Cúpula da América do Norte, entre a integração e as disputas comerciais
13:54 | Jan. 10, 2023
Os presidentes de Estados Unidos, Joe Biden, e México, Andrés Manuel López Obrador, e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, reúnem-se nesta terça-feira (10) para promover a competitividade, a luta contra a mudança climática e a cooperação em segurança, tendo suas disputas comerciais como pano de fundo.
O encontro acontece no palácio presidencial, na Cidade do México, como parte da 10º Cúpula de Líderes da América do Norte. Juntas, as três economias contribuem com 28% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.
Antes da reunião, a Casa Branca divulgou uma lista de acordos entre os três países, que inclui o desenvolvimento da indústria vital de semicondutores e uma redução de 15% nas emissões de metano até 2030.
O documento anuncia, ainda, o desenvolvimento de um site para que os migrantes tenham acesso com antecedência às orientações necessárias, antes de partirem para a região, assim como uma maior troca de informações para detectar os produtos químicos usados na fabricação do fentanil. Esta potente droga sintética já causou milhares de mortes nos Estados Unidos.
"A cooperação da América do Norte torna nossos países mais seguros, nossas economias mais competitivas e nossas cadeias de suprimentos mais competitivas", disse Washington, no documento.
Os três países apostam no fortalecimento do USMCA, o acordo de livre-comércio que substituiu o Nafta e lhes traz amplos dividendos: as trocas comerciais chegaram a US$ 3 milhões por minuto entre janeiro e outubro passado.
Com isso, tornou-se um bloco econômico 50% e 55% maior do que China e União Europeia, respectivamente, segundo o Instituto Mexicano de Competitividade (IMCO).
Após se reunir com empresários na segunda-feira (9), o premiê canadense lembrou, em uma mensagem, que seu governo e o do México trabalharam arduamente para manter o tratado regional ante as ameaças do então presidente Donald Trump (2017-2021) de retirar os Estados Unidos.
"Sabemos que há muito trabalho a ser feito, que sempre temos de estar de prontidão contra as forças políticas que vêm e vão e exercem pressão, mas, posso dizer para vocês [...], temos muitas oportunidades", declarou Trudeau.
Os três líderes se reúnem em um contexto geopolítico complexo, que pode gerar maior competitividade na região.
Neste cenário, "entrecruzam-se a invasão da Ucrânia pela Rússia e a consequente crise energética na Europa, a política de 'covid zero' na China, assim como a tendência para a regionalização das cadeias de valor", afirma o IMCO.
Os três líderes apostam na fabricação dos vitais semicondutores, com os quais Washington quer reduzir sua dependência da Ásia, e na energia limpa. Para isso, a Casa Branca anunciou, nesta terça-feira, um fórum com seus parceiros para aumentar os investimentos nessa indústria.
Em agosto, Biden assinou uma lei para promover o desenvolvimento e a produção de semicondutores nos Estados Unidos por meio de subsídios, pesquisa e desenvolvimento, de cerca de US$ 52 bilhões, ante o temor de que a China se torne a potência mundial do setor.
O México anunciou, então, sua intenção de aderir ao plano, para o qual dispõe de reservas de lítio, agora nacionalizadas. Seu tamanho é desconhecido.
O México quer transformar essa região em um polo de desenvolvimento com o Plano Sonora. Este inclui a exploração do lítio - crucial para o desenvolvimento de novas tecnologias e carros elétricos -, a produção desses veículos mediante a realocação de montadoras e a construção de usinas de energia solar.
Washington expressou seu apoio a esta estratégia, que requer investimentos de US$ 48 bilhões, como parte de seus esforços contra a mudança climática.
Sobre a Cúpula, pairam as disputas entre os três membros do USMCA por diferentes questões. Entre elas, está a política energética mexicana, que busca limitar a participação estrangeira no setor.
Washington e Ottawa consideram que as medidas de López Obrador favorecem a estatal Comissão Federal de Eletricidade em detrimento das empresas privadas, considerando-as violadoras do tratado.
O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, antecipou que as consultas no âmbito do USMCA "ajudaram a esclarecer a natureza das preocupações dos Estados Unidos e possíveis caminhos a seguir", antes de escalar o caso.
Previamente ao encontro trilateral, organizações empresariais dos países envolvidos pediram "uma resolução rápida" dessas controvérsias.
Desde que o USMCA entrou em vigor, em julho de 2020, foram registradas 17 disputas comerciais, ante 77 durante o Nafta (1994-2020).
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