Mendonça diz que 'bom juiz deve ser reconhecido pelo respeito, não pelo medo'
Mendonça disse que "o ativismo implica na superação da vontade democrática, cujo consenso legítimo pode ser decidido, mas também pode ser não decidir"
16:56 | Ago. 22, 2025
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça criticou nesta sexta-feira, 22, o "ativismo judicial", as interferências do Poder Judiciário em outros Poderes e disse que "um bom juiz deve ser reconhecido pelo respeito, não pelo medo". Segundo o magistrado, "o Judiciário não pode ser fator de criação e inovação legislativa", o que lhe rendeu aplausos do público no 24º Fórum Empresarial Lide, realizado no Rio de Janeiro.
"O Estado de Direito impõe a autocontenção, o que se opõe ao ativismo judicial. O ativismo (judicial) suprime, desconsidera e supera os consensos sociais estabelecidos pelos representantes periodicamente eleitos pelo verdadeiro detentor do Poder, que é o povo", disse.
Para Mendonça, "nós todos precisamos fazer um compromisso público de que o bom juiz tem que ser reconhecido pelo respeito, não pelo medo. Que as suas decisões gerem paz social e não caos, incerteza e insegurança".
Mendonça disse que "o ativismo implica na superação da vontade democrática, cujo consenso legítimo pode ser decidido, mas também pode ser não decidir".
Em junho, o STF decidiu ampliar as obrigações das redes sociais sobre conteúdo produzido por terceiros. Na ocasião, o então presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, afirmou que o Congresso Nacional se omitiu de legislar sobre o tema e, por isso, coube ao Tribunal criar critérios. Mendonça discordou que o STF devesse atuar modificando a lei e defendeu que o papel cabia ao Legislativo.
Na palestra, Mendonça ainda disse que "o ativismo judicial implica no reconhecimento implícito de que o Judiciário tem a prevalência sobre os demais Poderes". O magistrado disse que o Poder Judiciário deveria dar a última palavra no Estado Democrático de Direito, mas não "a primeira e a última".
Para o ministro, o Poder Judiciário é "sintoma e causa" do enfraquecimento da democracia, e impede o amadurecimento dos demais Poderes.
Mendonça, que foi indicado ao cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ainda defendeu a liberdade de expressão e disse que cidadãos devem se expressar "sem medo de serem perseguidos por suas falas públicas, ou de terem suas falas privadas expostas de maneira ilegítima".
O discurso se deu dois dias depois de a Polícia Federal indiciar o ex-presidente e seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), por tentativa de obstrução em processo que corre no STF. No indiciamento, constam mensagens privadas dos políticos que mostram xingamentos, críticas a outros atores da política e um rascunho em que Bolsonaro pedia asilo na Argentina.