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O Preço do Inestimável

Pause ouviu artistas, galeristas, pesquisadores e marchands para discutir como se chega ao preço de uma obra de arte, ao preço do intangível.

04/02/2019 04:16:37
FORTALEZA, CE, BRASIL, 30-01-2019: Cadeh Juaçaba, Artista Plastico. O preço da Arte, fotos na Loja Ouvidor no Bairro Aldeota. (Foto: Aurélio Alves)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 30-01-2019: Cadeh Juaçaba, Artista Plastico. O preço da Arte, fotos na Loja Ouvidor no Bairro Aldeota. (Foto: Aurélio Alves)

Qual o preço daquilo que nos toca e nos arrebata? Qual o preço de uma peça que perdura pelo tempo e leva um processo artístico para as décadas vindouras? Qual o preço daquilo que pode causar sensações de magnitude eternas? Com base nessas questões, a HBO fez um mergulho no mercado da arte para tentar entender como funcionam o processo de precificação de uma obra e os desafios de ser artista na atualidade. O documentário O Preço de Tudo é uma produção original do canal e estreou no dia 28 de janeiro. Pensando nessas questões, Pause abriu diálogo com artistas, galeristas, pesquisadores e marchands

da cena local. 

O artista cearense Cadeh Juaçaba explica que são muitos os fatores que interferem no cálculo para se chegar ao preço final de uma obra. O currículo do artista, a presença dele em feiras e exposições, as publicações feitas sobre a obra, a circulação gerada com as peças, a quantidade de peças disponíveis para comercialização. Cada um desses elementos interfere de uma forma distinta. Mas essa linha nem sempre segue um tracejado uniforme. Há jovens artistas que se destacam - por um motivo ou outro - e veem os preços de suas obras saltarem. Há outros que precisam passar a carreira inteira negociando suas obras por preços módicos. É uma conta tão delicada quanto os sentimentos que uma peça artística pode despertar. 

"Adquirir e prestigiar trabalhos de pessoas que estão começando ou simplesmente não possuem muitas 'vitórias' no currículo também é importante", pontua o fotógrafo Alan Uchôa. Ele lembra, ainda, que nem todos os artistas estão interessados em vencer concursos ou têm condições de pagar inscrições. Em seus cálculos, Alan leva em conta o equipamento, o tempo de produção, a originalidade, o potencial artístico que a obra tem em conversar. "Muitos artistas que estão debutando acabam por deixar o valor dos seus trabalhos abaixo do que realmente vale, pois há uma grande preocupação em primeiramente divulgar o trabalho, o que é até compreensível. Também há um fator de auto desvalorização por dois núcleos: um é falta de orientação e pesquisa para saber como anda o mercado, e o outro é a concorrência. A classe muitas vezes, desunida, acaba se desvalorizando diante aos clientes para conseguir vender", adiciona.

Jacqueline Medeiros, integrante da Sem Título Arte, explica que há outro fator para considerar: o envolvimento emocional do artista com a obra. "É preciso se distanciar e fazer uma análise", aponta a pesquisadora - lembrando que há, ainda, fatores externos ao mercado da arte que causam impactos decisivos. "O artista tem a sua autonomia como criador e pode inferir um valor, mas existem eventos externos que interferem diretamente. Como crises econômicas globais que interferem nas feiras e interferem no preços dos grandes artistas ou na relação da aquisição", explica

Jacqueline Medeiros.

Em linhas básicas - segundo Cadeh Juaçaba - o mercado de arte é dividido em dois planos. O primário - responsável por comercializar obras vindas diretas do produtor e, em alguns casos, realizar trabalho de divulgação e promoção do artista. E o secundário - que comercializa as obras que já saíram do mercado primário, já tiveram muitos donos e, em geral, são peças históricas que despertam cobiça. É nesse campo que está, por exemplo, o artista holandês Vicent Van Gogh - ele vendeu apenas um único quadro em vida e atualmente suas poucas obras disponíveis atingem cifras milionárias. Max Perlingeiro - diretor da Galeria Multiarte - explica que o ato de possuir uma obra está ligado a um fator absolutamente intangível: o desejo.

Com essas motivações, pessoas e instituições disputam obras famosas que surgem para comercialização. Um Leonardo Da Vinci, um Leonilson, um Antônio Bandeira, um Pablo Picasso. Mas esses, explica Max, são valores superlativos e casos pontuais de negociações que podem chegar aos bilhões de euros. Para os artistas da atualidade, na opinião do diretor da Galeria Multiarte, é importante investir em formação em instituições especializadas - que podem ser do setor privado ou público -; participar de exposições individuais, mas também coletivas; participar de leituras de portfólios e de iniciativas semelhantes. "Você tem que trabalhar o tempo inteiro. Não pode esperar que a sorte bata a sua porta. Tem que ter uma rede, tem que estar em busca de pesquisa, tem que estar em contato com curadores que vejam a sua obra e lhe deem um norte da bússola", explica Max, lembrando que em rede é mais fácil alcançar o êxito.

Isabel Costa

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