PUBLICIDADE
Notícias

Usuários de crack chegam a 370 mil nas capitais brasileiras, dizem estudos

08:26 | 20/09/2013
Crianças e adolescentes somam 50 mil usuários, ou 13,5% do total calculado nas principais cidades do país e no Distrito Federal. Para governo, usuários devem ser considerados dependentes químicos e não criminosos. Mais de 370 mil pessoas são usuárias de crack ou outros derivados de cocaína (como pasta-base, merla e oxi) nas capitais do Brasil e 13% delas cerca de 50 mil são crianças e adolescentes. As regiões Nordeste e Sul concentram a maior proporção de usuários. Os dados foram apresentados em duas pesquisas divulgadas nesta quinta-feira (19/09), em Brasília: Perfil dos usuários de crack e/ou similares no Brasil e Estimativa do número de usuários de crack e/ou similares nas capitais do país. Na visão do governo responsável pelo programa 'Crack, é possível vencer' desde 2011 os usuários não devem ser considerados criminosos, mas precisam ser considerados como dependentes químicos que devem receber tratamento nos sistemas de saúde. "Não há sentido que viéssemos a tratar com sanções penais os usuários e privar os usuários de tratamento de saúde e da busca da sua reinserção", afirmou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, durante a apresentação das pesquisas. Características do usuário A primeira pesquisa traçou o perfil dos usuários através da realização de 7300 entrevistas individuais, além de testes de HIV e Hepatite C. Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) percorreram, entre o final de 2011 e junho deste ano, 26 capitais, o Distrito Federal, além de municípios das nove regiões metropolitanas federais. Já o estudo Estimativa do número de usuários de crack e/ou similares nas capitais do país utiliza metodologia que permite apresentar um número aproximado de pessoas que fazem parte das chamadas populações de difícil acesso ou ocultas, como é o caso dos usuários de drogas. Os dados foram coletados em 2012 nas 26 capitais e no Distrito Federal por meio de inquérito domiciliar com 25 mil pessoas. Para se chegar ao perfil, apenas usuários maiores de 18 anos foram entrevistados, o que revelou uma média de 30 anos de idade na população adulta que consome esse tipo de droga. Quase 80% deles são do sexo masculino, 80% são "não-brancos" e aproximadamente 40% dos usuários se encontram em situação de rua. Os 13,5% de usuários menores de idade representam aproximadamente 50 mil crianças e adolescentes que fazem uso dessa substância nas capitais do país. No norte e no nordeste do país está a maioria deles: cerca de 28 mil jovens. Denise Colin, secretária nacional de assistência social, reconheceu que, diante dos novos dados, é necessário um "direcionamento de ações mais especificas para cada um desses diagnósticos". Outro dado considerado preocupante pelas autoridades é o fato de mais de 70% dos usuários compartilharem os instrumentos para o consumo, comportamento que pode estar associado à transmissão de infecções, especialmente as hepatites virais. A gravidez durante o período de dependência da droga também é um dado alarmante nas pesquisas. Cerca de 10% das mulheres disseram estar grávidas no momento da entrevista e mais da metade já havia engravidado ao menos uma vez desde que iniciou o uso. A população de usuárias também relatou consumir maior quantidade da droga: em um mesmo dia, as mulheres consomem em média 21 pedras de crack, enquanto que os homens consomem 13. Cerca de 45% das mulheres usuárias de crack já sofreram violência sexual e quase 30% delas relataram receber dinheiro ou droga em troca de sexo. Acesso ao tratamento Os dados da pesquisa mostram que 80% dos usuários querem tratamento. Apesar da vontade, a oferta de vagas em centros específicos para esses distúrbios ainda são insuficientes. Helvécio Magalhães, secretário nacional de Atenção à Saúde, reconhece que há "dificuldade de execução por estados e municípios", o que acaba atrasando a abertura dessas vagas. "É preciso aumentar a rede e aproximar mais dos locais de maior concentração [de usuários]", admitiu Magalhães. Apresentada há alguns meses como uma saída pelos governos de grandes centros urbanos como São Paulo e Rio de Janeiro, a internação compulsória não é considerada eficiente pelos gestores federais, uma vez que a prioridade é manter a proximidade com a família e aplicar a chamada abordagem acolhedora. Vitore Maximiano, secretário nacional de Políticas sobre Drogas, classifica de "desnecessária" a medida. "Os índices de recuperação da internação compulsória são baixos", alerta.

TAGS