Em discurso antivacina, Bolsonaro coloca em dúvida eficácia da imunização para crianças

Bolsonaro insinuou ainda, mesmo sem provas, que a Anvisa e "pessoas taradas por vacina" poderiam ter "interesses" ocultos no aval à aplicação das doses da Pfizer

17:14 | Jan. 06, 2022

(Brasília - DF, 02/06/2021) Pronunciamento do Presidente da República, Jair Bolsonaro. Foto: Anderson Riedel/PR (foto: Anderson Riedel/PR)

O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a criticar, nesta quinta-feira, 6, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pela autorização à vacinação infantil contra a Covid. Em entrevista à emissora pernambucana TV Nova, ele usou de um discurso nada científico para colocar em dúvida a eficácia do imunizante da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos.

O chefe do Executivo nacional disse desconhecer que alguém nessa faixa etária tenha morrido em decorrência da doença no Brasil. Ao contrário do que disse o presidente, informações do SIVEP-Gripe, base de dados do Sistema Único de Saúde (SUS), mostram que 301 crianças e adolescentes de 5 a 11 anos morreram em razão da pandemia desde março de 2020. No total, foram 6.163 casos registros. 

Reportagem do UOL ressalta que, em 2020, data do início da pandemia, foram 156 mortes. Já no ano passado, o sistema nacional de saúde contabilizou 145 óbitos no público de 5 a 11 anos. Esses números representam uma incidência de 29,96 casos e 1,46 óbitos a cada cem mil habitantes do grupo etário de referência.

Nesta quinta, Bolsonaro pediu que pais e mães "conversem" entre si e com vizinhos para decidir a possibilidade de vacinar ou não os respectivos filhos. Ao defender que esse público não estaria sujeito a complicações decorrentes da contaminação por Covid-19,  presidente buscou desencorajar a imunização da faixa etária de 5 a 11 anos. 

"Eu pergunto: você tem conhecimento de alguma criança de 5 a 11 anos que tenha morrido de covid? Eu não tenho. Na minha frente tem umas 10 pessoas aqui. Se alguém tem, levanta o braço. Ninguém levantou o braço na minha frente", disse o chefe do Planalto.

A Anvisa já confirmou que o produto da Pfizer é "seguro e eficaz na prevenção da covid-19 sintomática, na prevenção das doenças graves, potencialmente fatais, ou condições que podem ser causadas pelo [vírus] Sars-CoV-2". A informação foi comunicada oficialmente pela entidade em 22 de dezembro, seis dias após a reunião que resultou na aprovação do uso do imunizante.

Bolsonaro insinuou ainda, mesmo sem provas, que a Anvisa e "pessoas taradas por vacina" poderiam ter "interesses" ocultos no aval à aplicação das doses da Pfizer desenvolvidas especificamente para crianças e adolescentes.

"A própria Pfizer diz: outros possíveis efeitos colaterais podem acontecer a partir de 22, 23 e 24. E você vai vacinar teu filho? Contra algo que o jovem por si só, uma vez pegando o vírus, a possibilidade de ele morrer é quase zero? O que está por trás disso? Qual é o interesse da Anvisa por trás disso aí? Qual é o interesse daquelas pessoas taradas por vacina? É pela sua vida, pela sua saúde? Se fosse, estariam preocupadas com outras doenças no Brasil", afirmou o presidente.