Secretário-geral da ONU recebe Prêmio Carlos Magno

00:01 | Mai. 31, 2019

Chamado de "utópico pragmático", o português António Guterres é homenageado por sua contribuição para a integração europeia. Em discurso, ele pede por uma Europa mais forte a fim de evitar uma "nova Guerra Fria".O secretário-geral da ONU, António Guterres, recebeu nesta quinta-feira (30/05) o Prêmio Carlos Magno de 2019, que desde 1950 homenageia personalidades que contribuíram para a integração europeia e para a cooperação entre os países do continente. A Associação Carlos Magno da cidade alemã de Aachen, que concede anualmente a premiação, considera que o trabalho de Guterres à frente da ONU honra valores europeus como a paz, liberdade e democracia, e se torna ainda mais significativo considerando os desafios aos direitos universais e aos princípios democráticos nos dias atuais. Tais desafios apenas aumentaram desde que o português de 70 anos sucedeu Ban Ki-moon na chefia da ONU, no início de 2017. "Me sinto muito honrado", disse Guterres ao receber o prêmio em Aachen. "Sempre serei leal aos mesmos valores que me inspiraram a tentar construir uma Europa unida e democrática, onde devem prevalecer os direitos humanos." Em seu discurso, o português destacou a importância de uma União Europeia (UE) forte e unida. "Se queremos evitar uma nova Guerra Fria, se queremos uma verdadeira ordem multilateral, então precisamos ter os estados unidos da Europa como um forte pilar para isso", declarou. Ele acrescentou que a UE é um organismo importante demais para fracassar. "O fracasso da Europa seria inevitavelmente o fracasso do multilateralismo e o fracaso de um mundo onde o Estado de Direito pode prevalecer." Formado em Física e Engenharia Elétrica pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa, Guterres aderiu ao Partido Socialista (PS) do líder Mario Soares após a Revolução dos Cravos de 1974, e coordenou o escritório da Secretaria de Estado da Indústria até 1976, quando foi eleito para o Parlamento português. Entre 1980 e 1981 ele atuou na Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, onde se envolveu em políticas sobre a migração. Ao final dos anos 1980, assumiu a liderança da bancada parlamentar do PS e, em 1992, se tornou o líder da legenda. Em outubro de 1995, se tornaria primeiro-ministro de Portugal. Seu período como chefe de governo foi marcado pelo equilíbrio e capacidade de promover o diálogo, ao formar um governo de minoria, através do qual conseguiu administrar o país mantendo boas relações com os demais grupos políticos. Em seu governo, Portugal se tornou um dos onze Estados-membros da União Europeia a introduzir a moeda comum, o euro, no dia 1º de janeiro de 1999. Guterres, que costumava ser caracterizado na imprensa como um "utópico pragmático", é um dos idealizadores da chamada estratégia de Lisboa, que visa transformar a UE numa das principais zonas econômicas do mundo. Mais tarde, ele se dedicaria a atuar no contexto internacional e se tornaria assessor sobre questões sociais no Brasil do então secretário-geral da ONU Kofi Annan, que o indicaria em 2005 para chefiar o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur). Sob Guterres, a agência conseguiu se expandir significativamente, chegando a um orçamento anual de 6,1 bilhões de euros, com 9 mil funcionários em 123 países até sua saída, em 2015. Guterres manteve uma postura crítica aos países mais ricos durante o acirramento da crise global dos refugiados com a guerra civil na Síria, denunciando as péssimas condições dos migrantes sírios e a falta de ação por parte das nações mais desenvolvidas. O tema da migração, assim como as mudanças climáticas, continuou no foco de Guterres em sua atuação como secretário-geral. Ele conseguiu estabelecer acordos sobre refugiados e migração que foram aceitos pela maioria dos estados-membros da ONU, em plena era de avanço do nacionalismo. As regulamentações propostas pelo secretário-geral visam melhorar a cooperação internacional nesses temas, ainda que não sejam legalmente obrigatórias. Guterres denunciou o sofrimento da etnia rohingya sem, no entanto, possuir meios de agir contra a violência promovida pelo governo de Myanmar. Ele também conseguiu promover o diálogo entre as duas partes do conflito no Iêmen. Ambas as crises ainda permanecem não resolvidas, assim como muitos outros conflitos mundo afora. Guterres continua a trabalhar pela implementação da Agenda 2030 da ONU para o desenvolvimento sustentável, que almeja criar uma parceria global para eliminar a pobreza e reduzir a desigualdade e, ao mesmo tempo, combater as mudanças climáticas. Ele planeja ainda reformar o modo de trabalho da secretaria-geral da ONU para deixá-la com maior capacidade de agir. No ano passado, o vencedor do Prêmio Carlos Magno foi o presidente francês, Emmanuel Macron. Em 2017, foi agraciado o historiador britânico Timothy Garton Ash e, no ano anterior, a distinção foi concedida ao papa Francisco. ______________ A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App | Instagram | Newsletter