Boeing enfrenta parentes das vítimas de acidentes com 737 MAX na justiça dos EUA
15:26 | Jan. 26, 2023
A Boeing vai enfrentar judicialmente nos Estados Unidos, nesta quinta-feira (26), os familiares dos passageiros mortos em acidentes com dois modelos 737 MAX, que pedem a revisão de um acordo entre a fabricante de aeronaves e o Governo americano.
Na audiência em Fort Worth, no estado do Texas, um representante da Boeing deverá se declarar culpado ou inocente das acusações contra a empresa por seu papel nos acidentes com um avião da companhia Lion Air, em 2018, e um da Ethiopian Airlines, em 2019, que deixaram um total de 346 mortos.
Em seguida, os familiares das vítimas vão tomar a palavra para defender sua causa.
O Departamento de Justiça americano chegou a um acordo com a Boeing em janeiro de 2021, acusando a empresa de ter induzido o controlador de aviões ao erro no processo de autorização do MCAS, sistema-chave do avião, que teria sido a causa do acidente, mas ao mesmo tempo, concedendo-lhe alguma imunidade.
O chamado Acordo de Acusação Diferido (DPA, na sigla em Inglês), que incluía o pagamento de US$ 2,5 bilhões em multas e indenizações, prevê que o departamento retire a acusação depois de três anos caso a empresa cumpra determinadas condições.
Os familiares das vítimas, no entanto, alegam não terem sido consultados sobre a decisão e solicitaram ao juiz encarregado que anule o acordo, que consideram muito complacente.
O juiz responsável pelo caso, Reed O'Connor, reconheceu em outubro que as famílias poderiam ser consideradas "vítimas de um crime" e, portanto, tinham direito a serem ouvidas. Na semana passada, ele convocou a Boeing para uma audiência.
Os demandantes gostariam que o juiz que revisasse o acordo, em particular para impor um auditor independente à Boeing, de acordo com um documento adicionado ao processo na quarta-feira (25), no qual consideram que a companhia "cometeu o crime mais mortal já cometido por uma empresa na história dos Estados Unidos".
"Acreditamos que a Boeing recebeu favorecimento", disse à AFP o advogado das vítimas, Paul Cassell, acrescentando que "este é um caso que envolve a morte de 346 pessoas. Por que não querem que uma equipe independente garanta que o comportamento criminoso não volte a acontecer?".
A Boeing e o Departamento de Justiça americano se recusam a renegociar o acordo.
Na ata da acusação, o departamento havia atribuído a culpa aos funcionários da empresa, mas não à direção da mesma.
Os promotores também disseram que não havia necessidade de nomear um auditor independente, pois o delito "não foi generalizado" ou "facilitado por funcionários de alto escalão".
Em apoio às acusações dos familiares, a autoridade americana dos mercados financeiros dos EUA censurou a empresa e seu então CEO, Dennis Muilenburg, em setembro de 2021 por terem emitido várias mensagens afirmando, após os dois acidentes fatais, que o 737 MAX não representava um risco, mesmo sabendo que o sistema MCAS era um problema.
Sem reconhecer ou negar as conclusões da autoridade, a Boeing inicialmente havia aceitado pagar US$ 200 milhões. Porém, não está claro se o juiz vai acolher o pedido dos familiares.
"O juiz poderia anular a DPA, mas acho improvável", disse John Coffee, professor da Universidade de Columbia, para quem o acordo se mostra um indicativo de que as autoridades não buscam condenar ferozmente as grandes empresas.
Questionado na última quarta (25) pela CNBC, o presidente da Boeing, Dave Calhounn, não quis se alongar sobre o caso, mas disse que é normal que as famílias se aproveitem de qualquer ocasião para compartilhar suas insatisfações.
"Isso lembra (....) até que ponto a segurança é importante", declarou.
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