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Há 200 anos nascia Otto von Bismarck, o "chanceler de ferro"

15:12 | 31/03/2015
Em 1º de abril de 1815 nasceu o futuro primeiro-ministro da Prússia e chanceler do Império Alemão. Uma figura ambivalente: para uns, promotor da paz e da justiça social. Para outros, pioneiro do militarismo germânico. Há um quadro que define a imagem que muitos alemães têm do político Otto von Bismarck (1815-1898): de uniformes escuros, generais e príncipes alemães se reúnem no salão de espelhos do Palácio de Versalhes, na França, e saúdam de braço estendido o imperador alemão Guilherme 1º. Contudo, quem está no centro geométrico da cena não é o monarca, mas Bismarck, ainda mais destacado por trajar uniforme branco. Essa tela de Anton von Werner representa de forma estilizada o 18 de janeiro de 1871, data oficial da fundação do Império Alemão, quando 25 estados foram unificados sob a liderança da Prússia. E atribui-se à política bismarckiana a façanha de, na época, superar a fragmentação da Alemanha em minúsculos estados. Por todo o país há homenagens ao "chanceler de ferro": monumentos, torres, ruas e até carvalhos foram batizados com o seu nome. Na escola, aprende-se que ele não só unificou a Alemanha, como, em sua gestão como reichskanzler, de 1871 a 1890, introduziu o direito ao voto e sistemas de seguridade social, incluindo os seguros de saúde, aposentadoria e contra acidentes. Mas há também quem veja em Otto von Bismarck e seu capacete de ponta o chanceler da guerra, um pioneiro do militarismo alemão. Afinal, somente com as guerras contra a Dinamarca em 1864, a Áustria em 1866 e a França em 1870-71 aplainou-se o caminho para a fundação do império. Na qualidade de primeiro-ministro da Prússia, Bismarck preparara politicamente todas essas três guerras. Além disso, com seus valores conservadores, ele é responsabilizado pela perseguição do Reich aos socialistas; por uma cultura parlamentar subdesenvolvida na Alemanha do fim de século 19 e início do 20; assim como pela criação de colônias alemãs na África e na Ásia. Super-herói ou arquivilão? "Bismarck precisa ser visto menos como superfície de projeção para uma avaliação positiva ou negativa da história nacional alemã", aconselha o historiador Christoph Nonn. Por ocasião do bicentenário do político, nesta quarta-feira (1º/04), o professor de Düsseldorf se ocupou intensamente com ele e sua época, publicando o resultado de suas pesquisas no livro Bismarck ein Preuße und sein Jahrhundert (Um prussiano e seu século). A fundação do Reich, por exemplo, não foi uma iniciativa puramente alemã e muito menos obra pessoal de Bismarck, aponta Nonn. "Desse prolongado e complexo processo participaram muitas instâncias, tanto na Alemanha como também no exterior, com o que elas fizeram ou deixaram de fazer. Por exemplo, ao não tentar impedir a unificação." O chanceler tampouco foi responsável pelas três guerras que antecederam a fundação do império. Nonn assegura que ele não era nem militar nem agressor, apostando, antes, em negociações. Seu colega Arnd Bauerkämper, da Universidade Livre de Berlim, concorda: foi somente em suas memórias, escritas em 1890, que Bismarck "se autoencenou um pouco como chanceler da guerra". Entretanto a legitimidade dessas guerras estava acima de qualquer dúvida para Bismarck, ressalva Bauerkämper. Por outro lado, ambos os historiadores enfatizam que o Império Alemão sob Bismarck não reivindicou novos territórios, mas perseguiu uma política moderada, a fim de se concentrar no desenvolvimento econômico interno. Colônias como instrumento interno Mas então onde se encaixa a política colonial nesse quadro? Bismarck não repetia sempre que o Império Alemão não precisava de colônias? E, mesmo assim, menos de 15 anos após a fundação do Reich, ele permitiu a criação dos assim chamados protetorados na África e na Ásia. "A questão não eram propriamente as colônias. Elas foram apenas um meio na luta pelo poder travada em Berlim", afirma Nonn. O conservador Bismarck queria enfraquecer os liberais, seus oponentes políticos, e o príncipe herdeiro Frederico, simpatizante deles. Os liberais tinham ligações com o Reino Unido, que ativamente mantinha colônias. Para criar uma fissura nessa aliança, em 1884 e 1885 o reichskanzler cedeu temporariamente ao clamor por colônias alemãs, que já se fazia ouvir há décadas. Contudo, em 1885 os liberais perderam as eleições, ficando politicamente debilitados. E o príncipe Frederico assegurou que seguiria associado ao chanceler conservador, mesmo depois da morte de seu pai, o imperador Guilherme 1º. "A partir daí, Bismarck encerrou imediatamente o episódio da política colonial", conta Nonn. Bauerkämper igualmente lhe atribui uma política colonial hesitante: "Com as colônias, ele queria evitar, e se possível equacionar, os atritos com as outras grandes potências europeias." Parlamento decorativo Na política interna, pelo contrário, mediação ou diálogo nem sempre estiveram no foco da política bismarckiana. Apesar de o Império Alemão fundado em 1871 ser uma monarquia parlamentarista, o Parlamento não tinha qualquer influência sobre a política do governo. O primeiro chanceler alemão até mesmo designava o movimento trabalhista em ascensão como "inimigo do Reich". Com a assim chamada "lei dos socialistas", ele baniu, na prática, os partidos social-democratas. Também a introdução dos seguros de saúde, aposentadoria e contra acidentes se deveu à rejeição de Bismarck ao movimento dos trabalhadores. "As reformas sociais visavam minar o apoio aos social-democratas, assegurando para o novo Estado alemão a lealdade da maioria da população e da classe trabalhadora em crescimento", analisa Bauerkämper. A fim de preservar o próprio poder e o da nobreza, a Constituição do Império Alemão não concedia direito de codeterminação ao Reichstag, o Parlamento. "Não se formou uma espécie de cultura do consenso parlamentar, de tomada de decisões entre os partidos", observa o historiador berlinense. Como Bismarck foi um dos autores da Constituição, seu biógrafo Nonn lhe atribui o fato de o Parlamento não ter arcado com qualquer responsabilidade política desde 1871 até a proclamação da República, em 1918. "Foi difícil se libertar dessa mentalidade de irresponsabilidade depois de 1918, quando o Reichstag passou a realmente ter poder na Alemanha. Essa foi uma hipoteca pesada para a democracia alemã, para a República de Weimar", diz Nonn. Paralelos com a Reunificação E, no entanto, políticos democraticamente eleitos da Alemanha recordam agora o nascimento, 200 anos atrás, do primeiro chanceler do Reich. Bauerkämper constata que, nos últimos 30 a 40 anos, a tendência tem sido rever positivamente a imagem de Otto von Bismarck. E Nonn traça paralelos entre a fundação do Reich e a Reunificação Alemã, em 1990. Em ambas as ocasiões circulava na Europa o medo de que a Alemanha voltasse a se expandir. Pois, assim como em 1871, o país assegurou também em 1990 que não faria exigências territoriais. "Praticou-se a mesma política de tranquilização dos vizinhos europeus", compara o autor de Um prussiano e o seu século. Para ele, o maior feito do "chanceler de ferro" na política externa foi, como responsável por ela, a partir de 1871, ter contribuído de forma decisiva para que o recém-fundado Império Alemão não travasse guerras por mais de 40 anos. Autor: Alexander Drechsel (av)Edição: Alexandre Schossler
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