Proposta após "caso Safadão", CPI dos fura-filas trava na Câmara de Fortaleza

Oposição conseguiu só dez das 15 assinaturas necessárias para criação de grupo; proposta recebeu apoio de dois membros da base de José Sarto

14:23 | Ago. 10, 2021

Wesley Safadão, a esposa Thyane Dantas e a produtora Sabrina Tavares recusaram acordo do MPCE sobre caso da vacinação irregular contra a Covid-19 (foto: WHATSAPP)

Está travada na Câmara Municipal proposta que quer criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar possível auxílio de agentes públicos a pessoas que “furaram a fila” da vacinação em Fortaleza. Quase um mês após o início das articulações, a oposição reuniu apenas dez das 15 assinaturas necessárias para a instalação do grupo.

A dificuldade ocorre sobretudo pois apenas a oposição de centro-direita e direita, mais ligada ao grupo do deputado Capitão Wagner (Pros) e ao bolsonarismo, abraçou a proposta. Vereadores de oposição da esquerda, incluindo três parlamentares do PT e dois do Psol, não assinaram o pedido do vereador Julierme Sena (Pros).

Segundo o líder da oposição, vereador Márcio Martins (Pros), o “estopim” para a ação foi o caso envolvendo Thyane Dantas, esposa do cantor Wesley Safadão, vacinada em julho mesmo sem constar no sistema de vacinação da Prefeitura. O Ministério Público do Ceará (MP-CE) e a Secretaria da Saúde de Fortaleza abriram investigações sobre o caso.

Curiosamente, no entanto, a proposta recebeu adesão de dois integrantes da base aliada do prefeito José Sarto (PDT), Enfermeira Ana Paula (PDT) e Marcelo Lemos (PSL). O vereador Jorge Pinheiro (PSDB), que se diz independente mesmo com a participação do PSDB na gestão pedetista, também assinou o pedido de CPI da oposição.

Já outros nomes eleitos pela oposição, como Ronaldo Martins (Republicanos) e Bruno Mesquita (Pros), ainda não assinaram a proposta. Nos últimos meses, os dois têm evitado entrar em conflitos com a gestão Sarto no parlamento. Na próxima quarta-feira, Julierme Sena se reunirá com Ronaldo Martins para tentar convencer ele a aderir à iniciativa.

“Nós já tínhamos feito alguns pronunciamentos cobrando mais transparência nessa questão das filas. Alguns dos vereadores tinham feito inclusive requerimentos (sobre a questão de “fura-filas”)”, diz Márcio Martins. “Mas aí o caso da Thyane aguçou, com toda certeza, demonstrou a facilidade com que se tem isso. E não existe em lugar nenhum, do Brasil ou do mundo, que se fure fila sem a contribuição dos agentes públicos”, diz.

Até agora, no entanto, a oposição ainda precisa de cinco assinaturas para a instalação do grupo. Em conversa com O POVO, Julierme Sena destaca que ainda faz articulações de olho em viabilizar a instalação do grupo. As conversas buscam sobretudo o grupo de parlamentares de oposição pela esquerda com PT e Psol.

Vice-líder do governo na Câmara, o vereador Léo Couto (PSB) já minimizou a necessidade de instalação da CPI, destacando que possíveis casos de “fura-fila” já são investigados pelo MP-CE e pela própria Prefeitura. “O que não posso admitir é que alguns vereadores estejam querendo criar um palanque político para crescer em cima disso aí”, afirma.

“Ano que vem é ano eleitoral, e o que está sendo feito é criando uma situação de campanha antecipada. E eu acho que não é o momento para isso, ainda mais para assunto que é tão importante para a população, que tantas pessoas estão perdendo a vida”, diz. “Essa possível situação de fura-fila já estão sendo apurados pelos órgãos competentes”.