O que "KKKK", risada da geração Z, tem a ver com o escritor José de Alencar?

A origem da expressão pode estar em trecho do livro "Til" (1872), de autoria do cearense

13:12 | Jun. 27, 2021

Interferência sobre retrato de José de Alencar na galeria dos representantes da nação da Assembleia Geral Legislativa (1861), do Acervo da Biblioteca Nacional Digital (foto: Luiza Ester/O POVO)

O escritor cearense José de Alencar pode ter criado a expressão “KKKK”, conhecida por ser a risada da geração Z na internet. Aliás, você é millennial ou geração Z? Quem está antenado nas discussões cibernéticas, certamente já sabe.

Os millennials, também chamados de geração Y, nasceram entre os anos 1980 e 1994. Já a geração Z são as pessoas que nasceram entre os anos 1995 e 2010. Os diferentes costumes dessas gerações tomaram conta das redes sociais recentemente. Um dos conflitos geracionais foi justamente a forma de demonstrar risada no espaço conectado.

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Segundo a geração Z, é “cringe” (expressão do inglês, traduzida para vergonha alheia ou, simplesmente, “mico”) usar o emoji de risada durante conversas na internet. O símbolo pode ser encontrado em diversas mídias sociais e no próprio teclado de smartphones.

Mas qual seria a forma mais atual e “descolada” para demonstrar que está rindo por trás das pequenas telas? Para a geração Z, seria com “KKKKKKKKKKK”. As gargalhadas também podem ser decifradas pelo “AOJAIWJEOAIWJE” — qualquer tecla tocada rapidamente, com o recurso da caixa alta ligado.

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O que José de Alencar tem a ver com isso?

Um dos maiores romancistas brasileiros, apelidado por Machado de Assis como “chefe da literatura nacional”, teria originado a expressão “KKKKKKK”, segundo levantamento da BBC Brasil.

O escritor, dramaturgo e político cearense José de Alencar (1829-1877) faz alusão a uma gargalhada no livro “Til” (1872). “Quiá!...quiá!... quiá!...” — foi a forma que o autor encontrou de referenciar. Na obra, ainda diz que a personagem Nhá Tudinha estava “debulhando-se em uma risada gostosa” pelos trejeitos de Benta, menina que ela acolheu.

Outras evidências arqueológicas do “KKKK”

Numa seção de comentários de 1884 do jornal n’A Província de São Paulo, que deu origem ao Estado de S. Paulo, há o trecho “O mió de tudo nhô dotô é mecê se calá e não buli n'essas vergonha (...) Quiá, quiá, quiá, cá, cá, cá!!!”. O fragmento zomba de um episódio com um advogado.

Em “A Segunda Vida” (1884), conto do escritor Machado de Assis (1839-1908), aparece uma nova variação: “cá cá cá”. A mesma expressão foi usada por Monteiro Lobato (1882-1948) no livro “Urupês” (1918).

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