Ânimos exaltados e ataques marcam último debate

09:44 | Out. 03, 2014

Na luta para garantir vaga no segundo turno, Aécio Neves e Marina Silva intensificam críticas mútuas. Corrupção e economia são foco dos ataques a Dilma Rousseff. A três dias do primeiro turno, o último debate com todos os candidatos à Presidência da República, exibido nesta quinta-feira (02/10) pela Rede Globo, evidenciou uma das marcas desta campanha eleitoral: a agressividade. Em meio aos ataques mútuos dos presidenciáveis, sobrou pouco espaço para a discussão de propostas de governo. Corrupção a economia foram os principais temas abordados em momentos de tensão. Logo no início do debate, os recentes escândalos na Petrobras foram mencionados por Luciana Genro (Psol), em pergunta à Dilma Rousseff (PT). Luciana questionou se os desvios de dinheiro eram resultado de "acordos com a direita". Dilma se defendeu listando propostas contra a corrupção e afirmando ter demitido o ex-diretor da estatal, Paulo Roberto Costa. "Não são as alianças que definem corruptos. Há corruptos em todos os lugares. Ninguém está acima da corrupção, todo mundo pode cometer. As instituições é que devem investigar", disse. Em seguida, foi a vez de Aécio Neves (PSDB) e Pastor Everaldo (PSC) abordarem o tema. O tucano acusou Dilma de mentir sobre a demissão do ex-diretor da Petrobras. "Ela acaba de dizer que demitiu o diretor. Não é o que está na ata do conselho. Ali diz que ele renunciou ao cargo e recebeu elogios pelos serviços prestados", atacou. Em outro momento, Dilma respondeu que o governo havia pedido ao ex-diretor que entregasse uma carta de demissão. "É sabido que se dá sempre o direito da pessoa, no serviço público, de pedir demissão", acrescentou. Quando se confrontaram novamente, Aécio defendeu que o aparelhamento do Estado era "uma marca" do PT: "Não é a melhor forma de tratar alguém que assaltou os cofres da Petrobras. Faltou explicar quais foram os relevantes serviços prestados pelo diretor." "Demissão premiada" Marina Silva (PSB) também usou o tópico para criticar o discurso de Dilma sobre corrupção. "[Dilma] disse que deu autonomia ao Ministério Público, mas quem deu foi a Constituinte. A Polícia Federal é um órgão de Estado, não de governo, e faz suas investigações a duras penas", afirmou a ambientalista. Depois, em confronto direto com Dilma, Marina disse que a petista havia incentivado uma "demissão premiada", em referência à delação premiada de Paulo Roberto. Ela acusou a presidente de não se esforçar para pôr fim aos atos ilícitos na política. "Existe uma lei no Congresso Nacional que faz o combate de corrupção das empresas. Você tem o projeto de regulamentação na sua gaveta e até hoje não regulamentou." No embate, Dilma mencionou o caso de um funcionário, escolhido por Marina, que havia sido afastado do governo por corrupção. "O seu diretor, nomeado por você para a fiscalização do Ibama, foi afastado do meu governo por crime de desvio de recursos. E eu não saí por aí dizendo que você tinha acobertado a corrupção." Marina tentou responder, mas, sem direito à tréplica, foi repreendida pelo moderador ao tentar falar com o microfone desligado. Privatizações Com a mira apontada para o candidato do PSDB, Dilma voltou a levantar o tema privatização, acusando Aécio de querer privatizar a Petrobras. O candidato negou e disse que o seu partido havia acertado nas privatizações. "Imagina a telefonia de hoje na mão do PT, imagina a Embraer nas mãos de gente indicada pelo seu partido. No meu governo, a Petrobras será devolvida aos brasileiros", afirmou o tucano. Dilma rebateu, afirmando que, na gestão do PSDB, um funcionário havia dito que as privatizações estariam "no limite da irresponsabilidade". "Vocês entregaram a Caixa e o Banco do Brasil extremamente precários. Hoje, são bancos sólidos", disse. Autonomia do Banco Central A política econômica foi pivô de outro momento tenso, desta vez entre as líderes das pesquisas eleitorais, Marina e Dilma. "A senhora tem feito uma série de acusações sobre a autonomia do Banco Central, que inclusive a senhora defendeu em 2010. Agora a senhora diz que é contra. Qual Dilma está falando agora?", perguntou a ambientalista. A petista disse que Marina estava "deliberadamente" confundindo autonomia e independência, reiterando ser contra a autonomia formal do BC. "No seu programa está escrito de forma clara: independência. Somente os poderes podem ter independência. Eu sugiro que a senhora leia o que escreveram lá", devolveu. Em resposta, Marina desqualificou a trajetória política de Dilma. "Por não ter experiência política e ter virado presidente da República, não ter sido nem vereadora, (Dilma) confunde os poderes", acusou a pessebista. "Autonomia é para combater a inflação, que hoje está alta, e para que não haja interferência política de quem acha que manda em tudo." Dilma alegou que a inflação está controlada e afirmou que qualquer brasileiro com experiência e competência pode ser presidente. "É interessante, vindo de uma pessoa que defende a nova política. Quer dizer que uma pessoa que não fez a carreira vereadora, deputada, senadora não pode ser presidente? Onde isso está escrito? Não na nossa Constituição", rebateu. Inflação Aécio também usou a economia para criticar o governo petista. "A senhora acabou de nos brindar com uma pérola, de que a inflação está sob controle. Você também deve achar que o crescimento do país é adequado. A senhora fracassou na condução da política econômica?". Dilma respondeu que seu governo foi superior ao do PSDB e criticou Armínio Fraga, responsável pelas propostas econômicas de Aécio e ex-presidente do Banco Central no governo de Fernando Henrique Cardoso. Segundo ela, o governo tucano teve altas taxas de inflação, desemprego e juros. "Vocês tiveram a capacidade de colocar o Brasil de joelhos diante do FMI", atacou. Aécio rebateu afirmando que a inflação caiu de 916% para 7% durante o governo de FHC. "Nem a competência do seu marqueteiro João Santana é capaz de reescrever a história", concluiu. Programas sociais Outro ponto de atrito entre os principais candidatos foram os programas sociais, como o Bolsa Família. Marina prometeu expandir o programa e incluiu uma promessa nova: pagar um 13º salário aos beneficiários. "Vocês dizem que vão continuar os programas sociais do governo. Por que o povo iria acreditar que nós, que criamos os programas, não sabemos fazê-los, e vocês sim?", provocou Dilma. Em pergunta de Dilma sobre o programa "Minha Casa, Minha Vida", Aécio reconheceu o valor do programa de habitação do governo federal. "Os bons projetos devem ser aprimorados. Administração pública, Dilma, é copiar as boas ideias, aprimorá-las, reinventá-las, mas com generosidade, sem achar que descobriu a roda, que é dona de todos os projetos", afirmou. Aécio x Marina Apertados em segundo e terceiro lugar nas pesquisas, respectivamente, Marina e Aécio também protagonizaram embates. Em uma oportunidade de se dirigir à ambientalista, o tucano tentou associar Marina ao PT, seu antigo partido, estratégia já usada por ele durante a campanha. " Onde está a nova política?", questionou Aécio. Marina respondeu que a "nova política" seria, justamente, estar dentro de um partido sem se render ao que é "ilícito e ilegal". "Vossa Excelência também esteve em um partido que praticou o mensalão. E também permaneceu nele. Nunca vi vossa Excelência fazer crítica à origem do mensalão. A gente pode estar dentro de um partido e não compactuar com os erros que são cometidos", respondeu a ex-senadora. Aécio seguiu no ataque, afirmando que Marina nomeava políticos derrotados nas urnas para cargos no Ministério do Meio Ambiente, quando ela era titular da pasta prática classificada por ele como "velha política". Marina se defendeu, argumentando que há políticos "honrados e competentes" que perdem as eleições. Nanicos Os três principais candidatos não foram os únicos a protagonizar confrontos agressivos. Os chamados "nanicos" também foram responsáveis por momentos de grande tensão. Ao longo do debate, Luciana Genro e Eduardo Jorge (PV) também colocaram Dilma, Marina e Aécio contra a parede. Ao discutir com Aécio, Luciana chegou a dizer ao candidato que não levantasse o dedo para ela. No entanto, foi Levy Fidelix (PRTB) o principal alvo de Luciana e Eduardo Jorge no debate, que voltaram a confrontar o candidato com a temática gay. Fidelix foi muito criticado por suas declarações, no último debate, consideradas homofóbicas.