Técnica de Simone Biles e Nadia Comaneci evita comparação entre as duas ginastas

06:20 | Ago. 18, 2016

Aos 73 anos, Martha Karolyi se despediu da ginástica artística nos Jogos Olímpicos do Rio mostrando ao mundo mais uma de suas obras-primas: a (quase) perfeita Simone Biles. Coordenadora técnica da equipe norte-americana desde 2001, a romena foi fundamental para a instaurar a supremacia do país na modalidade.

Martha não apenas ajudou os Estados Unidos a colecionar medalhas, como desenvolveu um trabalho de base e deixou um enorme legado. Em conjunto com o marido Bela, transformou boas ginastas em campeãs olímpicas. A popularidade tinha motivo, o casal Karolyi estava por trás do �dez perfeito� de Nadia Comaneci nos Jogos de Montreal, em 1976.

Quarenta anos depois, Martha evita comparar o talento de Simone ao da ex-pupila. �São duas eras diferentes. Nadia chegou o mais perto que podia da perfeição, mas certamente as competências que mostrou não eram tão difíceis quanto às exigidas atualmente porque tudo está evoluindo�. Ainda assim, vê um ponto em comum entre elas: �São duas ginastas de altíssimo nível, quase fenomenais. Nadia influenciou a ginástica que era feita na época e talvez Simone possa ter o mesmo impacto�.

Capaz de identificar o potencial das atletas à distância, Martha aponta o que diferencia Simone das demais: �� uma ginasta extremamente forte e sempre foi muito elástica, essas características físicas combinadas com a força mental e a habilidade de se concentrar fazem dela um talento. Ela costuma trabalhar muito bem sob pressão. Com bons técnicos e a preparação certa, dará resultados�. Tem outro diferencial: o sorriso que abre ao fim de cada apresentação.

Com 1,45 metros de altura e 47 kg, Simone vem revolucionando a ginástica artística e só não é imbatível, ainda, em um aparelho, as barras paralelas assimétricas. Mas a união de potência física com incrível domínio dos movimentos faz com que ela destoe das outras competidoras. Aos 19 anos, é dona de 10 medalhas de ouro em Mundiais.

O talento precoce foi descoberto por acaso quando a ginasta tinha apenas seis anos. Em um passeio de sua escola em um centro esportivo de ginástica artística, mostrou naturalidade nos exercícios e impressionou. Não demorou muito para ser convidada a participar das atividades no local.

SUPERA��O - A menina mostrou paixão pelo esporte desde o início. Talvez aquela prática esportiva a ajudasse a esquecer as turbulências da infância. Quando tinha três anos, Simone foi entregue ao serviço social dos Estados Unidos junto com a irmã Adria. A mãe, Shanon, era dependente de drogas e álcool e não conseguia cuidar da família. O pai, ausente.

O avô materno, Ronald, e sua segunda mulher, Nellie, decidiram tomar conta das meninas. Os dois irmãos mais velhos foram viver com a tia. Passou a morar em Spring, subúrbio perto de Houston, no Texas. Dois anos após entrar para a ginástica, Simone foi descoberta por Aimee Boorman, que é sua treinadora até hoje. Para ser uma das melhores do mundo, optou por estudar em casa, em 2012. A carga de treinos chegava a 32 horas semanais.

A atleta conquistou quatro ouros no Rio: por equipes, individual geral, saltos e solo, além do bronze na trave - que, na opinião de Martha, mostra que Simone é um ser humano. Foi só o primeiro passo de uma carreira que tem tudo para ser lendária.