Japão se compromete a alcançar a neutralidade de carbono em 2050

O caminho para conquistar a meta será árduo devido à dependência de carvão do país.

08:31 | Out. 26, 2020

O primeiro-ministro do Japão, Yoshihide Suga, usando uma máscara facial, toma seu assento antes de uma sessão extraordinária da câmara baixa no parlamento para fazer seu primeiro discurso político em Tóquio em 26 de outubro de 2020 (foto: AFP)

O Japão tem a intenção de alcançar a neutralidade das emissões de carbono até 2050 - anunciou o primeiro-ministro Yoshihide Suga nesta segunda-feira, 26.

 

O caminho para conquistar a meta será árduo devido à dependência de carvão do país.

 

"Declaro que vamos reduzir (as emissões) de gases do efeito estufa a zero até 2050, pensando em uma sociedade neutra em carbono", afirmou Suga em seu primeiro discurso de política geral no Parlamento japonês desde assumiu o poder em setembro.

 

O plano estabelece um prazo concreto para os compromissos do Japão na luta contra a mudança climática. Até o momento, o país havia comunicado apenas a intenção de alcançar neutralidade de carbono na segunda metade do século XXI.

 

O novo objetivo coloca o Japão na mesma linha de tempo que a Europa e o Reino Unido, e uma década antes que a China, que no mês passado estabeleceu o prazo até 2060.

 

O primeiro-ministro não mencionou um calendário preciso para alcançar o equilíbrio entre as emissões de gases causadores do efeito estufa e sua absorção, mas ressaltou a importância da tecnologia.

 

"A chave é a inovação", declarou Suga, mencionando, em particular, as baterias solares de nova geração.

 

O Japão vai promover o uso de energias renováveis e a energia nuclear, completou o primeiro-ministro, insistindo na importância da segurança em um país marcado pela catástrofe nuclear de Fukushima em 2011.

 

Provocado por um terremoto seguido por um tsunami, o incidente motivou a suspensão das atividades dos reatores nucleares em todo país, o que aumentou a dependência das energias fósseis, como o carvão.

 

Terceira economia mundial e signatário do Acordo de Paris de 2015, o Japão era, em 2018, o sexto principal emissor de gases do efeito estufa, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE).

 

O país é, com frequência, criticado por sua política de construção de novas centrais de carvão em seu território e também por financiar projetos no exterior, como no Sudeste Asiático.

 

As 140 centrais de carvão representam quase um terço de sua produção de energia elétrica. O carvão é a segunda fonte de produção de eletricidade mais importante, depois do gás natural liquefeito (GNL), cujas instalações fornecem 38% da energia elétrica do país.

 

O novo objetivo estruturará o plano básico de energia do Japão, que atualmente está sendo revisto.

 

O plano mais recente, publicado em 2018, destacava que entre 22% e 24% das necessidades energéticas do país deveriam ser abastecidas por energias renováveis, como a eólica ou a solar, até 2030, um prazo considerado pouco ambicioso por muitos.

 

O programa também previa que a energia nuclear deveria cobrir mais de 20% das necessidades energéticas do país até 2030.

 

Após o anúncio de Suga, a ONG Greenpeace celebrou o compromisso, mas advertiu que o objetivo não deve representar um aumento da dependência da energia nuclear.

 

"A neutralidade de carbono não é mais um sonho distante, é um compromisso necessário a respeito do Acordo de Paris e, neste sentido, felicitamos o primeiro-ministro Suga por esta declaração", disse a diretora-executiva do Greenpeace International, Jennifer Morgan.

 

"É um objetivo muito ambicioso", opinou Daisuke Tanaka, especialista do Instituto de Pesquisa Daiwa.

 

Suga "fez uma declaração clara. Agora, o Japão deve cumprir sua promessa, não há como escapar".