Famílias pedem justiça no décimo aniversário de tragédia na boate Kiss

20:41 | Jan. 27, 2023

Por: AFP

Duzentos e quarenta e dois balões brancos foram soltos nesta sexta-feira (27) em Santa Maria, interior do Rio Grande do Sul (RS), em homenagem aos mortos em um incêndio na boate Kiss, enquanto familiares e amigos das vítimas clamavam por justiça, no dia em que a tragédia completa dez anos.

"Nós acreditamos que a justiça é didática e exemplar, sem ela não se aprende e não se dá exemplo de punição. (Precisamos dela) para que nunca mais se repita essa tragédia horrível", disse à AFP Fátima de Oliveira Carvalho, 69 anos, em cuja camisa branca estava estampada a foto de seu filho.

Rafael Paulo Nunes de Carvalho, que hoje teria 42 anos, foi uma das vítimas do incêndio ocorrido na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013 na boate dessa cidade do interior do Rio Grande do Sul. O fogo começou depois que um integrante do grupo Gurizada Fandangueira acendeu um artefato pirotécnico que acabou incendiando o revestimento acústico, feito de espuma, e transformou a boate uma armadilha mortal para centenas de jovens que participavam de uma festa universitária.

A investigação oficial determinou que muitos morreram asfixiados pela nuvem tóxica gerada pela combustão da espuma inflamável do revestimento acústico do local, onde os extintores não funcionavam e que tinha apenas duas portas frontais para evacuar a multidão, além de deficiências na sinalização.

"Essa tragédia não é só uma tragédia de Santa Maria, é do Brasil inteiro e do mundo inteiro, porque pode acontecer em qualquer lugar, a qualquer momento. A falta de punição é o que pode desencadear que outras tragédias como essa aconteçam", afirmou Fátima de Oliveira Carvalho.

O décimo aniversário do incêndio acontece cinco meses depois de a Justiça libertar e anular as sentenças contra os quatro únicos condenados: dois integrantes do grupo musical e dois empresários.

Em agosto de 2022, a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (TJ-RS) anulou todo o processo do júri, desde a fase de seleção dos jurados até a sentença. A decisão foi fundamentada em diversas nulidades processuais, em especial o método de seleção dos jurados, que não seguiu o regimento do Código de Processo Penal.

Atualmente, o processo está à espera de que o TJ decida a admissão dos recursos movidos pela acusação e pelas defesas, entre eles os pedidos de retomada do julgamento e da prisão provisória dos réus.

Foi "uma das noites mais tristes da nossa história, que deixou marcas irreparáveis e uma cidade que até hoje pede por justiça. Minha solidariedade aos familiares e amigos das vítimas", publicou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Twitter.

Familiares e amigos das vítimas prestam homenagens a seus entes queridos desde a noite de quinta-feira, com a presença de dezenas de pessoas no local onde ficava a boate.

Lá, em uma das paredes, flores foram depositadas juntamente com fotos das vítimas e um cartaz branco com a mensagem "Resgatar a memória é construir o futuro".

"Às vezes me pergunto se é dolorido. Sim, é muito dolorido, mas a gente tem que vir justamente para pedir, organizar esta luta. Isso não é vingança, isso é justiça", disse Elizete Nunes Andreatta, uma professora de 59 anos. Seu filho Ariel Nunes Andreatta, que hoje teria 28 anos, foi uma das vítimas do incêndio, que também deixou centenas de feridos.

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