Especialista do sono alerta sobre o uso de estimulantes e hipnóticos

Monica Levy, diretora do instituto do sono, destaca os problemas gerados pela negligência de sono durante o Brain Congress

20:42 | Jun. 18, 2025

Por: Rafael Santana
Com o tema Sociedade on-off: a vida entre estimulantes e hipnóticos, Monica Levy ministrou a palestra na sala 3, durante o Brain Congresso (foto: Rafael Santana )

Com o tema “Sociedade on-off: a vida entre estimulantes e hipnóticos”, Monica Levy, diretora do Instituto do Sono, destacou as principais consequências do uso de estimulantes e hipnóticos, além dos riscos da privação do sono, necessidade fisiológica que ocupa um terço de nossa vida.

A palestra ocorreu durante o Brain Congress — Congresso de Cérebro, Comportamento e Emoções —, evento científico voltado para profissionais discutirem os avanços mais recentes da pesquisa científica à prática clínica, que está acontecendo entre os dias 18 e 21 de junho, no Centro de Eventos de Fortaleza.

Na ocasião, a diretora afirmou que o modelo atual da sociedade, repleto de demandas e estresse diário, coloca cada vez mais o sono como vilão, almejando aumentar a produtividade e o tempo acordado em detrimento do tempo de recuperação.

“Os estimulantes vêm se tornando os protagonistas da nossa vida. Bebidas como refrigerantes, energéticos e cafeína são consumidas para nos manter funcionando. Elas conseguem gerar uma alteração comportamental, estimulando o córtex cerebral e produzindo uma atividade motora exacerbada”, explica.

Existem diversas classificações de estimulantes, mas os principais são: anfetaminas, fenidatos, modafinilas, xantinas e cocaína. Todos eles conseguem gerar somente uma hiperatividade momentânea.

“O uso não médico de estimulantes tem se tornado cada vez mais frequente. As pessoas buscam aumento do foco e diminuição da fadiga e do cansaço. O paradoxo é que o sono de qualidade aumenta o foco, a concentração, o aprendizado e o bem-estar físico, psicológico e mental”, destaca Monica.

As smart drugs

O uso indiscriminado de substâncias é conhecido como smart drugs ou drogas que aumentam o potencial cognitivo. O crescimento da procura ocorre em busca da melhora da atenção, da concentração, da criatividade exacerbada e da motivação para as atividades rotineiras.

A diretora do Instituto do Sono revelou que, no Brasil, um estudo evidenciou que 14% dos alunos de Direito relataram ter consumido substâncias estimulantes no último ano da graduação, em comparação com 4% de outras graduações. As prescrições são frequentemente obtidas por meio de amigos.

“Se não houver um descanso apropriado, aumenta a chance de uso de substâncias que causam insônia, que podem provocar uma supersensibilidade de alguns receptores cerebrais, e o efeito pode ser potencializado negativamente. Atualmente, estudos estão sendo realizados para descobrir o real efeito que essas substâncias podem causar”, revela.

O ciclo on-off

Em um cenário onde as pessoas tomam substâncias para ficarem acordadas, elas podem desenvolver dificuldade para dormir na noite seguinte, criando um ciclo entre: estimulantes para acordar — estado de alerta até tarde — hipnóticos para dormir e sonolência residual, repetindo a mesma rotina.

“As consequências são diversas: riscos de acidentes, sonolência, prejuízo, dependência, abstinência, quedas e fraturas. Um estudo desenvolvido pelo nosso grupo sobre o uso de zolpidem em idosos mostrou que ele causava quedas, por exemplo. É preciso ter muito cuidado”, alerta a profissional.

Hoje, a terapia cognitivo-comportamental para a insônia (TCC-I) é a primeira opção recomendada pela ciência para combater a insônia. Atividades físicas e um bom estilo de vida também influenciam.

“O uso indiscriminado e abusivo de medicamentos para o sono leva a situações preocupantes, como pessoas comprando produtos aleatórios ou tendo alucinações. Vivemos um ciclo em que queremos ligar todos os motores de manhã, especialmente os cerebrais, e queremos desligar tudo depois, causando essa sonolência residual pela manhã”, explica.

Para Monica, esse é o novo retrato da sociedade: " Trocamos a energia do passado por uma hiperestimulação farmacológica, e o repouso natural e saudável por uma farmacologia, precisamos valorizar as pausas".

“Não busque um ideal de pessoas ultra-alertas visto nas redes sociais. O que precisamos são pausas induzidas por nós, pela nossa saúde”, finaliza.

Como fazer uma boa higiene do sono?

  1. Exposição à luz solar
  2. Evitar refeições pesadas à noite
  3. Cochilos com duração máxima de 30 minutos
  4. Evitar telas duas horas antes de dormir
  5. Respeite seu cronotipo, ou seja, seu ritmo biológico
  6. Gerencie o estresse
  7. Tenha um ambiente propício ao sono.
  8. Evite conflitos na hora errada
  9. Evitar bebidas estimulantes à noite
  10. Pratique atividades relaxantes
  11. Atividade física
  12. Interação social e lazer