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Livro afirma que Estado Islâmico construiu base quase invencível

09:53 | 07/02/2015

O grupo Estado Islâmico (EI) aprendeu com os erros do passado cometidos pelos movimentos jihadistas e estabeleceu uma base de apoio quase invencível dentro do Iraque e Síria, com apelo espetacular para muitos dos muçulmanos sunitas do mundo, revelou um novo livro.

Os autores de "Isis: Inside the Army of Terror (Estado Islâmico: dentro do exército do terror)", publicado neste mês nos Estados Unidos, conversaram com dezenas de combatentes e membros do grupo para compreender seu fascínio e como ele justifica suas táticas brutais. Isis é o acrônimo do Estado Islâmico em inglês.

Em uma entrevista por telefone à AFP, um dos autores, o jornalista de origem síria Hassan Hassan, declarou que é vital entender que algumas das crenças religiosas centrais do grupo foram amplamente difundidas.

"Apresenta-se como um movimento apocalíptico, falando sobre o fim dos dias, o retorno do califado e sua eventual dominação do mundo", explicou Hassan, que vive em Abu Dhabi, onde trabalha como pesquisador para um "think tank". "Essas crenças não estão à margem - elas são absolutamente dominantes. Elas são pregadas por mesquitas em todo o mundo, especialmente no Oriente Médio", disse.

"O Isis pega essas crenças existentes e as torna mais atraentes, oferecendo um projeto que está acontecendo agora", explicou, usando um nome alternativo para o EI. A pesquisa de Hassan junto com o co-autor Michael Weiss - um jornalista baseado nos Estados Unidos - deu a eles uma visão rara sobre o treinamento de novos recrutas do EI, que varia de duas semanas a um ano. "Os recrutas recebem formação militar, política e religiosa. Eles também são treinados em contra-inteligência para evitar infiltrações", disse Hassan.

"Depois de se formarem, os recrutas permanecem em observação e podem ser expulsos ou punidos se mostrarem hesitação, ou enviados de volta aos campos para fortalecer a sua fé", declarou.

O EI utiliza certos textos e clérigos para fornecer uma justificativa religiosa para a sua violência, particularmente um livro chamado "The Management of Savagery" (A Gestão da Selvageria, em tradução livre), que argumenta que a brutalidade é uma ferramenta útil para incitar o Ocidente a uma reação exagerada.

Os autores descrevem seis categorias de recrutas do EI
Apenas duas estão enraizadas na religião: elas incluem os ultrarradicais que dominam os escalões superiores do grupo e as pessoas que aderiram recentemente à sua ideologia extremista. Outros recrutas são apenas oportunistas que buscam dinheiro ou poder; pragmáticos que querem estabilidade e encaram o EI como a sua única chance; e os combatentes estrangeiros cujos motivos variam muito, mas "são quase sempre alimentados por equívocos graves sobre o que está ocorrendo no Iraque e na Síria".

A categoria final e mais importante de recrutamento é muitas vezes subestimada pelo Ocidente - os recrutas atraídos pela ideologia política do grupo. Muitos muçulmanos sunitas da região se sentem ameaçados por xiitas liderados por um Irã ressurgente. "Em toda a região, os xiitas estão confiantes, corajosos e em ascensão, enquanto os sunitas se sentem inseguros e perseguidos", disse Hassan. "Muitos discordam de Isis por razões éticas, mas o encaram como o único grupo capaz de protegê-los", explicou.

Os autores também ressaltam que o EI não é novo, mas surgiu das cinzas da Al-Qaeda no Iraque (AQI), um dos inimigos mais brutais dos americanos após a invasão de 2003. A AQI foi amplamente derrotada depois que os Estados Unidos convenceram tribos locais a se erguer contra ela - uma estratégia conhecida como "The Awakening" (O despertar), que influenciou profundamente as ações do EI. "Desde o início, eles estão obcecados com o 'Awakening'", disse Hassan.


"Eles fizeram de tudo para impedir que isso acontecesse novamente: construíram células adormecidas, compraram lealdade, dividiram comunidades", explicou.

"Eles conseguiram fazer com que uma resistência interna seja praticamente impossível. Nenhuma tribo vai combatê-los, porque acabará lutando contra seus próprios irmãos e primos", acrescentou.

Os autores também retratam o EI como uma vingança do regime do Partido Baath de Saddam Hussein mais de uma década depois que o ditador iraquiano foi derrubado do poder. Muitos dos principais tomadores de decisão do EI serviram no exército de Saddam ou nos serviços de segurança, afirma o livro. Embora os baathistas fossem originalmente um movimento secular, Saddam introduziu uma "campanha de fé" na década de 1990 que buscava islamizar a sociedade.

"Poucas pessoas se centraram no impacto desta campanha", disse Hassan. "Ela radicalizou muitos baathistas e eles combinaram a violência do regime com a do jihadismo, se tornando ainda piores que a Al-Qaeda". De fato, Osama bin Laden se desentendeu com o líder da AQI Abu Musab al-Zarqawi por sua brutalidade horrível e pelos ataques sectários contra muçulmanos xiitas. Zarqawi, que foi morto por um ataque com mísseis americano em 2006, era tão fanático que fazia Bin Laden parecer um moderado, e exatamente as suas ideias foram absorvidas pelo EI.

Hassan continua pessimista sobre os esforços ocidentais de contra-insurgência. "Continuo ouvindo este argumento de que você pode enfrentar o ISIS com propaganda, que esta é uma guerra de informação", disse. "Mas eles combinam religião, geopolítica, economia e muito mais na sua ideologia. Não é uma ideologia frágil - eles têm apelo de massa", completou.

AFP

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