Aquiraz pode ganhar título de Capital Nacional da Renda de Bilro
Projeto de lei aprovado no Senado reconhece tradição centenária e busca fortalecer turismo e cultura no município cearense
13:01 | Jun. 30, 2025
Tradição que atravessa gerações em Aquiraz pode ter reconhecimento em lei federal. Foi aprovado na Comissão de Educação e Cultura do Senado o projeto de lei nº 4548/2024, que concede ao Município o título de Capital Nacional da Renda de Bilro.
A aprovação ocorreu no começo de junho. A tramitação ocorreu em caráter terminativo na comissão. Ou seja, sem necessidade de passar pelo plenário, salvo em caso de recurso. Como não houve contestação, a proposta foi remetida na semana passada para votação na Câmara dos Deputados.
De autoria do senador cearense Eduardo Girão (Novo), a proposta pretende valorizar o artesanato típico da região e fomentar o turismo cultural no litoral cearense.
A senadora cearense Augusta Brito (PT) foi a relatora. Em parecer, ela destacou a importância histórica e econômica da renda de bilro para Aquiraz.
"A presença expressiva de rendeiras e a variedade de peças produzidas — que vão de vestuário e decoração a obras de arte — evidenciam a importância dessa tradição para Aquiraz", afirmou a parlamentar.
Ela defende que o reconhecimento nacional pode ampliar a visibilidade do trabalho artesanal e contribuir para sua preservação.
O que as rendeiras dizem sobre a mudança?
A nomeação de Aquiraz como Capital Nacional da Renda de Bilro poderá beneficiar a categoria de trabalhadoras que tem na renda de bilro a fonte de sustento.
Alexandra de Oliveira, 53 anos, presidente da Associação de Rendeiras de Aquiraz, tem 45 anos de dedicação ao ofício. Começou aos 8, aprendendo com a mãe. Desde então, participa de exposições nacionais e internacionais.
"Com a denominação de capital nacional da renda de bilro, acredito que melhorará ainda mais a comercialização do nosso artesanato. Nossa renda será mais conhecida", afirma Alexandra.
Ela também chama atenção para os desafios da profissão. "É uma profissão. Não é reconhecida pelo INSS, mas é uma profissão. A gente, rendeira, não pode se aposentar: fica velhinha e fazendo renda. Mas é muito importante para a gente conservar e manter nossa cultura".
E já adianta que, se a aprovação for confirmada, haverá comemoração. "Ah, sendo nomeada a capital da renda de bilro, vamos sim comemorar demais! Vamos apresentar nossos produtos lindos, a dança da mulher rendeira e vamos ganhar o mundo!", disse, esperançosa.
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Tradição que resiste ao tempo
Em Aquiraz, a renda de bilro é mais que um ofício: é parte da identidade local. A técnica chegou ao Brasil com a colonização portuguesa, encontrou solo fértil no litoral cearense e vem entrelaçando gerações desde então.
O Centro das Rendeiras da Prainha Luíza Távora, na Rua Dr. Mário Gabel, no Loteamento Parque das Fontes, é hoje o principal polo de produção e venda. Inaugurado em 2017, o espaço reúne 38 boxes ocupados por artesãs e foi entregue com a presença do então governador Camilo Santana e da primeira-dama Onélia Santana.
Atualmente, 38 rendeiras fazem parte da associação, mas, segundo Alexandra, estima-se que cerca de 700 mulheres no Município pratiquem a técnica, muitas delas aprendendo o ofício de geração em geração.
Como nasce a renda de bilro?
A técnica artesanal consiste no entrelaçamento manual de fios sustentados por bilros — pequenos bastões de madeira — cruzados sobre uma almofada circular. Um molde chamado pique, pintado à mão, serve de guia para a criação dos desenhos, geralmente florais ou geométricos.
O aprendizado é passado de mãe para filha, mantendo viva uma prática que exige paciência, precisão e criatividade.
"É tradição: filha de renderia aprende a fazer renda", destacou Alexandra.
Produtos com renda de bilro
Entre os itens mais comuns estão:
- Roupas com detalhes em renda: blusas, saias, vestidos
- Roupas de praia: saídas de banho e biquínis
- Acessórios: brincos, colares, bolsas
- Itens de decoração: toalhas de mesa, cortinas, almofadas e quadros
Se aprovado na Câmara, o projeto colocará Aquiraz em destaque nacional como referência de um saber artesanal que resiste ao tempo e segue vivo nas mãos das rendeiras locais.
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