Chuva de meteoros das Perseidas - mais informação e menos frustração
Voluntários da Bramon - uma rede de observação e monitoramento de meteoros - escrevem sobre a Perseidas, a chuva de meteoros que pode ser observada na madrugada desta sexta-feira. O artigo foi escrito por Gabriel Gonçalves e enviado pela leitora Christine Leão
12:07 | Ago. 11, 2016

Gabriel Gonçalves
Muitos já podem ter se deparado com manchetes que garantem uma “explosão de meteoros no céu”, ou notícias de que ocorrerá uma “chuva de meteoros que ficará para os livros de história”. Não é de hoje que vemos nas redes sociais e portais jornalísticos algumas manchetes e notícias cheias de sensacionalismo, pautadas em estratégias de clickbait, para apenas atrair cliques e gerar volume de tráfego nos sites. As matérias, porém, são de baixa qualidade, apresentam grande quantidade de informações errôneas, distorcidas, não verificadas, muitas vezes copiadas e coladas outras vezes traduzidas automaticamente por programas e resumidas em poucas linhas mal escritas. No caso de notícias ligadas a fenômenos astronômicos, a desinformação causada por manchetes como essas faz com que muitas pessoas sejam atraídas e instigadas para observar algo grandioso, mas rapidamente são levadas a uma grande frustração já que as altas expectativas nunca são alcançadas. No caso das chuvas de meteoros isso não é diferente. Graças ao anúncio da NASA de que a chuva de meteoros das Perseidas desse ano terá uma Taxa Horária Zenital duas vezes maiores que a de costume, muitos sites já passaram a divulgar a notícia carregada de conteú do sensacionalista. Novamente a desinformação poderá levar muitos entusiastas a se decepcionem com o que vão conseguir observar. Tentaremos aqui informar e esclarecer um pouco sobre os fatos a cerca das chuvas de meteoros, a chuva de meteoros das Perseidas e sua excepcionalidade esse ano.
Entendendo as chuvas de meteoros
Cada vez que um cometa se aproxima do sol ele produz grande quantidade de grãos de poeira predominantemente de composição rochosa que acaba por se espalhar ao longo de toda a sua órbita. Assim, forma-se nessa órbita e nas suas proximidades uma região com um grande fluxo de material particulado. Se a órbita da Terra e a órbita do cometa se cruzam em algum ponto, a Terra irá atravessar este fluxo durante alguns dias mais ou menos na mesma data todos os anos, produzindo um aumento no número de meteoros, conhecido como chuva de meteoros. Como os grãos de poeira estão todos viajando em caminhos paralelos e na mesma velocidade, eles parecem irradiar a partir de um único ponto no céu quando visto por um observador situado na Terra. Este ponto é chamado de radiante e é causado pelo efeito de perspectiva semelhante a quando observamos uma linha de trem ou uma estrada convergindo em um único ponto no horizonte quando estamos exatamente sobre ela. A chuva de meteoros é nomeada a partir da constelação onde se encontra o radiante no momento de máximo da chuva (no caso das Perseidas, o radiante está na constelação de Perseu), ou, quando há mais de uma chuva com um radiante em uma constelação, é nomeada a partir da estrela mais próxima do radiante (Delta Aquarídeas e Eta Aquarídeas são chuvas cujo radiante está mais próximo respectivamente das estrelas Delta e Eta da constelação de Aquáario).Da mesma forma que a inclinação aparente do Sol no céu (aparente já que quem está inclinado é o eixo da Terra) faz com que sejamos atingidos por um maior ou menor fluxo de raios solares durante o ano - gerando assim as estações -, a posição do radiante no céu faz com que regiões do planeta vejam um maior ou menor fluxo de meteoros, como mostrado na foto abaixo.
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As pessoas situadas logo abaixo do radiante verão uma maior quantidade de meteoros enquanto pessoas mais afastadas do radiante verão uma quantidade menor de meteoros.Aqueles logo abaixo do radiante irão ver meteoros cujos rastros parecerão ser mais curtos já que eles se movem na direção do observador. Enquanto isso para aqueles mais afastados do radiante maiores serão os rastros produzidos por esses meteoros devido ao menor ângulo entre a direção do movimento do meteoro e o solo. Isso pode gerar os chamados Earthgazers, meteoros que cruzam o céu em uma direção perpendicular ao chão, podendo assim percorrer grandes distâncias no céu. Infelizmente, quase a totalidade das grandes chuvas de meteoros apresenta o radiante posicionado sobre o hemisfério norte, fazendo com que nós, do hemisfério sul possamos ver um menor número de meteoros. No caso da chuva de meteoros Perseidas, o radiante está localizado a 57,6° em direção norte, fazendo com que ela seja de ruim visualização no Brasil.
