Cidades com prefeita tiveram 43% menos mortes por Covid-19 do que cidades com prefeito

O estudo constatou ainda que se metade dos municípios do Brasil fossem liderados por mulheres, mais de 75 mil pessoas ainda estariam vivas

13:26 | Jul. 19, 2021

Cidades com prefeita em vez de prefeito tiveram 43% menos mortes por Covid-19. Na foto, a primeira-ministra da Nova Zelância, Jacinda Arden (no centro da mesa) (foto: Reprodução/Facebook)

Um recém estudo publicado pelo economista Raphael Bruce, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), oferece a primeira evidência de que ter mulheres no poder durante uma pandemia ajuda a salvar mais vidas do que ter um homem na cadeira. Junto com colegas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Barcelona, o pesquisador assina o trabalho científico "Sob pressão: a liderança das mulheres durante a crise da Covid-19", ainda sem revisão por outros cientistas. 

No trabalho, divulgado pelo jornal Folha de S.Paulo, Bruce e seus colegas usam os mais de 5 mil municípios do Brasil como uma espécie de laboratório. Após análises, a conclusão foi que municípios com prefeita tiveram, em média, 25,5 mortes por 100 mil habitantes a menos do que aqueles em que os chefes do Executivo local eram homens — uma diferença de 43,7% na mortalidade.

Em relação às hospitalizações, os registros mostram uma redução média de 30,4% em internações por 100 mil habitantes nos municípios com prefeitas em relação ao mesmo dado de cidades com prefeitos. Como referência no combate à covid-19, em 2020, Bruce lembrou do exemplo da Nova Zelândia, região onde apenas 26 pessoas morreram em decorrência da pandemia.

No país, a primeira-ministra Jacinda Arden obteve bons resultados sanitários. Ela chegou a ser comparada a outros líderes com menor desempenho, como o ex-presidente americano Donald Trump e Jair Bolsonaro, chefe do Executivo nacional brasileiro, cujos países registraram juntos mais de 1,1 milhão de mortes por infecções.

Junto aos desempenho de outras governantes mulheres durante a pandemia, como as líderes de Bangladesh e Taiwan, um padrão começou a ser imaginado por economistas brasileiros. "A gente decidiu investigar se ter uma mulher na gestão da crise sanitária poderia levar a uma diferença das políticas públicas adotadas e causar desfechos melhores do que ter um homem nessa mesma função", afirma Raphael Bruce. 

Além dos resultados, os autores afirmam ainda que se metade dos 5.568 municípios do Brasil fossem liderados por mulheres, o país poderia ter, nesse momento, 15% menos mortes, ou seja, mais de 75 mil pessoas ainda estariam vivas. Hoje, menos de 13% das prefeituras do Brasil são comandadas por mulheres.

Em outra análise, os pesquisadores constataram que municípios com mulheres no comando adotaram em uma frequência 10% maior esse tipo de medidas não farmacológicas de combate à pandemia. O número de prefeitas que determinou o uso obrigatório de máscaras superou em oito pontos percentuais o de homens no comendo. Na obrigatoriedade de testes para entrar nos municípios, as mulheres superaram os homens em 14 pontos percentuais. E na proibição de aglomeração, em cinco e meio pontos percentuais.