"Sarí terá que explicar o que quis dizer com 'coloquei ele para passear'", diz mãe de Miguel após indiciamento de ex-patroa

A mãe do garoto se pronunciou através de nota enviada pelo advogado. Ex-patroa, Sarí Corte Real foi indiciada pela Polícia Civil por abandono de incapaz com resultado de morte

16:49 | Jul. 02, 2020

Mirtes Renata de Souza e populares protestavam em frente à delegacia onde Sarí Corte Real prestava depoimento sobre a morte do menino Miguel (foto: DAY SANTOS/JC IMAGEM)

Após o indiciamento de Sarí Gaspar Corte Real pelo crime de abandono de incapaz com resultado de morte do pequeno Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, no último dia 2 de junho, a mãe do garoto se pronunciou através de nota enviada pelo advogado, afirmando que se aproxima o dia em que a mulher, que estava responsável pelo garoto no momento da queda do 9º andar, sentará no banco dos acusados.

"O magistrado, eleito por sorteio, julgará aquela que diante do corpo caído de Miguel e de sua mãe desesperada disse em exclamação: 'que menino tinhoso'; é ela, a patroa adornada em joias, iniciada nas artes dos palacetes e de família de políticos rica e influente no litoral sul, que explicará ao promotor o que quis dizer com 'coloquei ele para passear'", diz um trecho da nota.

| ENTENDA A NOTÍCIA |

> "Perdoar seria matar o Miguel novamente", diz mãe do menino, em carta à ex-patroa

> Petição que cobra justiça por Miguel, menino que caiu de prédio no Recife, ultrapassa 550 mil assinaturas

> Sarí Corte Real, ex-patroa acusada no caso do menino Miguel, presta depoimento à polícia nesta segunda

Em outro trecho, a mãe de Miguel, que trabalhava como empregada doméstica da família e havia descido para passar com o cachorro da patroa no momento da queda, argumenta que a morte da criança se deu em decorrência da escolha de Sarí. "A diferença entre o acidente e o desamparo é a escolha.
Optou-se em desproteger. Miguel foi largado no elevador sem ninguém à sua espera."

Sarí Côrte Real chegou a ser presa em flagrante no dia da morte de Miguel pelo crime de homicídio culposo (quando não há intenção de matar), mas pagou fiança no valor de R$ 20 mil e foi liberada. A reportagem tentou contato com a defesa, mas até a publicação desta matéria, não obteve resposta. (Amanda Ranheri)

Veja a nota na íntegra

Aproxima-se o dia em que, na cadeira de acolchoado azul à esquerda do magistrado, onde ficam os acusados, sentará uma mulher de estatura mediana, de cabelos louros bem cortados, olhos verde esmeralda e sorriso perfeito. Pobre apenas em melanina e em empatia. O magistrado, eleito por sorteio, julgará aquela que diante do corpo caído de Miguel e de sua mãe desesperada disse em exclamação: "que menino tinhoso"; é ela, a patroa adornada em joias, iniciada nas artes dos palacetes e de família de políticos rica e influente no litoral sul, que explicará ao promotor o que quis dizer com "coloquei ele para passear".

Quando esse dia chegar, talvez ela já nem lembre a origem de tanto desdém e indiferença, mesmo também sendo mãe. É até provável que tente responsabilizar a própria vítima, o pequeno Miguel, pelo que lhe aconteceu. Afinal, após noticiar aos parentes próximos sobre o falecimento, disse que "cuidar dele não era sua responsabilidade".

Ali, prostrada, a fina senhora destilará novamente seu cinismo e tentará convencer o julgador que tudo não passou de um acidente, tal como quem quebra uma taça de vinho em um restaurante chique e, enquanto retira arrogantemente o cartão de crédito da carteira, diz ao garçom que traga logo a
conta do prejuízo.

A princesa encastelada nas torres gêmeas, não tarda, prestará contas à Themis Pernambucana. A diferença entre o acidente e o desamparo é a escolha. Optou-se em desproteger. Miguel foi largado no elevador sem ninguém à sua espera. Pareceres jurídicos caros não apagam o passado, não limpam consciência e não desfazem os fatos. 

Do Jornal do Commercio via Rede Nordeste