"Barata gigante" descoberta na Indonésia também pode ser encontrada no Ceará, entenda

A espécie encontrada pelos especialistas é nova, mas pertence a um gênero que pode ser visto em algumas regiões do Brasil

06:49 | Jul. 23, 2020

Nova espécie de barata do mar encontrada na Indonésia (foto: Instituto de Ciências da Indonésia (LIPI).)

Cientistas da Indonésia descobriram, nesta quarta-feira, 22, um crustáceo enorme no fundo do mar e o chamaram de “barata gigante” por conta da semelhança com o inseto, segundo reportagem da BBC Brasil. A espécie encontrada pelos especialistas é nova, mas pertence a um gênero que pode ser visto em algumas regiões do Brasil, como no Ceará.

Segundo reportagem, a criatura encontrada na Indonésia é um crustáceo grande, cujo corpo é achatado e duro, vindo da família dos “tatuzinhos-de-jardim”. Essa é a característica do gênero Bathynomus, que tem pelo menos sete espécies identificadas pelo mundo e podem atingir até 50 centímetros quando na fase adulta.

Encontrada no Estreito de Sunda, entre as ilhas indonésias de Java e Sumatra e sob profundidades de até 1.259 metros abaixo do nível do mar, a nova “barata gigante” foi identificada como um Bathynomus da espécie raksasa, que significa "gigante" na língua indonésia.

Apesar do espanto dos cientistas, que nunca haviam encontrado esse animal naquela região, o crustáceo é relativamente comum em alguns países como o Brasil, segundo afirma Luis Ernesto Arruda, professor do Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará (Labomar-UFC).

Giganteus, Miyarei e Obtusus são as três espécies do gênero que já foram reportadas no País, encontradas entre 230 e 850 metros de profundidade. O especialista explica que essas criaturas podem ser achadas desde próximo à linha do equador até cerca de 29° Sul.

A “barata gigante” no Ceará e sua “ameaça”

No Ceará, as únicas espécies reportadas oficialmente na região foram a myiarei e a giganteus, localizadas próximo à costa cearense. O tipo obtuso, segundo especialista, já foi encontrado em águas no norte do Brasil e em Pernambuco, por isso ele acredita na possibilidade de que a espécie também exista no Estado, apesar de nunca ter sido oficialmente encontrada.

Atualmente, três indivíduos das espécies B. giganteus e B. miyarei, coletados na costa do Ceará, compõe a coleção carcinológica do Labomar. Os exemplares são estudados por pesquisadores do instituto, que funciona como laboratório voltado para ciência marítima. 

Professor Luis segura um dos exemplares da <aspas>barata gigante<aspas> que está no Labomar (Foto: Ribamar Neto/ UFC)

Apesar do tamanho gigante, as espécies de  Bathynomus parecem ser inofensivas. Segundo Luis, elas se alimentam de matéria orgânica em decomposição, como restos de peixes, lulas ou ainda esponjas, moluscos, corais e outros pequenos crustáceos que se encontram no fundo do mar. 

Em relação ao termo "barata gigante", Luís salienta que é incorreto se referir ao animal dessa forma, pelo fato dele não ser um inseto, mas um crustáceo da ordem isopoda. As criaturas também se diferem de outros crustáceos como os camarões, os caranguejos e as lagostas, uma vez que esses são da ordem decapoda.

O pesquisador cearense é ainda um dos editores da revista Zookeys, material científico de acesso livre e revisão por pares de zoologia, taxonomia, filogenia e biogeografia, que deu base a reportagem da BBC.