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Pais de meninas sequestradas mantêm esperanças na Nigéria

08:28 | 14/04/2015
Última imagem das meninas sequestradas em ChibokUm ano depois, não há vestígios das mais de 200 estudantes raptadas no vilarejo de Chibok. Desespero cresce entre os pais, mas eles se negam a perder as esperanças. Há exatamente um ano, em 14 de abril de 2014, mais de 200 meninas foram sequestradas pelo grupo radical islâmico Boko Haram numa escola secundária no vilarejo de Chibok, no nordeste da Nigéria. Lawal Emos é o pai de uma delas. Ao falar sobre a filha, Comfort, de 17 anos, ele cerra o punho e pressiona os dedos. Ele prometera a si mesmo não chorar ao falar sobre a filha. Uma menina querida e determinada, diz. Emos já abandonou Chibok com a mulher e os demais cinco filhos. Como milhares de outras pessoas, eles procuraram refúgio na cidade de Yola, a 270 quilômetros de distância. Emos perdeu peso nos últimos meses. Na cidade, não há área de plantio à disposição do agricultor. A família sobrevive com doações esporádicas de amigos e da Cruz Vermelha. Indagado se teria uma foto de Comfort, o pai de família sucumbe às lágrimas. Sempre que vê o retrato da filha, Emos diz que o choro é inevitável. Por isso, ele deixou as fotos de Comfort em Chibok. Emos diz conhecer 12 mães e pais que morreram desde o sequestro de suas filhas. "O choro e o pensamento constantes nas filhas os mataram." Emos e sua esposa Hauwa depararam-se algumas vezes com a ideia de que seria mais fácil para eles se soubessem que a filha estava morta. "Eu perdi a esperança nos políticos, eles não fazem nada", explica Hauwa. "Só Deus pode nos ajudar a encontrá-la morta ou viva. Mas nosso governo: esqueça!" Meses se passaram, e nada aconteceu Três semanas depois do sequestro, o Boko Haram assumiu a autoria do ataque. A milícia vem aterrorizando o nordeste da Nigéria há seis anos. Inicialmente, eles se revoltaram contra o Estado corrupto, mas agora os seus objetivos são cada vez mais indefinidos. Milhares de aldeões foram mortos em ataques e atentados, sejam cristãos, sejam muçulmanos. Num de seus confusos discursos, o líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, afirmou que as meninas foram vendidas como escravas. Às declarações seguiu-se um clamor internacional. Pessoas de todo o mundo foram às ruas em prol das meninas de Chibok, e a hashtag #bringbackourgirls conquistou o Twitter. Os países vizinhos da Nigéria declararam guerra ao Boko Haram, os EUA enviaram assessores militares. Em 26 de maio, o comandante das Forças Armadas nigerianas, Alex Badeh, anunciou que o paradeiro das meninas era conhecido, mas que um ataque seria muito arriscado. Três meses após o sequestro, o presidente Goodluck Jonathan e sua esposa se encontraram pela primeira vez com os pais das meninas. "Ele disse: dentro de três semanas vocês vão ter as suas filhas de volta. E, dentro de três semanas, nós vamos reformar todas as escolas destruídas na região", recorda Emos. "As três semanas se passaram, depois vários meses e nada aconteceu." Em vez disso, o Boko Haram passou a atacar vilarejos quase diariamente. Os militares parecem impotentes. Repórteres estrangeiros só podem viajar para as regiões de crise com autorização especial dos militares. O porta-voz do Exército não gosta de repórteres estrangeiros. Desta vez, não foi possível ir até Chibok. Nem mesmo o presidente já esteve lá. "A confiança nas Forças Armadas nunca foi tão baixa" Em meados de outubro do ano passado, Badeh apareceu novamente perante a imprensa, afirmando que um cessar-fogo havia sido assinado e que as meninas teriam sido libertadas. Mais uma mentira. Pouco antes das eleições, o Exército da Nigéria iniciou repentinamente uma ofensiva com países vizinhos e, desde então, fez o Boko Haram recuar. Muitos nigerianos acreditam que o momento escolhido, em meio à campanha eleitoral, não foi acaso. "A confiança nas Forças Armadas nunca foi tão baixa", afirma o jornalista Umar Faruq Baba-Inna, de Yola. O clamor na internet arrefeceu, mesmo na Nigéria, e somente alguns ativistas ainda vão às ruas protestar pelas meninas de Chibok. Muitos observadores acreditam que altos oficiais militares estejam enriquecendo com o dinheiro do orçamento para a segurança e não tenham o menor interesse no fim do conflito. "O governo recém-eleito de Muhammadu Buhari tem muito trabalho pela frente para recuperar a confiança nos políticos e militares", diz Baba-Inna. Nos bastiões do terrorismo, o partido de oposição liderado por Buhari venceu claramente. Também Emos votou no ex-general, que prometeu esmagar o Boko Haram em apenas seis meses. O consultor político Edgar Amos, de Yola, tem dúvidas se Buhari encontrará as meninas de Chibok. "Já se passou um ano e elas estão em mãos de terroristas brutais e cruéis, que cometem barbaridades contra inocentes. Vendo a situação de forma realista, é difícil afirmar que encontraremos todas as meninas saudáveis." Um ano depois, os olhos de Emos ainda expressam otimismo, e ele ainda possui uma confiança e força impressionantes. E provavelmente continuará precisando delas nas próximas semanas e meses, talvez até nos próximos anos. Autor: Adrian Kriesch, em Yola (ca)Edição: Alexandre Schossler
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