Covid-19: fumantes podem sofrer com sintomas mais graves da doença; entenda

Neste sábado, dia 29 de agosto, é o Dia Nacional de Combate ao Fumo. Com a Covid-19, risco de desenvolver os sintomas mais graves da doença intensificam-se durante a pandemia

13:24 | Ago. 28, 2020

O consumo do cigarro tem teor probicionista, nutrindo a sensação de descoberta da substância. Adolescente é um do público mais afetado (foto: Unsplash/fotografierende)

Neste sábado, 29, alerta-se para o Dia Nacional de Combate ao Fumo. A data nacional é instaurada pela Lei Nº 7.488 e marca o controle do tabagismo como um problema de saúde coletiva no País. Em 2020, o foco da campanha será o tema "Tabagismo e Coronavírus" - isso porque às duas doenças se relacionam negativamente para os pacientes.

O tabagismo é considerado uma doença crônica causada pela dependência à nicotina - o composto está presente nos cigarros, charutos, cachimbos dentre outros derivados da planta tabaco, utilizada para compor os produtos. Durante o período do consumo, milhares de substâncias tóxicas circulam no organismo humano - a fumaça do tabaco, por exemplo, contém mais de 7 mil compostos nocivos.

Como o tabaco prejudica as defesas do organismo, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estabeleceu que o tabagismo é um fator agravante para a Covid-19: devido a um possível comprometimento da capacidade pulmonar, o fumante tem mais chances de ter sintomas graves da doença. A pessoa que fuma, inclusive, caso leve as mãos não higienizadas à boca para fumar pode contrair o Sars-CoV-2 (novo coronavírus). 

Já no uso do narguilé, pode transmitir o novo coronavírus devido ao compartilhamento quando geralmente utilizado por mais de uma pessoa, além de expor os usuários a riscos prejudiciais de sua saúde pulmonar.

Outro ponto pouco citado são os fumantes passivos. O tabagismo passivo é quando um não fumante inala a fumaça de produtos que contenham o tabaco. Os principais atingidos são bebês e crianças, público que tem um risco aumentado de desenvolver doenças respiratórias, doenças do ouvido médio e síndrome da morte súbita infantil.

Essa exposição pode ser inevitável para os pequenos durante pandemia de Covid-19, período de aumento da convivência entre familiares. Crianças e bebês, inclusive, ainda são mais suscetíveis ao tabagismo porque o próprio fumante pode ser um dos pais ou dos responsáveis. 

Alguns dos principais sintomas, de acordo com o Ministério da Saúde, são irritações nos olhos, tosse, dor de cabeça e alergias, principalmente nas vias respiratórias. No caso das crianças, é percebido um aumento do número de infecções respiratórias e elevação da pressão arterial.

Malefícios do consumo

A pneumologista Talita Noronha, do Núcleo de Oncologia e Hematologia do Ceará (NOHC), expõe que esse consumo favorece o surgimento de outras doenças. A dependência da nicotina tem relação com cerca de 50 doenças, como a impotência sexual no homem, menopausa precoce, complicações na gravidez e também os cânceres.

O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que, só em 2020, 30,2 mil pessoas sejam diagnosticadas com câncer de traqueia, brônquio e pulmão - as mais comuns entre os fumantes. O consumo desses produtos também trazem problemas na circulação do sangue, doenças respiratórias como bronquite crônica e insuficiência respiratória, além de Acidente Vascular Cerebral (AVC) e infarto, destaca Talita.

Os malefícios designam o tabagismo como uma pandemia - causadora de mais de oito milhões de mortes por ano no mundo. No Brasil, por exemplo, estima-se que 428 pessoas morrem por dia em decorrência do consumo do tabaco, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Já no Ceará, um total de 1290 casos entre homens e mulheres serão ainda diagnosticados em 2020, segundo o Inca.

Por que e quem consome, afinal, se é ruim?

Os fatores que levam ao início do consumo de drogas são muito ligados a tendência humana de buscar formas de alterar sua consciência de modo a produzir prazer e modificar seu humor. Essa curiosidade é presente, principalmente, na adolescência. O período é marcado por muitas transformações físicas e emocionais, além da busca de respostas e outras angústias da idade.

Estudo publicado pelo Inca em 2018, mostrou que a ampla maioria dos adolescentes de 13 a 17 anos têm acesso amplo ao cigarro tanto em comércios varejistas formais quanto nos informais ambulantes. Um total de 82,3% dos adolescentes entre 13 a 15 anos tiveram êxito em fazer a compra, enquanto 89,9% de jovens entre 16 e 17 anos conseguiram comprar o produto.

