Quando o coração partido vira doença
A sensação de aperto no peito após uma desilusão pode não ser apenas psicológica. A perda do parceiro eleva o risco de desenvolver uma arritmia cardíaca que pode ter consequências graves para a saúde, aponta estudo
14:51 | Abr. 12, 2016
Cientistas estudam há tempos a chamada síndrome do coração partido, caracterizada pela dor física e emocional causada pela perda de um cônjuge ou parceiro romântico, incluindo tensão no tórax, perda de apetite e insônia, por exemplo.
Agora, o novo estudo, realizado na Dinamarca, aponta que o risco de desenvolver fibrilação atrial permanece alto durante até um ano após a morte do companheiro. A condição pode provocar acidente vascular cerebral (AVC) e falência cardíaca.
Após coletarem informações de mais de 88 mil pessoas diagnosticadas com fibrilação atrial e mais de 886 mil pessoas saudáveis entre 1995 e 2014, os pesquisadores concluíram que esse risco é duas vezes maior em pessoas com menos de 60 anos de idade.
O risco também aumenta quanto mais inesperada foi a perda do parceiro. Aqueles cujos cônjuges ou companheiros estavam relativamente saudáveis no mês anterior à morte e, portanto, foram pegos de surpresa pela perda, apresentaram 57% mais chance de desenvolver arritmia cardíaca.
Entre os vários fatores que podem influenciar o risco de fibrilação atrial analisados estão o tempo decorrido desde o falecimento, a idade, o sexo, e condições subjacentes, como doença cardíaca e diabetes.
As chances de desenvolver arritmia cardíaca pela primeira é 41% maior entre os que sofreram perdas do que entre os que não sofreram, independentemente do sexo e de doenças complementares, aponta a pesquisa.
Ligação mente-coração
Apesar de o estudo ser observacional e uma relação de causa e efeito ainda não estar comprovada, os pesquisadores destacam que já se sabe que o luto aumenta o risco de doença cardiovascular, mental e até de morte. Segundo os cientistas, o stress agudo pode influenciar diretamente o ritmo dos batimentos cardíacos e desencadear a produção de substâncias químicas envolvidas em processos inflamatórios.
"Este estudo acrescenta evidências ao conhecimento crescente de que a ligação mente-coração é poderosa", disse Simon Graff, autor do estudo e pesquisador do Departamento de Saúde Pública da Universidade de Aarhus à revista Time.
Harmony Reynolds, cardiologista do Centro Médico Langone, em Nova York, também estudou a relação entre stress e o coração. À Time, ela afirmou que tal ligação é amplamente reconhecida pela comunidade médica, mas que ainda não se sabe exatamente o que fazer sobre ela.
"Não podemos evitar situações estressantes, mas pode haver formas de mudar a maneira como estresse afeta nosso corpo", disse Reynolds. A médica recomenda exercícios regulares, meditação e ioga e respiração profunda, que aumentam a atividade do sistema nervoso parassimpático.
AFP