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Novo governo grego terá que buscar consenso com credores

18:29 | 26/01/2015
Alexis Tsipras (dir.) na cerimônia de posse com o presidente Karolos PapouliasApesar da campanha eleitoral agressiva, primeiro-ministro Alexis Tsipras depende da ajuda da UE e do FMI para cumprir promessas. Por isso, economistas apostam que Atenas acabará chegando a acordo sobre dívidas. Os mercados europeus reagiram com tranquilidade à vitória eleitoral do Syriza na Grécia. O partido esquerdista, que alcançou quase maioria absoluta no pleito legislativo, formou governo com o populista de direita Gregos Independentes e conseguiu a nomeação de seu líder, Alexis Tsipras, como primeiro-ministro. Porém, apesar das palavras fortes da campanha eleitoral, provavelmente Atenas acabará por entrar em acordo com o bloco europeu, até por lhe faltar dinheiro para os primeiros programas sociais planejados. Logo após a vitória nas urnas, o Syriza anunciou que lançaria um programa social. Além de ajudar as famílias a pagarem seus gastos de energia e aluguel e elevar o salário mínimo, o objetivo é evitar o leilão compulsório de imóveis para os gregos incapazes de pagar suas hipotecas. As privatizações de empresas deverão ser igualmente suspensas. "O novo governo logo terá que encarar a realidade", prevê Jörg Krämer, economista-chefe do Commerzbank, em entrevista à DW. Segundo ele, todas essas medidas custam dinheiro, e os cofres de Atenas estão praticamente vazios: muitos contribuintes gregos deixaram de pagar suas dívidas com o fisco antes da eleição. "Segundo declarações não oficiais do Ministério das Finanças, em janeiro as arrecadações deverão ficar 1 bilhão de euros atrás da previsão orçamentária", afirma Krämer. Assim, espera o economista, será difícil para Atenas saldar os juros e amortizações relativas ao primeiro trimestre, que alcançam os 4,5 bilhões de euros. Especialistas alertam que, sem capital novo, o Estado deverá estar insolvente o mais tardar em meados do ano, quando estão previstos grandes pagamentos de dívidas. Em julho, Atenas tem que restituir 3,5 bilhões de euros a seus credores, e em agosto, 3 bilhões de euros. "Está claro que a Grécia continua dependendo do apoio de um programa de resgate. E isso significa também, óbvio, que só pode haver tal programa se os acertos forem respeitados", diz o presidente do Bundesbank (banco central alemão), Jens Weidmann, em entrevista à ARD. Perdas de ambos os lados À primeira vista, a posição de um governo encabeçado pelo esquerdista Syriza e a dos demais países da zona do euro parecem bem distantes entre si. "Não é de descartar que um dos lados superestime suas chances no pôquer, levando ao fracasso das negociações dos próximos meses", adverte Krämer. "Até porque o Syriza subestima o fato de que uma saída da Grécia não desestabilizaria a União Monetária como um todo." Ainda assim, é quase ponto pacífico entre os economistas que, após negociações a Grécia, e os países doadores devem chegar a um consenso, evitando a saída da zona euro. Pois isso acarretaria a falência estatal, com consequente acorrida aos bancos e caos econômico. Além disso, Atenas perderia as verbas do fundo estrutural da União Europeia, que ultrapassaram os 5 bilhões de euros em 2014. Por outro lado, os países doadores também devem se mostrar dispostos a um consenso, avalia Krämer: "Caso contrário, eles terão que explicar a seus eleitores que os créditos de ajuda para a Grécia estão perdidos ao contrário do que sempre se afirmou." Saída do euro arriscada Ao todo, a Grécia deve cerca de 250 bilhões de euros aos Estados doadores. Os créditos bilaterais concedidos por países isolados alcançam os 53 bilhões de euros; o Fundo Monetário Internacional (FMI) emprestou 35 bilhões de euros; o Banco Central Europeu (BCE) possui títulos soberanos gregos num valor estimado de 20 bilhões de euros. "Um acerto possível seria manterem-se as dívidas no papel, mas distribuindo melhor a carga do débito", propõe Krämer. Assim, explica, se poderiam estender os prazos de restituição, reduzir os juros e estabelecer períodos mais longos livres de amortização. O economista Thomas Straubhaar, da Universidade de Hamburgo, também crê num consenso final entre Atenas e os países a que deve. Afinal, o passado provou que, sozinha, uma política de austeridade rigorosa não é a saída para a crise grega. "Nas novas negociações, é preciso fazer as duas coisas: poupar, mas também crescer. Somente com uma política financeira e fiscal comum se alcançará uma solução duradoura", avalia o economista. O economista Michael Hüther, diretor do instituto alemão IW, mostra-se menos flexível. Ele insiste numa "aresta clara", ou seja, um curso consequente diante das nações da União Europeia em crise e não dispostas a reformas. "A linha definida deve ser mantida, mesmo que isso resulte em o país ter que abandonar da União Monetária Europeia", opina. No entanto, também caberia à política europeia definir claramente o procedimento legal para uma saída da zona do euro naturalmente como recurso extremo , a fim de amenizar ao menos um pouco as graves consequências econômicas. "A falta de uma regulamentação legal no momento forçaria uma saída desordenada e, portanto, extremamente danosa", adverte o diretor do IW. Autor: Rolf Wenkel (av)Edição: Rafael Plaisant
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