No caso do tabagismo, o Inca destaca o papel exercido pela publicidade para aderir ao consumo dos derivados, principalmente o cigarro. A veiculação do produto como algo de consumo comum e socialmente aceito vinculado a um comportamento de bem-estar ainda tem forte influência no comportamento tanto dos adolescentes e jovens quanto dos adultos.

Seguindo a isso, desde 1996 o Brasil tem uma legislação que proíbe a veiculação de propagandas de produtos derivados do tabaco, com exceção apenas da exposição dos referidos produtos nos locais de vendas e desde que acompanhada das cláusulas de advertência.

Mas afinal: se faz tão mal assim e há todo esse alerta, por que as pessoas continuam consumindo? O Inca mostra que parte dos fumantes torna-se dependente da nicotina antes dos 19 anos. Além dos fatores citados anteriormente, o fácil acesso à compra e o baixo preço dos cigarros e a tentativa de serem aceitos por grupos de amigos fumantes estão entre os fatores que corroboram para o vício.

Equivocadamente ainda circula uma noção de que o tabagista é uma pessoa viciada ou que não deixa de fumar porque não quer. Nada disso é verdade, pois quem consome essa droga lícita sofre, na verdade, de dependência química: é alguém que ao tentar deixar de fumar, se defronta com grandes desconfortos físicos e psicológicos que trazem sofrimento.

Como e por que iniciar o tratamento

Parar de fumar, inclusive, pode reduzir o risco de desenvolver uma forma mais severa da Covid-19. A pneumologista Talita Noronha explica que alguns dos benefícios são observados a curto prazo, enquanto outros a médio e a longo prazo. Após algumas semanas, é possível observar um aumento da função pulmonar, além de ex-fumantes descreverem melhorias no olfato, no paladar e na pele, expõe.

No Ceará, o Hospital de Messejana disponibiliza o Programa de Controle do Tabagismo. O atendimento é feito por uma equipe multiprofissional que orienta os fumantes a interromperem o consumo. Ao todo, cerca de três mil pessoas já foram atendidas pelo programa, funcionando há 18 anos no Estado.

Devido à pandemia, os atendimentos estão sendo individualizados. Mais informações podem ser consultadas através do telefone (85) 3101-4062 ou no endereço avenida Frei Cirilo, 3480 - Messejana. Através do Sistema Único de Saúde (SUS), o Inca disponibilizou uma cartilha para aqueles interessados em parar de fumar.

Confira as dicas:

- escolha uma data para ser seu primeiro dia sem o cigarro; faça neste dia uma ocasião especial, ou algo que goste para se distrair ou relaxar.

- muitos fumantes acreditam que só poderão parar de fumar se reformularem totalmente sua vida, o que não é verdade; rever sua rotina pode estar entre os planos, mas você não precisa passar a ter uma vida sem amigos ou outras diversões devido à suspensão do consumo.

- evite lugares com muito fumantes; durante o período inicial, é melhor evitar certas situações para não sofrer recaídas.

- preencha seu tempo com algo que você realmente goste de fazer; vale jardinagem, corrida, dança, ler... o importante é cuidar do corpo e da mente movimentando-se!

- fique de olho na alimentação; é normal um ganho de peso, pois seu paladar vai melhorando e o metabolismo se normalizando. Beba muita água, evite tomar café e outras bebidas alcoólatras e mantenha uma dieta equilibrada.

- tente se acalmar nos momentos de estresse; quando passamos por dificuldades psicológicas, como a perda de um familiar ou problemas no trabalho, procure entender que os momentos difíceis sempre vão ocorrer e lembre que fumar não irá resolvê-los.

- cuidado com as recaídas; já é esperado que o fumante faça mais de uma tentativa antes de parar definitivamente. Segundo o Inca, em média um ex-fumante tenta parar de fumar entre três a quatro vezes até conseguir. A cada tentativa, há um aprendizado de que, além do cigarro não resolver seus problemas, ele está tirando sua saúde. A recaída não é um fracasso.

- faça exercícios de relaxamento quando sentir vontade de fumar; alguns ex-fumantes acabam voltando ao consumo por estarem se sentindo tão bem que acham que podem fumar apenas um cigarro. Quando isso acontecer, relaxe: respire fundo pelo nariz e vá contando até seis. Depois deixe o ar sair lentamente pela boca até esvaziar totalmente os pulmões. Relaxamentos musculares, como alongamentos, também funcionam. Nas horas de aperto, ouvir uma boa música e deixar os bons pensamentos fluírem também podem ajudar a acalmar. 

- perceba seu progresso; diariamente, guarde o dinheiro que você gastaria com o cigarro e o conte até o fim de cada semana, utilizando-o para comprar algo que goste ou para presentear algum familiar ou amigo. Lembre-se que