Malaysia Airlines não deve sobreviver ao segundo desastre, diz analista

11:41 | Jul. 18, 2014

Especialista em setor aéreo lembra que nunca na aviação uma companhia teve que lidar com duas tragédias em menos de cinco meses. Segundo ele, falta de confiança pode significar o fim da empresa em seu formato atual. A queda do Boeing 777 no leste da Ucrânia impôs um novo baque à companhia aérea Malaysia Airlines, que menos de cinco meses antes teve que lidar com o desaparecimento, até hoje não esclarecido, do voo MH370 e ainda enfrenta prejuízos financeiros por conta disso. Em entrevista à DW, o analista financeiro Mohshin Aziz, especialista em setor aéreo, diz que jamais na história da aviação uma companhia teve que lidar com dois desastres num espaço tão curto de tempo. A falta de confiança na Malaysia Airlines, afirma, já é uma realidade. E, aliada aos problemas financeiros, pode tornar impossível a sobrevivência da empresa em seu formato atual. DW: Como será o futuro da Malaysia Airlines após esse novo desastre? Mohshin Aziz: O futuro da companhia parece desastroso, e o recente incidente na Ucrânia vai tornar as coisas ainda piores. Eu não sei como a Malaysia Airlines poderá sobreviver num futuro próximo. Mesmo antes do incidente, nós já estávamos céticos de que a empresa poderia sobreviver mais que um ano com tanto prejuízo de até 1,56 milhão de dólares por dia. Acreditamos que a companhia, em seu formato atual de negócios, provavelmente estará falida até o fim do primeiro semestre do ano que vem. Que impacto o desaparecimento do voo MH370 teve para a companhia? Da perspectiva financeira, o impacto não parece tão grande cerca de 12,5 milhões de dólares. Esse foi o gasto para lidar com o acidente. Vale lembrar, porém, que grande parte das despesas é coberta por seguradoras. Talvez o mais importante seja o fato de que houve uma queda significativa nos preços das passagens, já que muitos não querem mais viajar com a Malaysia. Houve uma redução no número de passageiros? Uma redução pequena, mais na China e na Austrália. Nos outros países parece que as vendas de passagens continuam estáveis. Isso com base em números de abril e maio. Já havia acontecido antes uma combinação assim de tragédias? Não há precedentes em cem anos de história da aviação. Nenhuma companhia aérea teve que enfrentar o que a Malaysia Airlines está enfrentando agora: dois grandes desastres no intervalo de cinco meses. Por que você acha que as pessoas vão parar de viajar com a Malaysia? Muitas companhias passsaram por tragédias. E o que observamos é que as coisas costumam voltar ao normal quatro ou cinco meses depois. Mas estamos há apenas cinco meses de um grande desastre e agora temos outro. A impressão das pessoas sobre a companhia é negativa. Muitos asiáticos são supersticiosos e provavelmente vão evitar a Malaysia por acreditar que ela está amaldiçoada. Pode parecer exagero, mas, infelizmente, a percepção é baseada em coisas irreais. Vai demorar muito até que isso seja revertido. Qual é a importância da confiança no setor aéreo? É essencial. Sob circunstâncias normais, preço é tudo. Mas, se a percepção de segurança não estiver presente, você pode reduzir o preço o quanto quiser que a demanda continuará fraca. O que a Malaysia Airlines pode fazer para sobreviver? Primeiramente, acredito que os voos domésticos têm futuro. Os malaios ainda são apegados à companhia, independentemente do que aconteça. É provável que a empresa passe apenas a operar voos na Malásia. Ela vai precisar de dinheiro, mas vai sobreviver provavelmente. Internacionalmente, não vejo solução. A empresa está enfrentando prejuízos significativos com seu setor internacional e, após essas duas tragédias, os passageiros podem estar começando a buscar alternativas. Há grande concorrência no mercado, com pelo menos três ou cinco companhias fazendo a mesma rota.