Cesare Battisti dispara contra Evo Morales: "Traidor e covarde"

O ex-ativista de esquerda fugiu para a Bolívia em 2018, após a eleição do atual presidente da República, Jair Bolsonaro. Ele foi condenado à prisão perpétua na Itália

12:32 | Jun. 23, 2022

?Battisti é escoltado pela polícia italiana (foto: Alberto Pizzoli / AFP)

Em correspondências enviadas ao Brasil, Cesare Battisti contou detalhes dos seus últimos dias em liberdade na Bolívia, falou sobre o ex-presidente Lula e classificou Evo Morales como um "traidor e covarde". O início dos envios das cartas ocorreu em 14 de abril de 2021 para o jornal Folha de S.Paulo e perdura até os dias atuais.

Cesare Battisti ficou no Brasil por 14 anos sob a proteção do ex-presidente Lula e de seu partido, PT. Após a vitória de Bolsonaro em 2018, Battisti fugiu para Bolívia, onde ficou poucos meses antes de ser preso pela Justiça italiana. Ele é condenado pela participação direta em 4 homicídios cometidos pelo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), durante os anos de chumbo da Itália, da década de 60 até o fim de 1980.

Evo Morales foi acusado por Battisti de ter cooperado com a polícia da Itália para a apreensão do ex-ativista da esquerda. Segundo carta enviada ao jornal Folha de S.Paulo, Battisti teria dito que Evo era "traidor e covarde". Morales é ex-presidente da Bolívia e também um dos principais líderes da esquerda na América Latina.

"Ele poderia ao menos me fazer ser preso, eu iria responder na Justiça e a extradição seria negada por prescrição e delito político. Evo se vendeu sem escrúpulo. Um gesto desprezível de um homem indigno que revelou toda sua obscenidade meses depois, ao abandonar o próprio povo aos golpistas para fugir", escreveu Battisti sobre Morales.

Santa Cruz de la Sierra foi o refúgio dos últimos dias de liberdade de Battisti. Ele também afirmou que durante o fim de ano de 2018 e inicio de 2019 foi recebido no país por um representante do MAS (Movimento ao Socialismo), partido de Morales. E, além de ser recepcionado, ficou em um "alojamento dentro de um centro de monitoramento informatizado, montado pelo serviço de inteligência boliviano para espiar a oposição".

Ainda de acordo com Cesare, após a confissão dos seus crimes, Lula e outros apoiadores da esquerda se distanciaram dele. PT, Psol e PSTU foram alguns dos principais defensores de Battisti enquanto ele esteve no Brasil. Em relação ao ex-presidente, declarou: 'Ttodos sabemos que Lula é capaz de tudo para colocar de novo a faixa de presidente. O animal político que nunca se contradiz. Aconteceu também comigo de admirar seu cinismo político (no sentido vulgar do termo) e o extraordinário jogo de cintura".

O ex-deputado federal Fernando Gabeira foi o primeiro contato de Cesare Battisti no Brasil, em 2004: "Quando Gabeira foi candidato no Rio em uma coalizão de direita, aconselharam ele a me renegar (a mesma história de Lula). Eu lamentava por ele não ter me aconselhado bem. Enquanto eu queria me entregar às autoridades para pedir refúgio, ele dizia que não era o caso, e assim eu fiquei semiclandestino de 2004 a 2007. Acredito que no passado Gabeira foi um bom político e um amigo, mas ele também foi devorado pelo jogo do poder", disse Battisti sobre o ex-deputado federal.

Defesa

Arrigo Cavallina, ex-terrorista e fundador da PAC, cumpriu 12 de anos de pena e disse que pode haver uma "vingança do Estado" contra o ex-colega. "Ele criou um personagem, um mito, para se proteger. Battisti não poderia admitir esses crimes como refugiado. Entendo que fez isso para sobreviver", disse Cavallina.

Na época em que Cavallina e Battisti se conheceram, a Itália passava por um regime rígido contra atentados terroristas. Uma das maiores ações terroristas na Itália foi contra o ex-primeiro-ministro Aldo Moro, em 1978. Ele foi sequestrado e morto pelas Brigadas Vermelhas, maior grupo terrorista da esquerda.

Abrigado em uma associação para penas alternativas e destinado à recuperação social de presos, Arrigo Cavallina comenta sobre a pena perpétua do ex-colega. "Ele poderia cumprir uma pena alternativa, talvez fazendo algo em benefício das vítimas e do Estado. Da forma como está, paga-se um mal contra outro mal". Em uma das cartas enviadas Battisti fala: "Não reconheço a imagem que pintaram de mim, esse ser não sou eu".