O uso do celular e a qualidade do sono de crianças e adolescentes
Pesquisadores alertam sobre a importância do repouso sem telas em Congresso internacional sobre o cérebro em Fortaleza
21:06 | Jun. 18, 2025
Os “nativos digitais”, ou seja, crianças nascidas depois do surgimento da internet, apresentam particularidades de funções cognitivas e aprendizado. Assim, a área de pesquisa neurocientífica se dedicou a compreender a interação de crianças e adolescentes com as telas. Pesquisadores presentes no evento internacional Brain Congress 2025, sediado em Fortaleza, alertam sobre os resultados maléficos da relação exagerada com as mídias.
Benefícios como aprimoramento da educação, fácil acesso às informações e estímulo à leitura e criatividade fazem parte da rotina dos mais jovens e também de estratégias de aproximar a inovação e o desenvolvimento cognitivo.
Em palestra ministrada no Congresso de Cérebro, Comportamento e Emoções (Brain Congress 2025), a professora da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e diretora do Instituto do sono, Monica Levy Andersen, aponta que o primeiro contato com mídias e telas acontece por volta dos 4 meses, antes mesmo da introdução alimentar.
Monica destaca que a conexão com o digital carrega um dilema: “O paradoxo é que, ao mesmo tempo, as mídias nos aproximam de quem estava geograficamente distante, mas nos distanciou de quem está mais perto”. Para ela, em muitas famílias, é mais simples oferecer uma tela do que engajar uma criança em uma conversa.
A doutora aponta que estudos recentes sobre o desenvolvimento cognitivo de crianças e adolescentes apresentam prejuízo ao funcionamento executivo do cérebro, responsável por realizar tarefas, ao desenvolvimento sensório-motor e à redução dos resultados acadêmicos. Além disso, mais tempo de tela, geralmente, significa menos tempo com os pais e pouco desenvolvimento de linguagem na primeira infância.
“Uma em cada quatro crianças, menores de 2 anos, já tem exposição de tela em demasia. Há evidências de maior reatividade emocional, como agressividade, ansiedade e depressão, vinculadas ao uso exacerbado de computadores e videogames”, finaliza.
O sono dos adolescentes
Já em adolescentes (10 a 19) os padrões do sono são importantes para modificações cognitivas e desenvolvimento físico e biológico. O sono de adolescentes e jovens adultos é uma fonte de revitalização das funções orgânicas do corpo e o repouso inadequado pode resultar em prognósticos desfavoráveis, como obesidade, problemas mentais e abuso de substâncias químicas.
A professora da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e especialista em neurologista infantil e medicina do sono, Magda Lahorgue Nunes, palestrou no Brain Congress sobre os impactos do uso de telas no sono de adolescentes.
“A falta de sono está associada a características fisiológicas do adolescente. A recomendação de sono mais usada é da National Sleep Foundation, em que adolescentes devem ter 8 horas completas de sono e jovens adultos cerca de 7 a 9 horas. Mas sabemos que esse percentual é bem baixo, diferente do ideal”, destaca Magda.
As mídias sociais apreendem grande parte da vida social de adolescentes, mas o uso excessivo afeta não somente o sono. A doutora destacou que, conforme o estudo “Uso de mídia digital e sono no final da adolescência e início da idade adulta: uma revisão sistemática” do Sleep Medicine Reviews de 2023, o uso de mídia digital se associa diretamente à fadiga diurna, despertar cedo, privação de sono e curta duração do repouso com má qualidade. E destacou que esses malefícios não possuem associação significativa com o consumo de televisão.
“É importante destacar que as melhores intervenções são as de curta duração para realizar o “desmame” das telas. Regularidade de repouso e medidas de higiene do sono são algumas delas”, finalizou.