Taxa Horária Zenital
Durante uma noite normal, em que não esteja ocorrendo uma chuva de meteoros, vemos os chamados meteoros esporádicos. A taxa de meteoros esporádicos pode variar muito de cerca de 2 a até 16 meteoros por hora. Além disso, a sua visualização pode depender muito das condições climáticas e da presença ou não de fontes luminosas que possam ofuscar os meteoros (por exemplo, luzes de cidades, luz da Lua ou de outras fontes).Já a taxa de meteoros durante as chuvas pode ser estimada graças à avaliação da densidade de partículas no rastro deixado pelos cometas o qual a Terra vai atravessar. Para quantificar o número de meteoros previstos, foi estipulado um valor conhecido como Taxa Horária Zenital (ZHR em inglês), que corresponde ao que seria observado em condições perfeitas e ideais: o céu estando totalmente sem nuvens; a Lua não estando presente no céu (Lua em fase nova, por exemplo); não havendo nenhuma interferência de nenhuma outra luz, permitindo ao observador observar no limite da sua visão (enxergando meteoros até magnitude 6,5); e, o mais importante, o radiante estando posicionado exatamente sobre a cabeça do observador (ponto conhecido como zênite). Além disso, é importante ressaltar que a Taxa Horária Zenital corresponde ao momento de máximo da chuva, que geralmente ocorre durante o período de poucas horas de pico da mesma. A chuva pode se estender por vários dias, durante os quais é possível observar meteoros associados a ela a uma taxa muito inferior, sendo possível reconhece-los devido a sua direção, parecendo sempre partir do mesmo radiante. A Taxa Horária Zenital da chuva de meteoro das Perseidas é estimada em 100 meteoros por hora. Uma pessoa que não esteja acostumada com a terminologia poderia imaginar que é possível ver até 100 meteoros por hora durante a noite. Como foi dito, a Taxa Horária Zenital é estimada em condições perfeitas enquanto que as condições de observação são sempre muito longe das ideais. Por exemplo, para esta chuva, uma pessoa no hemisfério norte (mais próximo do radiante) observado durante o pico, estando situada no meio de uma zona urbana e sendo atrapalhada pela Lua cheia, deverá ver no máximo 10 meteoros por hora. Destaca-se que a influência das luzes de cidades, carros e até da Lua durante a observação é um dos principais fatores que reduzem o número de meteoros que são efetivamente avistados.
Além disso, a posição do radiante também é suma importância. Usando novamente o radiante a chuva de meteoro das Perseidas como exemplo, sabemos que o mesmo está posicionado a 57,6° norte. Um morador de Boa Vista, capital mais ao norte do Brasil (mais próxima do radiante), em condições ideais de escuridão no pico da chuva poderá ver apenas cerca de 20% do número de meteoros da estimado pela Taxa Horária Zenital.
Então, pelo que esperar?
Este ano, a grande sensação da chuva de meteoros das Perseidas é o fato de que a Terra deverá passar por uma região de maior densidade de partículas deixadas pelo cometa 109P/Swift-Tuttle, sendo que a Taxa Horária Zenital poderá alcançar 200 meteoros por hora no dia de pico, 12 de Agosto. Ainda que a ZHR prevista seja o dobro do normal, a chuva ainda não terá boa visibilidade no Brasil devido principalmente: à distância do radiante, que fica no hemisfério norte; às condições climáticas do inverno brasileiro; e à grande quantidade de luz das cidades (ainda que, felizmente, este ano a Lua não seja um problema). Ainda assim, é possível ver, com alguma sorte, alguns meteoros por hora associados a essa chuva, principalmente no norte do Brasil, sendo que, muitos desses meteoros que irão percorrer grandes distâncias no céu.Para observar chuvas de meteoros, é preciso encontrar lugares seguros que sejam afastados da luz de casas e cidades. Tente ficar deitado confortavelmente para evitar dores e outros incômodos enquanto observa o céu. É aconselhável levar alimentos, bebidas e roupas adequadas às condições climáticas da sua região. O melhor momento para observar é a partir da madrugada, quando a constelação de Perseu estará mais alta no céu (ela irá aparecer no leste, direção do céu para qual o Sol nasce). Tenha em mente que ainda que você tenha encontrado as melhores condições possíveis para observar a chuva, o número de meteoros será muito longe do máximo previsto. Ainda assim, com determinação e sorte, será possível observar alguns belos meteoros por hora.
Terminologia
Acho legal aproveitar a oportunidade também falar sobre o próprio termo “chuva de meteoros”. Alguns sites gostam de inovar e usam termos como “chuva de estrelas-cadentes”, “chuvas de estrelas” e “chuva de meteoritos”. Meteoro é o nome dado ao fenômeno luminoso oriundo do aquecimento gerado pela rápida passagem de um objeto pela alta atmosfera. Popularmente, meteoros também são chamados de estrelas-cadentes, ainda que, não haja relação entre os meteoros e as estrelas vistas no céu. Assim, ainda que o termo “chuva de estrelas-cadentes” não seria totalmente errado, é evitado para que não haja mal entendidos, enquanto que dizer “chuvas de estrelas” é errado. Meteoritos são fragmentos restantes de materiais rochosos e ferrosos vindos do espaço que alcançam o chão após atravessar a atmosfera terrestre. Assim, dizer que haverá uma “chuva de meteoritos” seria o mesmo que dizer que uma grande quantidade de fragmentos desse material iria cair em todo o planeta.
Fonte:
http://www.amsmeteors.org/meteor-showers/meteor-faq/
http://www.amsmeteors.org/meteor-showers/2016-meteor-shower-list/
http://www.amsmeteors.org/meteor-showers/meteor-shower-basics/
http://www.ankn.uaf.edu/curriculum/units/winds/activity4ii.html