Sinn Fein a um passo do poder na Irlanda do Norte

09:47 | Mai. 03, 2022

Durante anos, os líderes do Sinn Fein estiveram banidos das ondas de rádio no Reino Unido e na Irlanda. Agora, o partido nacionalista, com uma nova geração de líderes, almeja uma vitória histórica nas eleições locais na Irlanda do Norte na quinta-feira.

Outrora uma vitrine política para o Exército Republicano Irlandês (IRA), o Sinn Fein está prestes a se tornar o principal partido na Assembleia da Irlanda do Norte, algo nunca visto antes na história da província britânica.

Tal vitória consagraria uma nova geração entrando na política após os acordos de paz da Sexta-feira Santa de 1998, que encerraram três décadas de conflito sangrento.

Após o abandono da violência do IRA na década de 1990, o Sinn Fein tornou-se mais presente no cenário político. Em 2018, Gerry Adams, líder emblemático do partido, cedeu seu lugar a uma nova geração liderada pela jovem Michelle O'Neill.

Segundo pesquisas, esta mulher de 45 anos, atualmente vice-primeira-ministra do governo compartilhado com o partido unionista DUP, está a caminho de alcançar o que era impensável há alguns anos: ser a primeira líder da Irlanda do Norte a sair das fileiras nacionalistas, predominantemente católicas.

Isso marcaria um ponto de virada para o partido e para o Reino Unido e a Irlanda um século após a criação do que os unionistas chamam de "Estado protestante para um povo protestante" na Irlanda do Norte.

Os unionistas, defensores ferrenhos de manter a Irlanda do Norte dentro do Reino Unido, estão no poder desde que a província britânica foi criada em 1921, quando o resto da ilha escapou ao controle de Londres.

O Sinn Fein, cuja razão de ser é a reunificação da ilha da Irlanda, aproxima-se do seu sonho, dominando também as pesquisas de opinião ao sul da fronteira.

Porém, mais do que a ideia de reunificação, são as posições de esquerda do Sinn Fein que atraem um eleitorado mais jovem, sobrecarregado por problemas de moradia e emprego desde a crise financeira de 2008 que atingiu a Irlanda.

"Eles têm líderes mais jovens e dinâmicos, como Mary Lou McDonald e Michelle O'Neill, que se expressam bem e atacam o status quo", explica à AFP Deirdre Heenan, professora de política social da Universidade de Ulster.

Mas, segundo ela, não há opinião atual a favor de um referendo sobre a reunificação.

"Depois do Brexit, as pessoas querem estabilidade e alguém para lidar com a crise do custo de vida", diz.

As tendências eleitorais e demográficas favorecem os nacionalistas, já que a população unionista está envelhecendo mais rápido, de acordo com Heenan.

Michelle O'Neill, profundamente republicana com um pai que foi preso por atividades relacionadas ao IRA, enfatiza questões como poder aquisitivo e acesso à saúde.

"É extraordinário que um partido político possa reivindicar uma mudança real depois de estar no poder por 14 anos", diz Heenan. "Eles concorrem ao mesmo tempo como oposição e governo" devido a sua coalizão com o DUP.

Embora a vitória pareça mais próxima do que nunca, o avanço do Sinn Fein tem sido constante desde 2007 na Irlanda do Norte, com a eleição de Martin McGuinness como vice-primeiro-ministro ao lado do fundador do DUP, Ian Paisley.

O ex-comandante do IRA formou uma aliança improvável com o pastor protestante. Mas a dupla deu certo e ganhou o apelido de "Chuckle Brothers". Ambos já faleceram.

Dos 90 assentos na Assembleia da Irlanda do Norte, o Sinn Fein detém atualmente 26, o mesmo que o DUP. Embora tenha se afastado de suas raízes militantes e socialmente conservadoras, o partido ainda não reconhece nenhuma soberania britânica na Irlanda e sete de seus atuais parlamentares se recusam a sentar-se na Câmara dos Comuns em Londres.

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