carta enviada pela cúpula da CPI a rebater a versão do deputado, um ex-aliado, o presidente disse que vai ignorar a missiva.

Até o momento, Miranda tem negado, publicamente, que tenha gravado Bolsonaro. Mas sempre faz a ressalva de que não estava sozinho no encontro e que, na CPI da Covid, seu irmão Luis Ricardo não foi perguntado sobre isso.

Com Agência Estado