Liberais se tornam inevitáveis nas negociações pós-eleitorais na Alemanha
Com 11,5% dos votos nas eleições de domingo, o Partido Liberal (FDP) deixa claro que obteve muito mais do que um quarto lugar.
11:43 | Set. 27, 2021
Os liberais alemães voltam ao primeiro plano da política e estão emergindo como um componente inevitável na coalizão pós-Merkel. Mas até onde essa formação, próxima da direita, está disposta a ir para governar com os ambientalistas, seus "rivais favoritos"?
Com 11,5% dos votos nas eleições de domingo, o Partido Liberal (FDP) deixa claro que obteve muito mais do que um quarto lugar.
Junto com os Verdes (14,8%), o partido será o "fazedor de chanceler" nas longas negociações para constituir uma maioria.
Ecologistas e liberais podem decidir aliar-se tanto aos social-democratas (SPD), que avançaram, quanto aos conservadores da aliança CDU/CSU, que também querem formar um governo.
Os dois partidos menores têm o destino dos maiores em suas mãos. Desde que consigam superar suas próprias diferenças.
Inflexível quanto a ortodoxia orçamentária, hostil aos aumentos de impostos e regulamentação do Estado, a linha política do FDP parece muito difícil de conciliar com a dos Verdes, que querem aumentar o salário mínimo, tributar os mais ricos e investir bilhões de dólares na transição ecológica.
Esta situação parece algo "já visto" pelo líder da formação, Christian Lindner, que nas eleições de 2017 se inclinou a formar uma aliança "Jamaica" com conservadores e Verdes, nomeada assim pela coincidência de suas cores com as da bandeira do país caribenho (preto, amarelo e verde).
No entanto, após várias semanas, o FDP abandonou as negociações sem avisar, afirmando "que era melhor não governar do que administrar mal".
Esta decisão mergulhou a Alemanha em uma crise política sem precedentes, atrasando a formação de um governo por vários meses.
Quatro anos depois, a situação mudou. Os liberais "parecem muito ansiosos para ingressar no governo", diz Paul Maurice, especialista em Alemanha do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI).
Lindner, um ex-consultor de 42 anos, fez um gesto aos Verdes na noite de domingo: "O próximo governo será marcado pela ecologia, é um desejo claro da sociedade", disse ele.
Embora tenha reconhecido que "são os Verdes e o FDP que mantêm mais divergências e devem iniciar as negociações".
Mensagem bem recebida pela líder ambientalista Annalena Baerbock, que também sugere que as dois comecem a conversar.
A lacuna entre o partido preferido do setor empresarial e os ambientalistas é um obstáculo difícil de transpor, segundo observadores.
"Por muitos anos, os Verdes foram os adversários preferidos dos liberais", noticiou o jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung nesta segunda-feira, lembrando que os "Grünen" são frequentemente criticados pelo FDP como o "partido das proibições".
Christian Lindner, fã de Porsche que ingressou no FDP aos 16 anos, no qual assumiu a liderança aos 34, não esconde sua ambição: tornar-se ministro das Finanças da maior potência econômica da Europa.
Para os Verdes, uma espécie de "casus belli".
Em nível regional, ambos os partidos encontraram certos pontos em comum e governam em conjunto em dois Länder (estados), Renânia-Palatinado (oeste), liderado pelo SPD, e Schleswig-Holstein (norte), pela CDU.
São também os preferidos dos jovens, que elogiam a sua abertura em termos sociais (família, direitos das minorias, liberdades individuais...).
Verdes e liberais foram a maioria entre os que votaram pela primeira vez.
Esta nova popularidade do FDP é um crédito atribuível a Lindner. Ele deu um novo impulso ao partido, que havia recuado para 4,8% dos votos nas eleições legislativas de 2013.
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