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População foi induzida a acreditar que Copa resolveria problemas crônicos e se frustrou

19:16 | 07/08/2013
A euforia com o anúncio de que o Brasil sediaria a Copa fez as autoridades e os organizadores cometerem um erro de comunicação, que levou a população a acreditar que o evento resolveria problemas crônicos do país e gerou frustração, disse nesta quarta-feira, 7, o coordenador de Projetos da Fundação Getulio Vargas (FGV), Pedro Trengrouse, no 2º Seminário de Gestão Esportiva da FGV. "Nós prometemos demais e entregamos de menos, porque a Copa do Mundo nunca teve esse poder e nunca vai ter".
[SAIBAMAIS 2] "O governo fez uma matriz de responsabilidades muito ampla, incluindo obras de aeroportos, portos, segurança pública, ou seja, uma série de investimentos que já deveriam ou já poderiam ter sido feitos e que deveriam acontecer com ou sem a Copa. Boa parte estava prevista pelo PAC. Tentou-se aproveitar a Copa do Mundo para acelerar esses investimentos e, com isso, passamos para a população a impressão de que a Copa viria para resolver uma série de problemas crônicos e estruturais do Brasil”, disse.

Para Trengrouse, o verdadeiro legado da Copa do Mundo precisa ser a modernização do futebol no país, começando pelo calendário desportivo, que, na visão dele, prejudica os clubes pequenos e impede o crescimento do mercado. Para isso, ele defende que a Federação Internacional de Futebol (Fifa) lidere um processo de reflexão com a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e as federações estaduais e aproveite a paralisação do calendário no ano que vem para reestruturá-lo.

"Nós temos 783 times profissionais e apenas 100 jogam o ano inteiro. São 683 times que jogam quatro meses por ano e dispensam toda a sua comissão técnica, jogadores e profissionais porque não têm atividade o ano inteiro. Essa base da pirâmide poderia gerar R$ 600 milhões e 30 mil empregos se jogasse o ano todo", disse Trengrouse, que defendeu o maior número de campeonatos locais. "A alteração de calendário pode ser o ponto de partida para pensar toda a estrutura de receitas do futebol no país, porque as receitas decorrem das competições, do público, da relevância das partidas, da qualidade do espetáculo e também, é óbvio, da experiência que um estádio novo como esses de agora pode proporcionar".

Outro ponto em que é preciso modernizar o futebol é na gestão dos clubes, segundo o professor. "É do século 19", criticou. Para ele, a Fifa deve promover a experiência entre clubes brasileiros e estrangeiros e as federações de futebol nacional podem seguir o exemplo das europeias definindo modelos de gestão para seus membros. A modernização pode levar o futebol brasileiro a gerar 2 milhões de empregos, em vez dos 370 mil atuais, movimentando R$ 62 bilhões, em vez de R$ 11 bilhões.

Trengrouse também cobrou da Fifa mais iniciativa para organizar um grande número de eventos de exibição pública que respeitem as particularidades do país, o que, para ele, é a única forma de oferecer à população uma experiência diferente das Copas que ocorrem em outros países: "Somos 200 milhões de brasileiros para 4 milhões de ingressos, dos quais metade já está comprometida com os patrocinadores e a outra metade é para todo o mundo. A questão não é só o preço. É preciso reconhecer que o povo brasileiro é apaixonado por futebol e não quer no Brasil a mesma experiência que ele teria se fosse no Japão, na Alemanha ou na África do Sul, que é a experiência de assistir pela televisão simplesmente", analisou o pesquisador. "É uma questão de inclusão social".

Na palestra, ele defendeu as exibições públicas em telões como medida de segurança. "Se não for planejado, eles vão acontecer sem planejamento e colocarão em risco a multidão".

Agência Brasil

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