No Ceará, cada caso da Covid-19 é transmitido em média para menos de uma pessoa, aponta estudo

Região Norte do Estado deve ter implementação de medidas mais rígidas no atual momento da pandemia, recomendam pesquisadores

18:27 | Jun. 06, 2020

Na Capital, redução da taxa de contágio pode significar a interrupção de cadeia de transmissão, mas também pode corresponder a um atraso na notificação. (foto: Aurelio Alves/O POVO)

Cada caso da Covid-19 está sendo transmitido em média para menos de uma pessoa no Ceará, de acordo com estudo da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) em parceria com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças de Atlanta, nos Estados Unidos.

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Segundo o documento que O POVO teve acesso, o número que determina a taxa de contágio efetivo — chamada de RT — caiu para 0,8 quando considerados os últimos dias de maio e os primeiros de junho. Esse mesmo dado chegou a atingir o patamar de 2,5 durante o mês de março.

A partir do fim de maio, a taxa de contágio registrou índices abaixo de 1,0. (Foto: Reprodução/Sesa)

O estágio atual, conforme a pesquisa, pode significar que cadeias de transmissão foram interrompidas e, assim, o fim da epidemia em alguns locais. Outra possibilidade, no entanto, é que a queda seja decorrente de um atraso da notificação.

Casos no Interior

Durante transmissão ao vivo neste sábado, 6, o governador Camilo Santana ressaltou a preocupação com a disseminação de casos no interior do Ceará. Entre outros fatores, o estudo da taxa de contágio motivou a decisão de Camilo para a manutenção das medidas de isolamento rígido na Região Norte do Ceará.

Os especialistas alertam que, devido à taxa de transmissão está bem próxima de 1,0 nessa região do Estado (quando cada caso contamina uma pessoa, em média), há risco de novo incremento de contaminações. A conclusão ainda levou em conta um número de internações acima do esperado para o período.

“Há uma importante ocorrência registrada pelos sistemas de informação de internação hospitalar e diagrama de controle de hospitalizações mostrando maior números de internações acima do esperado para o período. Para essa região é primordial identificar que municípios ainda estão em epidemia para focar em medidas de prevenção”, defende o documento.

Para outras regiões do Interior, os pesquisadores recomendam ainda que medidas como o distanciamento social e o acompanhamento e isolamento dos casos continuem em vigor. No Cariri, por exemplo, o estudo recomenda a pronta detecção e notificação de casos, bem como o registro dos resultados dos testes rápidos.

Em Fortaleza, que concentra mais de 85% dos número total de casos, as conclusões são similares à avaliação mais geral do Estado. A taxa de contágio está por volta de 0,9 e isso pode significar a interrupção de cadeia de transmissão, mas também pode corresponder a um atraso na notificação.

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Em entrevista ao O POVO nessa sexta-feira, 5, Lígia Kerr, professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que uma das recomendações para o relaxamento do distanciamento social é que a taxa de transmissão esteja abaixo de 1 por 14 dias. "Isso tudo para termos certeza de que não estamos vendo uma coisa errada", afirma.

A especialista destacou ainda que outro ponto que deve ser observado é a taxa de ocupação de Unidades de Terapia Intensiva (UTI). A sugestão é de que o relaxamento seja iniciado com 30% dos leitos livres. "Eles estão trabalhando com 20%. E tem estados no Brasil trabalhando com 95% dos leitos ocupados", aponta. A professora, porém, pontua que o Ceará tem sido reconhecido pelas medidas de prevenção adotadas.