André Fernandes diz que erro não foi intencional, ataca imprensa, mas ignora defasagem de dados

O deputado disse que se referia a todas as doenças por causa natural no período e que a palavra "respiratórias" foi incluída por "erro não intencional" e causou confusão. Fernandes, no entanto, ignorou o atraso no registro das mortes no sistema

10:41 | Mai. 12, 2020

FALTA DE informações do governo federal ameaça tomada de decisão na gestão pública da saúde (foto: Fabio Lima)

Após divulgar dados errados sobre o número de doenças respiratórias no Ceará em suas redes sociais, o deputado estadual André Fernandes (PSL) admitiu que cometeu um "erro não intencional". Ele afirmou, nesta terça-feira, 12, que a confusão foi causada pela palavra “respiratórias” e, na verdade, quis se referir a todas as mortes com causa natural.

Publiquei uma arte que continha a palavra "respiratórias", e isso causou confusão. Apesar de não ter sido um erro intencional, a imprensa tentou usar isso para atacar o Presidente pelo simples fato dele ter compartilhado no story.
Canalhas, mil vezes canalhas!

— André Fernandes (@andrefernm) May 12, 2020

“Postei novamente a informação com o texto corrigido, e o contexto continuou o mesmo. Apesar do coronavírus, a média de óbitos por doenças no Ceará não aumentou, pelo contrário, diminuiu!”, disse Fernandes. Ele defendeu ainda que a imprensa tentou usar o erro para atacar o presidente, que compartilhou a publicação em sua conta no Instagram, o que foi marcado pela rede social como "conteúdo falso".

Apesar de reconhecer esse equívoco, o parlamentar segue ignorando o atraso que há no registro de óbitos na plataforma. De acordo com a assessoria de imprensa da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen Brasil), instituição que administra o Portal da Transparência - Registro Civil, fonte dos dados divulgados pelo deputado, pode levar até 14 dias desde a data da morte para que o caso seja computado no sistema.

As duas semanas que antecedem o período estipulado pelo deputado foram o intervalo em que o Ceará tem tido maior quantidade de vítimas da Covid-19. De 27 de abril a 10 de maio, o sistema IntegraSUS contabiliza 797 óbitos confirmados em testes laboratoriais ou testes rápidos por Covid-19, considerada a data em que as mortes ocorreram. Há ainda 282 óbitos em investigação se seriam pelo novo coronavírus. Neste período, o Portal da Transparência - Registro Civil contabilizava 582 mortes por Covid-19 até segunda-feira, 11.

O número de mortes decorrentes de causas naturais nesse período deve ser ainda maior, visto que inclui outras enfermidades além da Covid-19, não contabilizadas no indicador de coronavírus do IntegraSUS.