Jovem Pan é condenada a pagar R$ 25 mil a Zanin após comentarista chamá-lo de 'bandido'
Zanin alega que foi chamado de "bandido" por Cristina durante um dos quadros da Jovem Pan
17:07 | Dez. 05, 2023
O Tribunal e Justiça de São Paulo (TJSP) condenou a Jovem Pan e a ex-comentarista do canal de notícias, Cristina Graeml, a pagarem uma indenização no valor de R$ 25 mil ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Cristiano Zanin, por danos morais. O caso não cabe mais recurso. Zanin alega que foi chamado de “bandido” por Cristina durante um dos quadros da Jovem Pan.
A comentarista era considerada uma das mais radicais da emissora e foi dispensada em novembro do ano passado.
O então advogado do presidente Lula (PT) já havia ganhado o processo em duas instâncias, e a Jovem Pan tentava o recurso de embargos de declaração para reduzir a pena ou não cumpri-la. O ministro também conseguiu uma liminar para que o vídeo com a declaração fosse retirado do ar.
Na ocasião, em 7 de outubro de 2022, a comentarista chamou Zanin de “bandido” durante transmissão feita pelo Youtube e pela TV.
“Ganhou milhões do PT para ficar visitando o Lula em Curitiba na cadeia, fazendo companhia, bolando estratégias de defesa. Sofrido, né, coitadinho, apanhou tanto”, disse Cristina à época.
A defesa da comentarista e da Jovem Pan explicou que as declarações se amparam na liberdade de expressão e que discutiu, de forma crítica, os rumos que a Suprema Corte tomaria caso Lula fosse eleito presidente.
No entendimento de Zanin, contudo, Graeml ultrapassou o direito à liberdade de expressão e foi ofensiva com seu nome. Em primeira instância, a Jovem Pan foi condenada a indenizar o ministro em R$ 50 mil.
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A emissora, portanto, recorreu, mas a 2° Câmara de Direito Privado manteve a condenação em segunda instância, reduzindo o valor da indenização para a metade do montante, R$ 25 mil. Depois da derrota, a Jovem Pan entrou com um pedido de embargos de declaração, questionando novamente a decisão.
O relator do caso, desembargador José Carlos Ferreira Alves, negou o pedido de recurso em julgamento feito no dia 29 de novembro. No entendimento dele, a palavra bandido jamais deveria ter sido dita para ofender o ministro.
“Ao rotular um respeitado advogado de ‘bandido’, a requerida evidentemente extrapolou o regular exercício do direito de expressão e de informação praticando ato ilícito na medida em que maculou, injustificada e desnecessariamente a honra e a imagem do apelado, que, inclusive foi sabatinado e aprovado pelo Senado Federal para tomar posse no Egrégio Supremo Tribunal Federal”, disse o relator.
Cancelamento das outorgas de radiodifusão
Em junho deste ano, o Ministério Público Federal (MPF) pediu o cancelamento da concessão da Jovem Pan por desinformação.
Além do cancelamento das outorgas concedidas à rádio, o MPF solicitou indenização no valor de R$ 13,4 milhões por danos morais coletivos. O Ministério Público também acionou a Justiça Federal para a disseminação de 15 inserções diárias, entre as 6h e às 21h, durante um período de quatro meses, com informações sobre a confiabilidade do sistema eleitoral.
A ação do MPF trata apenas do cancelamento das outorgas de radiodifusão, logo, a veiculação da programação da Jovem Pan no Youtube e nos canais de assinatura será veiculada normalmente. Isso ocorre pelo fato de a radiodifusão integrar um serviço público, concedido ou permitido pela União a particulares interessados em explorá-lo.
Em junho, a Polícia Federal (PF) realizou uma operação contra um empresário radialista que assumiu ter contribuído para os atos golpistas de 8 de janeiro durante a programação de uma afiliada da Jovem Pan em São Paulo.
Após a revelação, a rádio publicou um anúncio explicando que havia encerrado o contrato com o empresário ainda em abril deste ano.
“A Jovem Pan esclarece que o empresário Milton Oliveira não faz mais parte do grupo de afiliados da Rede Jovem Pan. O contrato com a DPV Limitada, empresa que administrava a Jovem Pan Itapetininga, foi rompido na tarde de 20 de abril deste ano, mesma data em que o radialista usou o espaço da programação local da afiliada para manifestar apoio aos atos criminosos de 8 de Janeiro e para declarar ter apoiado financeiramente os protestos que levaram à depredação em Brasília”, consta na publicação.
A outorga consiste em um serviço destinado à geração e transmissão de sons (rádio) ou de sons e imagens (TV). As outorgas de rádio da emissora estão em funcionamento em São Paulo e Brasília, contudo, a rede conta com mais de cem afiliadas que transmitem o sinal a centenas de municípios em 19 estados.
A veiculação de informações que incentivam os ouvintes a duvidarem da confiabilidade do sistema eleitoral brasileiro começou a permear a programação antes mesmo do início da corrida eleitoral de 2022.
Nos comentários disseminados pela empresa, os radialistas sustentavam, sem provas, a tese de uma eventual impossibilidade de auditagem dos aparelhos e um provável conluio entre autoridades para definir o resultado da eleição. O argumento de que apenas o voto impresso poderia garantir a lisura das eleições também foi disseminado pela emissora.
Frases como “deixar tudo nas mãos do TSE, sem questionamento, é suicídio eleitoral”, “tudo já se configura, por si só, uma espécie de golpe brando”, contribuíram para que os os ouvintes duvidassem da confiabilidade das urnas.
Dado o fim do segundo turno das eleições de 2022, um dos comentaristas chegou a declarar: “Ou a gente aceita uma eleição sem transparência, sem legitimidade, sem confiança da população, ou a gente aceita tudo isso, e abaixa a cabeça, ou a gente vai ter guerra civil”, para concluir em seguida: “então que tenha guerra civil, pô!”.
Ainda na ocasião, o radialista disse: “As Forças Armadas estão conscientes do momento que estamos vivendo. Agora, elas só agem provocadas por um dos Poderes. Então, nesse ponto, o novo endereço, para o povo que quer se manifestar não é mais os quartéis, o novo endereço é a Praça dos Três Poderes”.
A declaração foi posta em prática por vândalos e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que deixaram o acampamento diante do Exército em Brasília e seguiram rumo à praça e depredaram as sedes do STF, do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto.
O acontecimento foi abordado pela Jovem Pan como algo corriqueiro e a emissora chegou a elogiar o ato, até então pacífico. Além disso, a rádio aproveitou a ocasião para tecer críticas ao Judiciário e ao processo eleitoral.
Quando os golpistas iniciaram a depredação dos prédios, o discurso dos comentaristas passou a ser mais moderado, no entanto, ainda havia tentativa de legitimar as ações terroristas.
Conforme falou um dos comentaristas, “o responsável por essa situação não vai ser encontrado entre os manifestantes. Os responsáveis por essa situação são exatamente os atores políticos que se ausentaram das providências que esses manifestantes em Brasília [e] em todas as unidades da federação têm se manifestado há vários dias”.
“A cobertura feita pela emissora no dia 08/01/2023 é reveladora, porque passagens como as acima transcritas são representativas de discursos disseminados por pelo menos um ano, e que não arrefeceram totalmente nem mesmo quando o Brasil assistia ao mais grave evento da história da redemocratização”, frisaram os procuradores da República autores da ação do MPF, integrantes da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão em São Paulo.