Tasso diz que governo "é um Frankenstein" e que Bolsonaro não assumiu papel de presidente

O senador disse ainda não acreditar na transformação do PSDB em um partido de direita e critica em particular áreas como as Relações Exteriores. Sobre a reforma da Previdência, que deverá relatar no Senado, Tasso afirma que a proposta é boa, mas precisa de ajustes

14:03 | Mar. 18, 2019

(foto: fotos divulgação)>

O senador cearense Tasso Jereissati (PSDB) já foi anunciado relator da reforma da Previdência, quando o projeto chegar ao Senado. Ele afirma que nunca o momento foi tão propício para aprovar a reforma. Porém, em entrevista ao jornal Valor Econômico, critica com duzera a articulação política do governo Jair Bolsonaro (PSL).

"A primeira dificuldade vem do próprio governo, com bate-cabeças e bobagens ditas e feitas pelo presidente, assuntos secundários e polêmicos levantados desnecessariamente, trazendo para dentro do Congresso discussões e rejeições. Há uma falta de foco do governo", afirmou.

O senador afirma que a articulação do governo "está bagunçada", com grupos de opiniões divergentes e que não se entendem. "O governo não tem cara. É um monstro, um Frankenstein com um pedaço de cada, um objeto disforme".

Na opinião de Tasso, falta que o presidente "assuma o controle" e aponte "qual é a cara do governo". "Parece que Bolsonaro ainda não assumiu o papel de presidente da República do Brasil. Essa é a sensação que passa. Ele não sentou e falou 'eu sou o presidente de todos e quero harmonia'. Ao contrário: ele está fomentando a discórdia. É a antítese do que um presidente quer para o seu governo. Ele não pode sair por aí dizendo qualquer coisa, polêmica, às vezes fora da realidade, que pode até ser a opinião pessoal dele, mas não é a do país. E agora ele fala pelo país. O país que ele propõe é qual? O do Ernesto Araújo?".

Sobre o ministro, aliás, Tasso é particularmente crítico. O senador define as Relações Exteriores como "um desastre" e salienta que é é uma visão "completamente diferente" do que pensa o PSDB. "Não é nossa visão de mundo nem de vida".

A respeito da mudança da embaixada brasileira para Israel, ele qualifica como "bobagem desnecessária". "Não é uma discussão que nos interessa economicamente nem é uma questão relevante para a população brasileira. Terá repercussões comerciais importantes. Os Estados Unidos têm motivo para entrar nesse ponto, nós não".

PSDB à direita

Tasso afirmou ainda não acreditar que o PSDB vai se tornar um partido de direita. "Esse espaço da direita está ocupado pelo PSL e pelo Bolsonaro". Ele acrescenta que não é essa a origem ou a vocação do PSDB. "Fomos criados com uma visão social-democrata com democracia cristã. De lá para cá, fomos solidificando o PSDB como partido de centro". Posição que, salienta Tasso, tem desvantagens. "Somos atacados pela direita e pela esquerda (risos)".

O senador explica como vê a posição do PSDB: "Nosso espaço é este, uma visão liberal na economia, bastante liberal nos costumes e que vê o Estado como elemento regulador e atuante na questão dos desequilíbrios sociais".

Caso, ainda assim, o partido acabe levado para a agenda à direita, Tasso diz que terá visão diferente.

Reforma da Previdência

Apesar das divergências, Tasso disse que a proposta da Previdência é boa, no geral. No entanto, defende ajustes. Ele critica, também, a condução em vários aspectos. A começar pelo prazo. "O tempo ótimo para dar rumo na discussão, que era fevereiro, já passou". Para ele, a aprovação precisa ocorrer na Câmara dos Deputados até julho. "Voltando do recesso parlamentar sem ter resolvido na Câmara, vai ficar muito difícil. Passa uma coisinha ou outra, mas bem magrinha".

Além disso, o fato de a Desvinculação das Receitas da União (DRU) tramitar simultaneamente atrapalha, na opinião dele. "Porque você cria resistências. Muita gente que potencialmente votaria a favor da Previdência passará a ser contra. (...) Cria um núcleo de insatisfação por uma ação errada do próprio governo".

Outra crítica é sobre o Benefício de Prestação Continuada (BPC), que prevê pagar menos que o salário mínimo a idosos com menos de 70 anos. "Foi algo muito mal recebido. É o único ponto unanimemente mal recebido. Não sei porque foi colocado dentro da reforma, visto que nem Previdência é, é outra modalidade. Deveria ser tirado".