Bispos indicados pelo papa Leão XIV criticam política anti-imigração de Trump
As recentes nomeações do sumo pontífice discordam da política anti-imigração adotada pela Casa Branca no governo Donald Trump
14:05 | Dez. 23, 2025
Na última quinta-feira, 18, o bispo Ronald Hicks, recém-nomeado pelo papa Leão XIV para liderar a diocese de Nova York, fez seus primeiros comentários acerca da nomeação. O discurso de Hicks ocorreu, primeiro, em espanhol e só depois ele falou em inglês.
O novo bispo de Nova York já fez declarações públicas de apoio a imigrantes, pedindo justiça e compaixão por eles. Segundo David Gibson, especialista na Igreja dos EUA, "Hicks representa não apenas um novo capítulo para Nova York, mas para a Igreja americana como um todo". Hicks irá substituir Timothy Dolan, um bispo conservador alinhado ao discurso do presidente americano Donald Trump.
Assim como Hicks, outros bispos recém-nomeados pelo papa firmaram posição crítica à política anti-imigração do governo Trump. Os posicionamentos e ações surgem de uma recomendação de Leão XIV para que os sacerdotes sejam firmemente contra o tratamento violento que a Casa Branca dá aos imigrantes.
A política em questão incluiu a implantação de soldados da Guarda Nacional em cidades por todo o país, onde eles fazem varreduras em bairros e entram em confronto com moradores; além de batidas de agentes do Serviço de Imigração e Controle de Alfândega (ICE na sigla em inglês) em locais de trabalho, empresas e nas ruas.
Ações e posicionamentos dos novos bispos
Ainda em dezembro, o papa nomeou o padre Manuel de Jesús Rodríguez como bispo de Palm Beach, na Flórida. Rodríguez é um sacerdote originário da República Dominicana e tem auxiliado famílias que enfrentam processos de deportação pelo ICE. Agora, ele pastoreará a Diocese de Palm Beach, que inclui o resort Mar-a-Lago, uma das propriedades de Trump.
Nomeado para liderar a Igreja em Monterey, na Califórnia, o bispo Ramon Bejarano cresceu em Chihuahua, no México. Em fevereiro, ele participou de protestos juntamente com outras milhares de pessoas no centro de San Diego contra a repressão aos imigrantes.
O novo bispo de San Diego, Michael Pham, é ex-refugiado vietnamita e foi nomeado pelo sumo pontífice em maio. Pham tem acompanhado solicitantes de asilo ao tribunal, numa tentativa de impedir que agentes do ICE os prendam quando vão para as audiências.
Já o bispo de Pittsburgh, Mark Eckman, nomeado pelo papa em junho, chamou as políticas de imigração de "cruéis e desumanas" em uma carta aberta em novembro.
Atualização do papa no conceito de “pró-vida”
Em setembro, o papa criticou o tratamento desumano dado a migrantes nos Estados Unidos e apontou a contradição entre se declarar "pró-vida" e apoiar tais medidas.
"Alguém que diz que é contra o aborto, mas concorda com o tratamento desumano dos imigrantes nos Estados Unidos, não sei se isso é pró-vida", disse o sumo pontífice. Desde então, as nomeações do papa para bispos vêm reformulando o cenário católico dos EUA.
A agenda pró-vida dos bispos americanos se concentrou por décadas em acabar com o aborto legal no país, com seu histórico apoio à marcha anual em Washington e fazendo pressão para derrubar a decisão da Suprema Corte de 1973, agora revogada, que permitia o procedimento.
O que diz a Casa Branca
Em resposta às declarações do papa, que ocorreram em setembro, a Casa Branca disse que Trump foi eleito com a plataforma de deportar imigrantes ilegais criminosos. "Ele está cumprindo sua promessa com o povo americano", afirmou a porta-voz do governo americano, Abigail Jackson.
Em novembro, o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, convertido ao catolicismo, também afirmou ao Breitbart que estava ciente dos comentários do papa e defendeu a agenda anti-imigração. "Toda nação tem o direito de controlar suas fronteiras", disse Vance.
Entretanto, a taxa de aprovação de Trump em relação à política de imigração, que era seu tema mais forte, caiu de 50% em março, antes de lançar repressões em várias cidades dos EUA, para 41% em dezembro. Apesar disso, o presidente americano pretende expandir ações contra imigrantes em 2026.