Projeto Letras&Livros, do O POVO, debate literatura e filosofia

Com lançamento do livro O Olho de Lilith e do podcast Antologia, o evento foi mediado pela jornalista Isabel Costa

21:55 | Jul. 05, 2019

Projeto Letras&Livros (foto: Alex Gomes/ Especial para O POVO)

Na obra O prazer do texto (1973), o filósofo francês Roland Barthes afirma que “o prazer do texto não é forçosamente do tipo triunfante, heróico, musculoso. Não tem necessidade de se arquear. Meu prazer pode muito bem assumir a forma de uma deriva”. Cada escritor experimenta um processo singular de deriva: ora isola-se para escrever, ora concilia os rascunhos com o cotidiano atribulado, os filhos, as contas. Na noite desta sexta-feira, 5, as escritoras Nina Rizzi e Tércia Montenegro compartilharam seus processo literários na conferência “Literatura e Filosofia em debate”, atividade do projeto Letras&Livros. O evento, com a entrada gratuita e iniciado às 18 horas, contou com a mediação da jornalista e organizadora do Blog Leituras da Bel, do O POVO, Isabel Costa.

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Além do debate sobre Literatura e Filosofia, o Letras&Livros contou com o lançamento do livro O Olho de Lilith — uma coletânea de poesia publicada pelo Selo Ferina e composta apenas por autoras cearenses; e também com o lançamento oficial do podcast Antologia, um dos braços do Letras&Livros já disponível nas principais plataformas de streaming. Uma feirinha criativa foi realizada nos jardins durante o evento. Entre os presentes, escritores como Antônio LaCarne e a curadora de arte e presidente do Instituto Sérvulo Esmeraldo Dodora Guimarães.

O POVO: Qual é a importância de estabelecer uma relação entre literatura e filosofia?

Tércia Montenegro: É enorme, porque a prática das escritas literária e filosófica propõe a reflexão, esse é o grande ponto de encontro. Uma história, um poema que você escreve tem por baixo camadas de pensamentos e de questões existenciais que, às vezes, não são flagrantes — mas estão lá de maneira sutil. Às vezes, a gente também encontra em alguns filósofos uma prosa muito poética, como Merleau-Ponty. É um diálogo muito produtivo, que eu estimo muito porque sempre pensei na literatura como um gesto filosófico.

O POVO: Qual é, portanto, o papel da literatura na aproximação e popularização da filosofia?

Nina Rizzi: A literatura — aliás, as artes no geral — já são maravilhosas e não precisam aproximar a Matemática, a Filosofia ou qualquer outra coisa. Mas ela faz isso, mesmo sem querer, por ser algo que nos toca no íntimo e de um modo sensível. A gente pode trazer esses temas filosóficos e éticos; valores e discussões; e até mesmo a Matemática e essas questões serão facilmente mais assimiladas e discutíveis do que se a gente trabalhar com dados e tabelas porque vai tocar no sensível. A assimilação de fácil é mais perene, mais gostosa. Eu vejo poesia como um modo de pensamento — não é somente juntar bibelôs na estante, é um modo filosófico também.