Mesmo com a diplomacia, as armas terão a palavra final na Ucrânia

12:10 | Mar. 12, 2022

As primeiras discussões entre Rússia e Ucrânia na Turquia reviveram uma esperança fugaz de uma solução negociada, mas analistas consultados pela AFP estimam que as armas terão a última palavra na resolução do conflito.

Organizada pelo ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlüt Cavusoglu, a negociação de duas horas na quinta-feira entre os chefes diplomáticos da Rússia e da Ucrânia, Sergei Lavrov e Dmytro Kuleba, terminou sem progresso além da vontade de ambos de continuar o diálogo.

Ninguém esperava um "milagre", mas "é necessário começar", disse o ministro turco em Antália, citando a perspectiva de uma cúpula presidencial entre o russo Vladimir Putin e o ucraniano Volodimir Zelensky.

Após duas semanas de guerra sem Moscou ter traduzido sua superioridade militar em uma vantagem significativa, "nem Rússia nem Ucrânia estão atualmente prontas para um compromisso", disse Oleg Ignatov, analista da Rússia da empresa International Crisis Group à AFP.

"Ambos os campos veem o cenário militar como o cenário principal: a Ucrânia não está perdendo a guerra e a Rússia não está vencendo", resume. "Nesta situação, os combates vão continuar" e "tudo vai depender do que acontecer no terreno", prevê.

Em um contexto em que até a abertura de corredores humanitários causa polêmica, "é difícil discutir uma resolução do conflito, seja ele qual for, nem mesmo um cessar-fogo", diz Natia Seskuria, pesquisadora georgiana do Royal United Services Institute de Londres.

"Há muita mitologia sobre a diplomacia, mas a diplomacia nunca é uma alternativa ao equilíbrio de forças", diz Michel Duclos, ex-embaixador francês na Síria.

Moscou mostra "uma concepção de diplomacia que consiste em fazer o outro ceder e isso é uma diplomacia de ultimato", afirma. "Estamos numa fase em que os russos dão uma pá de cal e outra de areia, mas continuam na aproximação do ultimátum (ultimato)", afirma.

Do ponto de vista russo, negociações como as que aconteceram em Antália buscam "atingir a moral dos ucranianos, criar um pouco de confusão para o mundo e para os ucranianos ao mesmo tempo", avalia o ex-diplomata.

Para Natia Seskuria, a Rússia, cujo ministro das Relações Exteriores garantiu em Antália que não atacou a Ucrânia, também está tentando convencer a opinião pública de que não há alternativas para o uso da força.

"A Rússia procura um pretexto para poder dizer que tentou a diplomacia, mas que a diplomacia falhou porque a Ucrânia rejeitou as suas exigências" e "justifica assim futuras ações militares", avalia o especialista.

Mesmo assim, esse tipo de reunião permite que ambas as partes calibrem suas forças, ressalta Oleg Ignatov. "A Ucrânia espera poder parar a operação militar russa por meios diplomáticos", enquanto a Rússia "quer entender qual é a posição ucraniana".

Eles cumprem uma "função de teste", concorda Michel Duclos. Aos olhos de Moscou, essa fórmula teria "a vantagem de dar a impressão de que há um processo de paz e excluir os ocidentais", completa.

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