Israel aconselha que 100.000 palestinos deixem suas casas

Os bombardeios já deixaram 212 mortos e mais de 1.500 feridos, em sua maioria civis

11:14 | Jul. 16, 2014

O exército israelense recomendou a 100.000 habitantes do norte da Faixa de Gaza, cenário de uma ofensiva israelense que deixou mais de 200 mortos, que abandonem suas casas "para sua própria segurança", o que, contudo, não resultou em um êxodo em massa de palestinos.

 No dia seguinte ao fracasso do cessar-fogo proposto pelo Egito, as forças armadas israelenses intensificaram os bombardeios contra o enclave palestino, a fim de fazer parar os disparos de foguetes contra Israel.

 Dezesseis palestinos morreram nesta quarta-feira em uma série de ataques israelenses no sul da Faixa de Gaza, incluindo quatro crianças.

 Vários bombardeios destruíram uma tenda em uma praia onde estava um grupo de crianças, a 200 metros de um hotel da cidade de Gaza, onde os jornalistas da AFP se encontram hospedados.

 Além disso, quatro membros de uma mesma família, entre eles um menino de 10 anos e uma senhora de 65, estão entre as vítimas.

 O exército realizou 40 ataques aéreos durante a noite, principalmente contra as residências de quatro líderes do movimento palestino Hamas.

 Os bombardeios já deixaram 212 mortos e mais de 1.500 feridos, em sua maioria civis.

 A medida afeta os habitantes de Zeitun, Shujaiya e Beit Lahiya. Eles receberam ligações telefônicas, mensagens SMS e panfletos, segundo um comunicado do exército. Vários correspondentes da AFP tiveram acesso aos panfletos em Zeitun, ao sudeste da cidade de Gaza.

 "Para sua própria segurança, solicitamos que abandonem suas residência imediatamente e compareçam a Gaza antes das 8H00 (2H00 de Brasília)", afirmam os panfletos.

 "Apesar do cessar-fogo, o Hamas e outras organizações terroristas continuaram lançando foguetes, muitos deles procedentes destas três zonas", explicam ainda as mensagens do exército, que garante "não quer fazer dano" aos habitantes destas cidades.

 Jornalistas da AFP no local não viram um êxodo em massa dos habitantes de Gaza, que não têm para onde fugir.

 "Eles jogam folhetos de suas aeronaves para dizer às pessoas que deixem suas casas. Mas para onde poderíamos ir? Melhor ficar aqui e morrer em nossas casas", disse Fassel Hassan, um residente do enclave palestino.

 "Onde nos abrigaríamos? Nas escolas? Elas já estão todas lotadas!", ressaltou.
Mais de 1,2 milhão de pessoas vivem nos 360 km2 da Faixa de Gaza, que tem uma das maiores densidades do planeta e uma taxa de pobreza de 39% da população. Além disso, as suas fronteiras marítimas e terrestres - com Israel e Egito - estão bloqueadas.

 O Hamas pediu à população de Gaza que não abandone seus lares. "É uma forma de guerra psicológica para atingir a frente" palestina", afirmou o movimento islamita.

 O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou terça-feira à noite que não tinha outra "escolha a não ser expandir e intensificar" sua campanha militar, após a rejeição do Hamas da trégua proposta pelo Egito.

 O Hamas rejeita qualquer trégua que não inclua um acordo completo sobre o conflito com Israel: fim dos bombardeios, fim ao bloqueio a Gaza, e a libertação de prisioneiros palestinos.

 Enquanto isso, o Estado judeu anunciou nesta quarta-feira que mil foguetes caíram em seu território em nove dias e 225 outros foram destruídos pelo sistema de defesa "Iron Dome". Quatro foram destruídos nesta quarta-feira em Tel Aviv, capital econômica de Israel.

 Na terça-feira houve a morte de um primeiro israelense, um civil de 37 anos que foi atingido por um foguete disparado a partir de Gaza, perto da passagem de Erez.

 Na frente diplomática, os atores ocidentais seguem fazendo campanha por uma trégua.

 A chanceler italiana Federica Mogherini, cujo país preside a União Europeia, está em Israel para "apoiar os esforços em favor de um cessar-fogo", segundo declarou após um encontro com o presidente israelense Shimon Peres.

 Já um líder do Hamas no Cairo se reunirá ainda nesta quarta-feira com um mediador egípcio para discutir a iniciativa deste país pelo fim das hostilidades.

 Além disso, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, deve viajar nesta quarta à capital egípcia para tratar a crise entre Israel e o Hamas.

AFP